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Naufrágio no Pantanal

Tragédia abala Alvorada do Sul

Diego Prazeres - Folha de Londrina
26 set 2014 às 09:01

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- Gustavo Carneiro/Equipe Folha
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"Filha, aconteceu uma tragédia. O barco onde nós estávamos afundou, eu consegui me salvar e estou vendo quatro pessoas na minha frente, mais ninguém." Foi assim que o gerente comercial Francisco Carlos Paulineli relatou à filha, aos prantos, o acidente que deixou a pequena Alvorada do Sul (Região Metropolitana de Londrina) em estado de choque. Chiquinho, como é conhecido na cidade, é um dos passageiros do barco-hotel que naufragou por volta das 17h15 de quarta-feira, no Rio Paraguai, próximo ao município de Porto Murtinho, no pantanal sul-mato-grossense. Como ele, a maioria dos 17 turistas da embarcação pesqueira é de Alvorada. As outras dez pessoas a bordo pertenciam à tripulação, segundo a Marinha do Brasil foi informada pela Armada Paraguaia.

Até o final do dia, a Polícia Civil de Porto Murtinho havia confirmado três mortes. O primeiro corpo encontrado, na manhã de ontem, foi o do engenheiro agrônomo Sidnei Romano, morador de Sabáudia, também na Região Metropolitana de Londrina. À tarde, mais dois corpos foram identificados: dos pecuaristas Antônio Moacir Pontelo, de Alvorada do Sul, e Leandro Donizete Alves, natural de Alvorada, mas residente em Londrina. De acordo com a lista divulgada ontem pela manhã pelo Corpo de Bombeiros, cinco turistas sobreviveram (quatro de Alvorada do Sul e um de Londrina) e nove permaneciam desaparecidos (quatro de Alvorada, três de Londrina e outros dois de origem não identificada).

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Familiares do grupo de turistas contaram à FOLHA que no dia do naufrágio o clima mudou bruscamente na região de Porto Murtinho. A temperatura teria caído de 38º para 22º. A excursão partiu do Norte do Paraná na sexta-feira passada, em seis carros. O plano original era fazer a viagem de barco de sábado até ontem. No entanto, as mudanças no clima fizeram o grupo pedir para a chalana atracar na quarta-feira.

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Francisco Paulineli, o Chiquinho, um dos sobreviventes, foi quem organizou o passeio. Ele é gerente de uma loja de produtos agrícolas em Alvorada. Na cidade, a pescaria é mais do que um hobby, é um cartão de visitas. Logo na entrada, uma grande escultura de um pescador na beira do lago chama a atenção dos visitantes. Tanto que no Pantanal havia dois grupos de turistas de Alvorada do Sul. Um, no barco que afundou, e outro, numa chalana parecida que estava a cerca de 400 metros de distância do acidente. Todos eles estão acostumados a pescar nos rios do Paraná e de São Paulo.

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A tragédia abalou a cidade, de 10.900 habitantes. "Rapaz, eu estou arrepiado até agora. O Manuel (Coelho, um dos desaparecidos) é como um irmão, a gente está sempre junto, faz churrasco junto", disse o servidor público Marcos Tanajura, vizinho de um dos desaparecidos. "Fui no mercado agora e está todo mundo de cabeça baixa, todo mundo chateado, ninguém está com motivo para dar risada. Cidade pequena é tudo família, tudo amigo", afirmou um outro morador.


Entre os familiares dos desaparecidos, a angústia ficava por conta da falta de notícias. Como os passageiros da embarcação perderam os celulares, os contatos rarearam. Muitos parentes dependiam de contatos de assistentes sociais de Porto Murtinho para receber notícias. Joana D'Arc Oliveira, esposa do pecuarista Manuel Coelho, não sabia o que dizer. O filho mais velho foi com um amigo para o Mato Grosso do Sul assim que soube da tragédia a fim de procurar pelo pai.


Joana contou que o marido estava pensando em desistir da viagem, mas ela mesma o incentivou a ir. "Ele foi convidado a participar do pacote. Não queira ir, mas eu dei apoio porque ele adora pescar", afirmou. A excursão já havia sido acertada no ano passado. Marcia Aparecida Orlando, cujo marido, o comerciante Lucas Orlando, também estava entre os desaparecidos, não escondia a angústia. "A espera por notícias é muito ruim. As buscas são muito demoradas", comentou.

Mesmo aliviada com a certeza de que o marido está bem, a professora Helena Tomas Ferreira, esposa do Chiquinho, um dos sobreviventes, disse que será difícil assimilar o impacto da tragédia. "Não caiu ainda a ficha da dimensão do que aconteceu e o que vem pela frente. Foi um choque, todos ali são amigos, tem mulheres e filhos. Fica uma preocupação de como vai ser", desabafou.


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