O uso de medicamentos à base de Canabidiol ainda é considerado um tabu pela sociedade, que enxerga a planta somente como uma droga. Mas, para algumas pessoas, esses produtos podem fazer toda a diferença no tratamento de doenças.
Esse é o caso de Blenda Siena, 32, que faz o uso de um óleo de cannabis desde 2015 e tem sua própria plantação em casa, com a autorização da Justiça. Para ela, o medicamento foi um divisor de águas no tratamento contra suas doenças.
Siena conta que foi diagnosticada com câncer na adrenal, além de ter fibromialgia e a síndrome de Ehlers-Danlos, o que causava muita dor todos os dias. Os medicamentos normalmente utilizados não funcionavam, assim, seu médico indicou o tratamento com cannabis.
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“De começo eu não aceitei muito, porque eu não tinha uma cabeça aberta, achava que era droga, que queriam me dopar. Mas depois dele insistir muito, umas cinco, seis vezes, eu aceitei o tratamento”, explica.
Assim que o tratamento para o câncer acabou, Siena percebeu que o óleo de cannabis que utilizava conseguia substituir seus outros remédios, como o de TDAH. A partir disso, passou a procurar auxílio jurídico para ter permissão de cultivar seu próprio medicamento em casa, já que não tinha condições de bancar o tratamento, custando cerca de R$ 10 mil por frasco.
Passando de cerca de 17 comprimidos por dia para apenas 20 gotas do óleo de cannabis, que vêm da sua própria plantação, ela explica que economiza muito dinheiro. “Eu gastaria, fazendo a compra internacional, 58 mil reais mensalmente e, nacionalmente, uns 35 mil. Com minha plantação, eu gasto dois mil num ciclo de um ano.”
Créditos: Arquivo pessoal
Pensando nessa dificuldade de acessibilidade, o vereador Mestre Madureira (PP), propôs o Projeto de Lei n° 066/2024, que dispõe sobre o acesso a medicamentos à base de CBD (Canabidiol) e THC (Tetrahidrocanabinol) no SUS (Sistema Único de Saúde) de Londrina.
Uma audiência pública para discutir o projeto acontece nesta segunda-feira (17), às 19h, na sede temporária da Câmara Municipal de Londrina, localizada na Anhanguera/Unopar do Jardim Piza, na rua Marselha, 185.
Madureira conta que a iniciativa foi inspirada na experiência positiva em Mandaguari, norte do Paraná. O município foi um dos primeiros do Brasil a implantar legislação própria sobre a planta e, desde o ano passado, mais de 30 famílias estão recebendo a medicação pelo SUS com bons resultados clínicos.
“O projeto existe para dar a garantia de que, quem precisa da medicação e tenha isso comprovado, possa ter acesso a ela gratuitamente”, explica o vereador, acrescentando que o custo dessa distribuição não terá muito impacto para o município, já que Londrina tem um bom aporte financeiro para a Secretaria de Saúde.
A médica especialista em Clínica Médica e Geriatria que prescreve os medicamentos, Roberta Delgado, esclarece que os remédios com certificado da Anvisa passam por critérios de análise e cuidados rigorosos.
“Fazem avaliação de estudo do solo onde foi plantada a cannabis, visto que a planta possui alto potencial de fitorremediação (capacidade de absorver impurezas e metais pesados pesticidas do solo onde está), análise dos componentes para avaliação correta de suas proporções e o que está exposto no rótulo.”
A médica conta que esse tratamento é indicado para diversas doenças, incluindo dor crônica, transtornos de ansiedade, depressão, insônia, epilepsia, doença de Parkinson, espasticidade na esclerose múltipla e TEA (Transtorno do Espectro Autista).
Com um processo muito rigoroso de cultivo e extração, Delgado mostra que os medicamentos são feitos a partir do extrato ou substância isoladas, que são advindos da flor da planta fêmea da cannabis, sem ter sido polinizada, por processo de extração, após filtração e evaporação, seguida de diluição.
Assim, as substâncias utilizadas são puras e se modificam com o calor, aumento da temperatura e exposição à luz solar. “Essa é uma das grandes diferenças com uso recreativo, que passa por reações químicas totalmente sem controle na queimadura da planta.”
Para Siena, que utiliza a medicação, o projeto de lei é muito importante, já que o processo de conseguir autorização, contratar advogados e ter uma estrutura e espaço para o cultivo não é barato. “Então quando você coloca isso no SUS, você consegue tornar acessível para todo mundo.”
*Sob supervisão de Fernanda Circhia