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Futebol dos patetas

04 jul 2006 às 11:00
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A derrota brasileira para a seleção francesa no último sábado me fez lembrar de uma série de desenhos em que o Pateta, um dos melhores personagens da Disney, mostra como se joga cada esporte. Foi uma exibição medíocre, patética, ridícula, infame, medonha, modorrenta e quase todos os outros adjetivos pejorativos encontrados nos melhores dicionários.

O único sentimento perene dos torcedores para a equipe comandada (?) por Parreira é a mais profunda vergonha por um time sem alma, sem brio, mais preocupado com seus recordes, contratos profissionais e publicidade. Uma dos motivos plausíveis para o fracasso coletivo é que, além de estarem mal individualmente e de pensarem apenas em seus egos inflados, muitos jogadores (e a comissão técnica) humilhados pelas franceses parecem viver em um outro mundo, livres do contato com a realidade.

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Somente isto pode justificar as entrevistas pós-fracasso. Primeiro, o próprio treinador adotou o discurso de que é um grande vencedor, relembrando seu passado na seleção e dizendo que não pode ser considerada ruim uma campanha em que o time ganhou quatro partidas e perdeu apenas uma. Argumento que seria válido apenas para torneios disputados no sistema de pontos corridos e não com eliminatórias simples como a Copa do Mundo. Se esta derrota tivesse sido na primeira fase, como aconteceu em 98, por exemplo, ainda seria reversível, mas nas quartas de final, não.

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Parreira também ofende a inteligência dos torcedores ao dizer que a equipe evoluiu ao longo do campeonato e que jogou bem em muitos momentos e só foi derrotada porque a França jogou melhor. Comete o absurdo de afirmar que mexeu com o time no intervalo da partida e que o segundo tempo seria brasileiro se não fosse um gol levado logo no início. Esquece, ou finge esquecer, que o primeiro arremate na direção do gol adversário ocorreu apenas aos 45 minutos do segundo tempo ou que o time parecia formado por espectros praticamente imóveis dentro de campo, que assistiram passivamente ao show de Zidane e companhia.

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O craque francês aliás, merece um capítulo à parte na história da partida. O treinador brasileiro, parecendo ignorar o talento de Zidane, não planejou nenhum tipo de marcação especial sobre o brilhante jogador, deixando-o à vontade para jogar tudo o que sabe. Para justificar, disse que o Brasil não tem este costume de marcar individualmente nenhum jogador. Parece repetir os conceitos de seu guru e coordenador técnico Zagallo, que da mesma forma ignorou a Holanda em 74, com o mesmo resultado.


Longe do mundo real também estão os dois laterais brasileiros e o principal artilheiro da história das Copas. Cafu disse que o Brasil jogou bem, que ele mesmo teve boas atuações na Copa (só se foi nas anteriores), diz que está pronto e preparado para disputar o próximo mundial e chega ao disparate de comparar a atual seleção ao fantástico time de 82. Nem a mais santa paciência pode agüentar tanta falácia.

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Pelo lado esquerdo, o falastrão Roberto Carlos vai mais longe e simplesmente afirma que não falhou no gol francês, dizendo que não acompanhou Henry na jogada porque estava combinado que todo o time ficaria parado na cobrança da falta para deixar o ataque francês impedido. Se por acaso for verdade, parece que apenas metade da equipe foi ao treinamento. Só que é pouco provável que isso tenha acontecido porque a mesma jogada não foi efetuada nenhuma vez na Copa e no lance do gol que eliminou o Brasil, os três marcadores da equipe, Juan, Lúcio e Gilberto Silva não fizeram a linha burra -- no caso, burríssima. Antes das declarações do lateral, que no lance do gol parecia dançar aquela música "bota a mão no joelho, dá uma abaixadinha...", Parreira também mostrou o tamanho do despreparo da seleção ao dizer que nos lances de bola parada a equipe não estava preocupada com o principal atacante francês. Zidane e Henry agradecem.


Ronaldo também parece fora do ar é pensa que o Brasil jogou bem e só foi eliminado porque a França era melhor e que apesar de tudo o time tinha jogado bem. Só se foi nos tradicionais rachões dos treinos, porque nos jogos oficiais, tirando a equipe mista que venceu o Japão, as estrelas abusaram do salto alto, da lerdeza e da falta de vontade.

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A lamentável despedida brasileira revela também uma grande desunião da equipe. E dentro de campo, porque fora das quatro linhas os jogadores podem até se odiar, desde que não deixem de jogar coletivamente nas partidas (Romário e Bebeto não se bicavam muito mas dentro de campo chegaram a trocar juras de amor). Ficou patente que existe uma panelinha comandada pelos medalhões Cafu, Roberto Carlos, Ronaldo e Emerson, influente até mesmo na escalação dos atletas. Um sinal claro disso é o fato de que Kaká, que iniciou a Copa com tudo, foi se apagando aos poucos, não por coincidência após fazer críticas públicas à falta de movimentação dos atacantes.


