Pesquisar

Canais

Serviços

Publicidade
Vem ver em detalhes:

Em 11 pontos, confira as diferenças entre a realidade da pandemia e o pronunciamento de Bolsonaro

Folhapress
24 mar 2021 às 07:55
- Isac Nóbrega/PR
siga o Bonde no Google News!
Publicidade
Publicidade

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez um pronunciamento em cadeia nacional na noite desta terça-feira (23), mesmo dia em que o Brasil cruzou pela primeira vez a marca das 3.000 mortes registradas em 24 horas, para defender sua gestão no combate à pandemia do novo coronavírus, iniciada há pouco mais de um ano.


Com o aumento desenfreado no número de mortes no país, onde já morreram quase 300 mil pessoas (100 mil apenas de meados de janeiro até agora), Bolsonaro tem sido pressionado a modular seu discurso sobre a crise sanitária no país, cuja gravidade, além de deixar uma montanha de mortos, afeta as perspectivas econômicas, sociais, políticas e de relações exteriores do país, cada vez mais isolado.

Cadastre-se em nossa newsletter

Publicidade
Publicidade


No pronunciamento, de quatro minutos, o presidente disse que seu governo é "incansável" no combate ao vírus -que por 12 meses ele minimizou- e se solidarizou com as famílias e amigos das quase 300 mil vítimas, após ter debochado do temor e do luto da população em diferentes ocasiões.

Leia mais:

Imagem de destaque
Segunda discussão

Câmara de Londrina aprova espaço para agentes de endemias nas UBSs

Imagem de destaque
Vereadora foi internada na quarta

Juiz concede liminar e suspende audiências da CP que apura denúncia contra Mara Boca Aberta

Imagem de destaque
Decisão polêmica

Professor foi deixado de lado no processo educacional, diz especialista sobre uso do ChatGPT em SP

Imagem de destaque
Entenda

Aval à fundação da Lava Jato entrará no foco do CNJ após divergências sobre Gabriela Hardt


A reportagem checou como 11 afirmações de Bolsonaro no discurso desta terça se comparam com suas declarações passadas, suas ações e a realidade da pandemia.

Publicidade


​"Em nenhum momento o governo deixou de tomar medidas importantes tanto para combater o coronavírus quanto para combater o caos na economia, que poderia gerar desemprego e fome"

O presidente Bolsonaro pessoalmente minimizou a pandemia em diferentes ocasiões. Em março de 2020, afirmou que "está superdimensionado o poder destruidor desse vírus", "não é isso tudo que a grande mídia propaga" e que "não podemos entrar numa neurose, como se fosse o fim do mundo." Ademais, ele próprio provocou aglomerações e recusou usar máscaras.


Além disso, seu governo apostou no uso de remédios sem eficácia comprovada contra a doença, como a hidroxicloroquina.

Publicidade


Na parte econômica, o governo federal propôs um auxílio emergencial mais tímido do que o que foi aplicado. Em março, a gestão Bolsonaro havia proposto uma ajuda de R$ 200, depois subiu para R$ 300, e o Congresso aumentou para R$ 600.


Neste ano, com a piora da pandemia e nova rodada de fechamentos, o governo resistiu de novo a conceder o auxílio, mas depois se dispôs a pagar uma ajuda média de R$ 250, que pode variar de R$ 150 a R$ 375 a depender da composição familiar. Bolsonaro ainda vetou outras ajudas econômicos, como um aporte de R$ 4 bilhões ao setor de transportes de passageiros, que ficou próximo da falência com a queda de passageiros.

Publicidade


"Somos o quinto país que mais vacinou no mundo. Temos mais de 14 milhões de vacinados e mais de 32 milhões de doses de vacina distribuídas para todos os estados da Federação"

De acordo com dados da plataforma Our World in Data, ligada à Universidade de Oxford, o Brasil é o quinto país que mais aplicou doses em números absolutos, atrás de Estados Unidos, China, Índia e Reino Unido.


Quando se analisa o número de doses aplicadas por mil habitantes, no entanto, o Brasil aparece na 73ª posição, atrás de outros países como Israel, que encabeça a lista, países europeus e mesmo os latinos Panamá e Argentina.

