Arte e Cinema

John Ford

28 ago 2015 às 23:02

"Este é o Oeste, senhor. Quando a lenda torna-se fato, imprima-se a lenda." Essa frase poderia resumir bem a obra desse diretor americano, de sangue irlandês, que ao longo de 5 décadas dirigiu quase 150 filmes. Uma obra imensurável, diriam alguns - e que pode ser muito bem representada por 5 ou 6 filmes em que ele praticamente consolidou e imortalizou um gênero hoje um tanto esquecido: o Western.

Chamado de o "Homero" do cinema americano, considerado por alguns produtores e fotógrafos o maior diretor que a indústria já viu, John Ford (1894-1973) ajudou a contar a história da América como poucos cineastas souberam narrar. Trata-se de uma história verídica, real ou no mínimo próximo daquilo que ocorreu? Não é essa a questão que se impõe na obra de Ford: como bem resume a frase inicial desse texto, o cinema era uma forma se descobrir e apresentar outros mundos: não apenas aqueles que reconhecemos como "real".


Devido a essa constante fabulação, vertente poética, ou ironia dramática, Ford já foi considerado o último realizador analógico em uma era virtual. No entanto, assistindo a seus filmes hoje em dia, 40 anos após o seu desaparecimento, a sensação que temos é a de que os filmes de Ford são extremamente reais, apresentam um universo concreto, com suas regras próprias e inflexíveis, enquanto o mundo em nossa volta sim é virtual.


Como se entrar em uma pequena sala escura e encontrar as imagens de um Paraíso Perdido, de um destino trágico, ou de um mundo repleto de sombras e zonas obscuras, como é o de Ford, fosse um raro acesso a uma forma de artesanato hoje já desaparecida, arcaica, e freqüentemente desvalorizada.


O Cinema não é mais uma aproximação de um sonho, e sim a terrível lembrança do real. Um filme como 'Rastros de Ódio', por exemplo, é uma recusa, uma cicatriz. 'As Vinhas da Ira' não oferece nenhuma saída - o que terá acontecido ao personagem de Henry Fonda? Em 'A Mocidade de Lincoln', há o mito e o homem simples, o drama histórico e o aspecto de fábula, lado a lado.


O que se vê, em alguns filmes de Ford, no fundo, é que essa paisagem ampla, isolada e desértica, tão presente em seus Westerns, é o único contexto de liberdade para os seus personagens, e também o seu desfecho. Não há movimento possível, e a imobilidade, sempre, é uma angústia. 'Estamos sempre voltando para a casa", já disse um poeta. Os filmes de Ford serão sempre esse retorno: mesmo que não haja mais nenhuma origem a se retornar.

*Texto escrito a 17 de abril de 2014.


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