Uma série de erros da Petrobras contribuiu para o vazamento de 4 milhões de litros de óleo cru da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), em Araucária (Região Metropolitana de Curitiba), em 16 de julho do ano passado, no maior acidente ambiental do gênero já ocorrido no País. Essas falhas também levaram a um controle pouco eficiente das consequências do acidente, ampliando seus danos ambientais.
Essas são as principais conclusões de perícia realizada por três técnicos a pedido do Ministério Público Estadual e Federal, da qual a Folha obteve uma cópia. Elaborada pelo engenheiro de segurança no trabalho Zung Che Yee, o engenheiro florestal Sergio Ahrens e o biólogo Vinicius Abilhoa, essa perícia foi a base de ação judicial em que o Ministério Público cobra da Petrobras R$ 2,33 bilhões de indenização (leia reportagem nesta página).
No relatório, com mais de 150 páginas, os peritos apontam erros técnicos. O principal deles teria sido a colocação de um "tampão" improvisado no local de uma válvula de controle de pressão retirada de duto de passagem do óleo. O equipamento havia sido retirado 39 dias antes do acidente, no processo de automação do controle do sistema. A pressão provocou o rompimento do tampão e o vazamento do óleo bombeado.
Leia mais:
Cachorrinha com cinco filhotes para viatura da Polícia Civil e pede ajuda em Curitiba
Semana começa com 20,8 mil vagas de emprego no Paraná
Ceasa espera vender 4% a mais neste fim de ano em relação a dezembro de 2023
Mulheres na Ciência: professora da UTFPR é selecionada pelo CNPq
"Em condições normais, essa junta é parafusada ao duto...", afirma trecho do laudo. No local do acidente, o equipamento estaria "balançando e sem apoio, sob severo esforço, com sobrecarga". Na versão da Repar, a causa do rompimento teria sido a falha de um funcionário, que não teria aberto válvula para a passagem do óleo para um tanque de armazenamento.
Além disso, a Petrobras é acusada de falhar na detecção do vazamento. A estatal não teria observado procedimentos internos que exigem inspeções a cada 30 minutos. Como o bombeamento foi iniciado às 13h20, o problema poderia ter sido constatado às 13h50, mas isso só ocorreu às 15h48 -quase duas horas e meia depois.
Os peritos constataram também falhas nos planos de controle de acidentes da Dutos e Terminais do Sul (DTSul, responsável pelo dutos) e da Repar. As duas unidades, pertencentes à Petrobras, possuem planos direcionados "quase que exclusivamente" a combate a incêndio. A falta de previsão de vazamento em dutos teria, na conclusão dos peritos, atrapalhado o controle do acidente.
Além disso, a Petrobras teria errado ao classificar o vazamento de intensidade média (nível 2, numa escala de 1 a 3), o que teria retardado a tomada de providências. Também não teria tomado uma precaução simples: construir diques de contenção na área de bombeamento, o que teria reduzido a velocidade do avanço da mancha de óleo para os rios Barigui e Iguaçu.
Ontem, a Petrobras anunciou que só se pronunciará quando notificada oficialmente da ação. Na resposta enviada ao Ministério Público, a estatal contesta as conclusões a respeito da causa do acidente, do Plano de Contingência e da classificação da emergência.