Contra esta panelinha, Parreira foi totalmente ineficiente, talvez por imaginar que a exemplo do que aconteceu em 70, quando os jogadores assumiram e bancaram a escalação do "quinteto mágico": Gerson, Pelé, Tostão, Rivelino e Jairzinho, o técnico imaginou que os donos do time atual também resolveriam em campo os jogos mais difíceis. Engano com o final já conhecido.

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Sem querer contrariar a patota, Parreira manteve no time Cafu, que conseguiu amealhar mais alguns recordes e nada mais, Roberto Carlos, que há muito tempo vive dos feitos passados, Ronaldo e Adriano plantados no ataque e o cansado e limitado Emerson, que só saiu por contusão.


Mas não dá para atribuir toda a responsabilidade ao treinador, que acertou ao finalmente desmanchar o tal do "quadrado mágico" e colocar Juninho no lugar de Adriano, adiantando Ronaldinho para o ataque. Só que Juninho também se apagou e o melhor jogador do mundo repetiu as discretas atuações anteriores. No jogo derradeiro, só se salvaram mesmo a dupla de zaga, que repetiu a boa atuação e lutou incessantemente, Dida, que salvou ao menos duas claras chances de gol (os franceses poderiam ter repetido os 3 x 0 de 98), Gilberto Silva e Zé Roberto - estes dois mais pela vontade do que por uma grande atuação. Menção também para Cicinho e Robinho, que em menos de 15 minutos de jogo fizeram muito mais do que os titulares 75.

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Resta torcer para que Ricardo Teixeira passe uma régua na história da dupla Parreira-Zagallo na seleção (algo quase impossível de acontecer, pois os dois devem assumir cargos diretivos, administrativos ou mesmo simbólicos. E que o futuro treinador faça a tão esperada renovação, não apenas de nomes, mas também de conceitos táticos e métodos de treinamento. Foi o triste fim de uma era.


Atuações

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Dida - Salvou o time em algumas oportunidades e não teve culpa alguma no gol. Voltou a ser o grande goleiro de alguns anos atrás - 7,5


Cafu - Impressiona pelo excesso de auto-estima. Não mostrou nenhum sofrimento por jogar tão mal e ver a seleção eliminada. Continuou comemorando seus recordes, entre ele o de lateral que mais jogou numa Copa sem aprender a cruzar decentemente - 0,5;


Lúcio - Lutou como sempre, cometeu sua primeira falta, mas bateu o recorde de tempo sem infrações. Mas ao contrário do lateral-direito, se importa menos com isso do que com a amarga derrota. Foi a maior surpresa da seleção e calou a boca dos críticos (pelo menos a deste escriba) - 7;


Juan - O melhor em campo. Foi um dos poucos a correr e marcar o time adversário. Poderia até ter sido expulso ao evitar gol certo da equipe francesa, em falta providencial - 8;


Roberto Carlos - Por algum motivo inexplicável, se agachou e ficou observando Henry desfilar rumo à bola no gol que eliminou o Brasil - Zero é até demais para ele;


Gilberto Silva - Tentou marcar Zidane. A história mostra que não conseguiu, mas foi dos raros jogadores que entraram em campo de verdade - 4,5;


Juninho - Todo mundo pediu sua entrada. Todo mundo se emocionou com seu choro no momento do hino. Todo mundo viu que ele não jogou nada - 3;


Zé Roberto - Pior do que nas outras partidas, talvez porque não soube encontrar seu espaço por jogar ao lado de Juninho (o técnico nunca havia treinado o time assim). Ao menos foi um dos que tentou jogar - 5, pelo brio;


Kaká - Começou bem a Copa. Depois sumiu. Vítima da panelinha? - 3;


Ronaldinho - Não fez nada que lembrasse que é o melhor do mundo - 3;


Ronaldo - Se quase todo o time jogou da forma que ele jogou na estréia, ele pelo menos tentou alguma coisa. Deu o único chute brasileiro na direção do gol - 5;


Cicinho - Entrou e fez muito mais do que Cafu. Pena que muito tarde - 7;


Robinho - Entrou e fez muito mais do que Kaká. Pena que muito tarde - 7;


Adriano - Entrou e fez o mesmo que Juninho. Pena que seja nada - 3;


Parreira - Finalmente aceitou as claras evidências de que Ronaldo e Adriano não podem jogar juntos. mas não soube animar o time e insistiu com os péssimos laterais. Demorou demais para mexer e pagou caro por isso. Dizia que era melhor jogar mal e vencer, como em 94, do que jogar bem e perder, como em 82. Pior mesmo é jogar muito mal e perder vergonhosamente. Foi o que seu time fez - 0,5, apenas porque mudou o esquema.


Nota 10


Para Zidane, o futebol irá sentir a irreparável perda por sua aposentadoria.


Nota 0

Para a CBF, comissão técnica e a maioria dos jogadores da seleção pela pior partida brasileira desde a final de 1998.


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