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Trens isolam uma vila inteira em Curitiba

Redação - Folha do Paraná
12 jul 2001 às 15:44

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Moradores da Vila Pantanal são obrigados a passar pelo meio de trens para sair de suas casas - José Suassuna - Folha do Paraná
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Na hora do almoço e final de tarde no Pátio Iguaçu da América Latina Logística do Brasil (ALL) -concessionária do transporte ferroviário na Região Sul- situado no bairro Alto Boqueirão em Curitiba, a paisagem é sempre a mesma. Centenas de crianças e adultos passam desordenadamente, andando em cima dos trilhos e pulando pelo meio dos vagões, na tentativa de vencer a área da empresa. Este é o caminho mais curto entre suas residências e a escola, creche, posto de saúde e locais de trabalho de grande parte da população.

Na Vila Pantanal, uma área de invasão existente há cerca de 15 anos no Alto Boqueirão, este cotidiano acabou criando até uma sistemática própria para passar os trilhos. "Para passar no meio do vagão, primeiro o mais velho pula e depois pega os menores por cima", diz Hellen Fernanda do Espírito Santo, 8 anos, que, junto com suas irmãs Sharlene (10), e Michele (5) costuma atravessar no mínimo quatro vezes os trilhos diariamente.

O problema é que as 800 famílias que vivem no local estão praticamente ilhadas, entre o rio Iguaçu e as cavas do Boqueirão e o pátio do Iguaçu. Como trata-se de área de invasão com situação não regularizada pela Prefeitura de Curitiba, no local não existe nenhuma infra-estrutura, obrigando as famílias a se deslocarem para o Jardim Paranaense, do outro lado dos trilhos. E o caminho mais curto, neste caso, é passando pelo pátio Iguaçu.

"A gente tem medo, mas não tem outro jeito de ir para a escola", diz Ângela de França Taborda, de 9 anos, que cursa a 3ª série e vai ao colégio diariamente com sua amiga Cleonice Aparecida de Paula, também com 9 anos. "Eu mesma já caí", diz Sharlene Franciele, de 10 anos, que acha que, para melhorar, teria que "deixar os trens abertos, fazendo um caminho para passagem ou fazer uma passarela".

Na situação atual, todos têm uma história para contar sobre pessoas que caíram, assustaram-se ou machucaram-se nos trilhos.

A mais triste é do pequeno Maico Fernando de Freitas, de 3 anos, que há um ano teve uma perna cortada pelas rodas do trem. Maico estava voltando da creche junto com uma tia, de 21 anos. "Minha sobrinha pulou o vagão e quando foi pegar o menino no colo para passar por cima, o trem deu o arranque. Os dois caíram e o trem passou por cima da perna do meu filho", conta Elisabete Espínola de Freitas, de 27 anos, que vive há 9 anos no local, junto com o marido e quatro filhos.

Hoje Maico passa o dia todo na creche, considerado mais seguro pela família. "Lá é tudo limpinho e aqui no meio da terra ele pode pegar uma infecção, já que ele só pode andar se arastando pelo chão". Com uma renda de R$ 200,00 mensais do salário de servente do marido mais uns trocados que Elisabete consegue angariar como catadora de papel, a família chega a gastar R$ 80,00 em remédios em épocas em que aparecem complicações no ferimento.

Enquanto estiver em fase de crescimento, Maico terá que passar por várias cirurgias, para os cortes constantes do osso. Elisabete diz que, agora, está entrando com ação na justiça contra a ALL. "Quero uma indenização para que o meu filho possa fazer fisioterapia, colocar uma prótese e possa viver melhor", diz.
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