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Lançada campanha nacional contra a corrupção no Paraná.

31 dez 1969 às 21:33
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Esse era o título da reportagem que anunciava o lançamento, em Curitiba, da etapa estadual da campanha "O que você tem a ver com a corrupção?", iniciativa da Associação Nacional dos Membros do Ministério Público para incutir na população valores que favoreçam a cultura da legalidade.
Quero ser membro ativo dessa campanha e acho que todos nós temos de lutar pela cultura da legalidade começando por nossos próprios atos: agir legalmente em todos os aspectos e exigir que os demais também o façam. Mas o assunto desta coluna é Gramática Portuguesa; mudemos o rumo de nossa prosa, então:
Você já deve ter ouvido a frase "A ordem dos fatores não altera o produto". Isso pode ser verdadeiro em alguma área da Matemática – ignoro os axiomas matemáticos –, mas na construção de frases não o é, pois a ordem dos termos de uma oração muitas vezes é essencial para o bom entendimento da frase. É o que ocorreu com o título da reportagem:

Lançada campanha nacional contra a corrupção no Paraná.

Qual o significado dessa frase? Da maneira como foi construída, pode-se entender que foi lançada uma campanha em todo o país contra a corrupção paranaense. É o Brasil inteiro preocupado com os corruptos do Paraná. Obviamente não foi essa a intenção de quem escreveu a frase. A interpretação lógica é a de que foi lançada, no Paraná, a campanha nacional contra a corrupção. Ela já havia sido lançada em outros estados; agora, no Paraná. Observe que a ordem dos termos foi fundamental para provocar a anfibologia, outro nome para a popular ambigüidade. A expressão no Paraná, não deve ser ligada ao substantivo corrupção, mas sim ao adjetivo lançada, pois é o lugar em que a campanha foi lançada. O ideal, portanto, seria construir a frase assim:
Lançada, no Paraná, campanha nacional contra a corrupção.

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Outra frase que me chamou a atenção estava numa faixa defronte a uma igreja. Estava escrito nela o seguinte:
Encontro de orações para casais.

Que significa isso? Que os organizadores querem que ocorra no encontro? Pode-se entender que haverá um encontro em que os participantes orarão pelos casais. Não foi essa, porém, a intenção. O pretendido é que casais participem do encontro para orar. A preposição para foi fundamental para provocar a ambigüidade, pois ela pode ligar-se tanto a encontro (encontro para casais) – em que casais orarão juntos – quanto a orações (orações para casais) – em que haverá orações realizadas por quaisquer pessoas abençoando casais.
O melhor seria construir a frase com a preposição para diretamente ligada ao substantivo encontro (encontro para casais), pois ela indica finalidade, e a finalidade do encontro é levar casais à oração. Assim seria formada a seguinte frase: Encontro para casais de orações, o que causaria outro problema de entendimento, pois casais de orações traria um significado no mínimo estranho. O ideal, então, seria mudar a finalidade do encontro: passaria a ser orações, ou seja, a finalidade do encontro é a realização de orações: encontro para orações destinado a casais. É, portanto, um encontro próprio de casais. A preposição de é a que denota o significado de próprio de. Ela também tem de se ligar ao substantivo encontro: encontro de casais. A frase ideal, portanto, e a seguinte:

Encontro de casais para orações.

A ordem dos termos mudou-se por completo, e a intenção dos organizadores ficou clara. O problema é que, para construir frases adequadas, há de haver bom conhecimento de Gramática, e grande parte dos cidadãos brasileiros se preocupa com os estudos gramaticais somente enquanto está no Ensino Médio. O nosso intuito nesta coluna é despertar o interesse pelo idioma padrão, pela escrita adequada, sem, no entanto, simplesmente corrigir erros. Não quero ser fiscal da Gramática; quero, sim, aproveitar construções inadequadas para incentivar o leitor ao estudo, para mostrar, principalmente aos jovens, que ninguém tem o dever de estudar, mais sim, todos têm o direito de aprender.
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Escrevi num trecho desta coluna a seguinte frase: O pretendido é que casais participem do encontro para orar. Alguns podem julgar estranha a concordância no singular de orar, mas é essa a concordância adequada. O infinitivo (verbo terminado em –ar, -er ou –ir) sempre ficará no singular – ou não flexionado – quando seu sujeito for o mesmo do verbo anterior: Quem participará do encontro? Resposta: casais. Quem orará? Resposta: casais.
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