Publicidade


Dados do consórcio de veículos de imprensa mostram que só 2,69% da população brasileira acima de 18 anos recebeu a segunda dose da vacina, podendo, dessa forma, ser considerados efetivamente imunizados.


O consórcio junto às secretarias estaduais de saúde também apontam que 12,8 milhões de pessoas já receberam ao menos uma dose da vacina. O próprio Ministério da Saúde apresenta em seu site um número diferente do informado pelo presidente. De acordo com a pasta, 11,4 milhões de pessoas receberam ao menos uma dose do imunizante, e 30 milhões de vacinas foram distribuídas pelo país.

Publicidade


"Em julho de 2020, assinamos um acordo com a Universidade Oxford para produção na Fiocruz de 100 milhões de doses da vacina AstraZeneca. E liberamos em agosto R$ 1,9 bilhão"

O governo Bolsonaro realmente fechou acordo e liberou recurso para a compra e produção do imunizante no país.


Especialistas afirmam, no entanto, que o erro foi ter apostado em uma única vacina, e recusado doses de outras fabricantes, como a Pfizer, que já teriam entregue uma parcela dos imunizantes ao país. Nesta terça (23), o Ministério da Saúde reduziu pela quinta vez a expectativa de entrega de vacinas, depois que a Fiocruz, que produz o imunizante da AstraZeneca no país, baixou a previsão de 30 para 18 milhões de doses.

Publicidade


"Em setembro de 2020, assinamos outro acordo com o consórcio Covax Facility para a produção de 42 milhões de doses. O primeiro lote chegou no domingo passado e já foi distribuído para os estados"

É verdade que o país entrou no consórcio liderado pela Organização Mundial da Saúde, mas, das 42 milhões de doses acordadas, o país recebeu apenas 1 milhão. Outras 1,9 milhão de doses devem desembarcar no país até o final do mês de março, e mais 9,1 milhões de doses devem chegar ao país até maio. Esse cronograma, segundo o Ministério da Saúde, está sujeito a alterações.


"Em dezembro liberamos mais R$ 20 bilhões, o que possibilitou a aquisição da Coronavac, através do acordo com o Instituto Butantan"
De fato, em dezembro, o presidente assinou uma medida provisória que liberava R$ 20 bilhões para a compra de vacinas em geral.


Mas o acordo fechado em janeiro com o Instituto Butantan para a produção da Coronavac, desenvolvida pela fabricante chinesa Sinovac, só veio depois de rejeitar e criticar o imunizante diversas vezes. Em outubro do ano passado, por exemplo, depois que o então ministro da Saúde Eduardo Pazuello afirmou que o governo compraria a vacina, Bolsonaro afirmou:
"Mandei cancelar, o presidente sou eu, não abro mão da minha autoridade". Em rede social, falou em traição e disse que não compraria a "vacina chinesa de João Doria."


Bolsonaro chegou a comemorar em novembro quando os testes foram suspensos. "Morte, invalidez, anomalia. Esta é a vacina que o Doria queria obrigar todos os paulistanos a tomá-la", escreveu o presidente como resposta. "O presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha."


"Logo seremos autossuficientes na imunização"
A afirmação não é realista. Apesar de haver fabricação de duas vacinas contra a Covid no Brasil, a Coronavac, pelo Instituto Butantan, e a Covishield, pela Fiocruz, têm ocorrido atrasos constantes no cronograma de entrega de vacinas.
Nesta terça, por exemplo, a Fiocruz informou que entregará ao Ministério da Saúde de 11 a 12 milhões de doses a menos do que estava previsto do imunizante em abril. Pela Fiocruz, espera-se a entrega, até o meio do ano, cerca de 100 milhões de doses. Até agosto, o Butantan deve entregar o mesmo número de doses.


Considerando os brasileiros acima de 15 anos (169.277.800), porém, seriam necessárias mais de 330 milhões de doses. A compra de outras vacinas, porém, como a da Pfizer, devem garantir a vacinação de todo o país, até algum momento de 2022.


"Sempre disse que compraríamos qualquer vacina desde que aprovada pela Anvisa"
A afirmação é falsa. Bolsonaro, por diversas vezes, menosprezou a vacina Coronavac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac e produzida no Brasil pelo Instituto Butantan, e chegou a falar que o país não compraria a vacina. "Da China nós não comparemos, é decisão minha. Eu não acredito que ela [vacina] transmita segurança suficiente para a população pela sua origem", declarou o presidente.


