As últimas pesquisas do IBGE indicaram mudanças profundas na estrutura das famílias brasileiras. Os estudos mostram que elas estão cada vez menores. A média de filhos por família caiu de seis, em 1970, para menos de dois nos dias atuais. O número de pessoas que, por diversas razões, optam por morar sozinhas também chama atenção, já que quase dobrou nos últimos dez anos.
Esse cenário trouxe grande impacto no mercado imobiliário, que viu a demanda por apartamentos pequenos, de um ou dois quarto, crescer nas grandes cidades.
Em contrapartida, há algum tempo as construtoras e incorporados deixaram de investir neste tipo de imóvel. O resultado? Muita gente procurando e não encontrando o apartamento ideal.
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Fatores sociais
Segundo o IBGE, a fatia da população que procura por apartamentos pequenos é bastante variada. São estudantes, casais sem filhos, solteiros, divorciados e idosos. As justificativas são várias e ainda apontam para o crescimento dessa tendência.
Uma delas é o fato das grandes cidades e capitais oferecerem mais opções de cursinhos, faculdades e universidades, recebendo uma constante migração de jovens do interior em busca de estudo. Outra explicação é o mercado de trabalho, que cada vez mais competitivo, faz com que as pessoas passem a se dedicar quase que exclusivamente a vida profissional.
A prioridade hoje é a estabilidade financeira. Os estudos, uma boa casa, um carro legal, viagens. Todos, sonhos, que muitas vezes acabam se sobrepondo a vontade de constituir a própria família.
O crescimento da participação da mulher no mercado de trabalho, também contribui para o adiamento dos planos de casamento e maternidade. A pesquisa aponta ainda um aumento do número de divórcios, em decorrência das mudanças de comportamento que vêm ocorrendo na sociedade e principalmente da criação da Lei 11.441, de 4 de janeiro de 2007, que facilitou os procedimentos de separação. Hoje a dissolução do casamento pode ser realizada através de escritura pública, em qualquer tabelionato do país.
Investimentos na área
Em fevereiro deste ano, os grandes jornais do país noticiaram a falta de apartamentos de até dois quartos no mercado imobiliário, já que de cada cem lançamentos em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, apenas dois eram de apartamentos de um quarto.
O arquiteto Frederico Carstens, sócio proprietário da Realiza Arquitetura, explica que "os lançamentos de hoje são fruto de um cenário de dois, três anos atrás, que era otimista na economia, com abundância no crédito para financiamento. Quem queria comprar um imóvel conseguia financiamento para fazê-lo em trezentas vezes, o que acabava viabilizando os negócios. Assim ao invés de optar por apartamentos de um ou dois dormitórios, as pessoas acabavam optando por um imóvel maior."
No entanto, Carstens acredita que a demanda por apartamentos menores é uma realidade, inclusive em Curitiba. "Tanto que construtoras e incorporadoras tem trabalhado para satisfazer essa procura, lançando empreendimentos que atendam as necessidades deste novo perfil de consumidor", afirma o sócio-proprietário da Realiza Arquitetura.
Empreendimentos em Curitiba
Henrique Lago, sócio-consultor da Brain Inteligência Corporativa, concorda que em Curitiba havia uma demanda reprimida por este tipo de imóvel, mas o lançamento de três empreendimentos, com uma média de duzentas unidades cada um, com entrega prevista para o final deste ano ou começo de 2010 mostra que as construtoras estão investindo para satisfazer essa necessidade.
O Edifício Amsterdam, previsto para ser entregue dentro de seis meses, ilustra bem essa nova tendência de moradia. Projetado pela Realiza Arquitetura para a construtora de Enio Fornea, o empreendimento traz diversas variações de planta, todas com um ou dois quartos. "Alguns apartamentos chegam a ter o pé direito duplo na sala, apesar de não ser um imóvel grande, para atender os anseios de um público mais jovem e descolado", explica Antonio Gonçalves Jr, sócio proprietário da Realiza. Outros com suíte e mais um quarto, se voltam mais para jovens casais com até dois filhos.
A proposta estética da Realiza para o Edifício Amsterdam é minimalista, com poucos elementos e volumes básicos, resultantes do próprio projeto. "Não tem enfeites nem nada desnecessário. A fachada é bem limpa, preta e branca para ressaltar o lado contemporâneo do empreendimento", descreve Gonçalves Jr.
Também indo de encontro aos edifícios clubes que tem feito sucesso na última década, a área de lazer do Edifício Amsterdam é bem enxuta. "Tem área gourmet e academia, mas é a chamada opção do imóvel apenas como moradia. As pessoas voltam a sair de suas casas para viver o lazer", explica o sócio proprietário da Realiza Arquitetura, Antonio Gonçalves Jr.