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Torcendo para o inimigo

23 mai 2002 às 10:59

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A cada quatro anos o Brasil praticamente pára quando a seleção entra em campo na Copa do Mundo. Quase ninguém fica indiferente ao clima que envolve cada jogo, amigos e famílias se reúnem, empresas param de funcionar ou pelo menos permitem alguns televisores ligados. Desta vez isto vai ser um pouco diferente devido ao horário dos jogos, mas o que não deve mudar é outro hábito dos torcedores: a escolha de um segundo time e a torcida contra velhos rivais. Estes fatos são mais comuns quando o Brasil vai mal na Copa, como em 90, época em que, após a eliminação do time brasileiro, Camarões passou a ser a paixão nacional.

Em toda Copa, alguns times conquistam os torcedores brasileiros. Os motivos são os mais diversos. Pode ser a ligação histórica com antepassados, algo que ocorre com freqüência com descendentes de italianos, alemães, japoneses, portugueses, espanhóis, poloneses e outros povos importantes na colonização do Brasil. Ou então motivos ideológicos, como nos tempos da Guerra Fria em que os militantes de esquerda torciam pelos países socialistas. Pode ser a simpatia por povos culturamente próximos, principalmente os latino-americanos, tirando a Argentina. Ou ainda a qualidade do futebol apresentado por seleções que acabam cativando o torcedor. Outro motivo comum é a tendência do ser humano em torcer pelo mais fraco contra o mais forte, recordando a história de Davi contra Golias. Da mesma forma existem os ódios contra algumas seleções por motivos políticos, religiosos ou devido a rivalidades históricas.

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Os motivos não interessam tanto quanto o efeito que eles causam, e não apenas aqui no Brasil. Recordando a história das copas percebemos uma série de acontecimentos que foram vistos como uma injustiça contra determinada seleção. A derrota dos "mágicos" húngaros para os eficientes alemães em 54, do "Carrossel Holandês" para a mesma Alemanha em 74, do Brasil de 82 para a Itália, marcaram as copas do mundo. Foram times que mesmo derrotados entraram para a história do futebol pela qualidade de seus jogadores e pelo espetáculo que proporcionaram. O mesmo que ocorre de um tempo para cá com algumas seleções africanas. Da exótica surpresa de Camarões em 82 à temida Nigéria de 98, times do continente mais pobre do mundo ocuparam lugar de destaque nos últimos mundiais. Como esquecer as danças de Roger Milla e seus companheiros camaroneses a cada gol marcado em 90.

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Outros exemplos de times que conquistaram o mundo são a "Dinamáquina" de 86, a Romênia e a Bulgária de 94 e a Croácia de 98, que com o seu uniforme quadriculado e a alma guerreira de um povo em busca de sua afirmação como pátria chegou ao terceiro lugar. Apesar de não gostar muito desta mistura de futebol com política, é impossível negar que aquele foi um momento que transcendeu ao esporte e virou História. Mas a utilização política das seleções normalmente é menos poética como aconteceu com a Itália campeã em 34 sob a benção de Mussolini, a Alemanha que aproveitou o fato de ter invadido a Áustria para reforçar o time em 38, ou o Brasil de 70, marcando o "Milagre Econômico" dos generais de plantão.

Em junho, sentimentos assim voltarão a acontecer e inevitavelmente vão surgir simpatias por outras seleções. Eu já tenho até um método: torcer sempre para colonizados contra colonizadores, ou seja preferir latino-americanos e africanos a europeus. Mas a torcida mesmo recai para as seleções que jogam um futebol mais técnico e ofensivo, que realmente encante a torcida, e atualmente, para horror da maioria dos brasileiros, o melhor representante desse futebol é a Argentina.


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