"Acredito que teremos a vacina de outros países, até mesmo a nossa, que vai transmitir confiança para a população. A da China, lamentavelmente, já existe um descrédito muito grande por parte da população, até porque, como muitos dizem, esse vírus teria nascido lá", disse.


Bolsonaro também chegou a desautorizar a compra das vacinas do Butantan, após acordo firmado pelo então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.


​"Intercedi pessoalmente com a fabricante Pfizer para a compra de mais doses"
A afirmação é verdadeira, mas há ressalvas. Bolsonaro só se encontrou com o CEO mundial da Pfizer, Albert Bourla, recentemente, no início de março, momento em que o país enfrentava colapsos e números altíssimos de Covid pelo total descontrole da pandemia. Antes, o governo ignorou e rejeitou propostas da farmacêutica para fornecimento de milhões de doses, com possibilidade de aplicação já a partir de dezembro de 2020.


Até fevereiro de 2021, estavam previstas 3 milhões de doses. Antes do encontro com Bourla, Bolsonaro repetidas vezes falava sobre efeitos colaterais relacionados à vacina, mais especificamente ao contrato com a farmacêutica, o qual a isenta de responsabilização em caso de possíveis efeitos colaterais da vacina.


"Se tomar e virar um jacaré é problema seu. Se virar um super-homem, se nascer barba em mulher ou homem falar fino, ela [Pfizer] não tem nada com isso", afirmou Bolsonaro, em 17 de dezembro.


"Muito em breve retomaremos nossa vida normal"
Pesquisadores afirmam que a lenta velocidade na vacinação e a possibilidade do surgimento de novas variantes, mais transmissíveis e agressivas, devem fazer com que a imunidade de rebanho não seja atingida ainda neste ano.
Por isso, médicos e pesquisadores dizem que na volta à "vida normal", mesmo quando a vacinação tiver avançado, as pessoas deverão continuar seguindo regras de distanciamento social e uso de máscara, pois a proteção ideal estará longe de ser atingida. Medidas que têm sido atacadas por Bolsonaro desde o início da pandemia.
O presidente, inclusive, continua tentando impedir governadores de adotar ações para controlar a disseminação do vírus. Na última sexta (19), Bolsonaro moveu ação no STF (Supremo Tribunal Federal) contra o decreto dos governos do Distrito Federal, Bahia e Rio Grande do Sul com restrições à circulação de pessoas durante o momento mais crítico da pandemia. O ministro Marco Aurélio Mello negou o pedido liminar.


"Solidarizo-me com todos aqueles que tiveram perdas em suas famílias, que Deus conforte seus corações"
A frase dita no pronunciamento destoa do discurso que vem sendo adotado pelo presidente nos últimos meses. Bolsonaro já usou as palavras histeria e fantasia para classificar a reação à pandemia. No começo deste mês, também afirmou que a população precisa enfrentar o problema.


"Nós temos que enfrentar os nossos problemas, chega de frescura e de mimimi. Vão ficar chorando até quando? Temos de enfrentar os problemas. Respeitar, obviamente, os mais idosos, aqueles que têm doenças, comorbidades, mas onde vai parar o Brasil se nós pararmos?", disse em viagem a São Simão (GO), em 4 de março. Na quinta (18), Bolsonaro disse que "parece que só se morre de Covid" no Brasil. ​


"Somos incansáveis na luta contra o coronavírus. Essa é a missão e vamos cumpri-la"
Desde o início da pandemia o presidente tem sido contrário e desestimulado as medidas defendidas para o combate à disseminação do vírus. Bolsonaro incentivou aglomerações, espalhou informações falsas sobre a Covid-19, fez campanha de desobediência a medidas de proteção, como uso de máscara , e defendeu e distribui remédios sem eficácia comprovada contra a doença.

No último domingo (21), no pior momento da pandemia, o presidente comemorou seu aniversário com centenas de apoiadores aglomerados em frente ao Palácio da Alvorada. Bolsonaro, inclusive, retirou a máscara para discursar.


Publicidade

Últimas notícias

Publicidade