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"Pensar incomoda como andar à chuva".

18 dez 2009 às 16:06
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"Pensar incomoda como andar à chuva"


O poeta do existencialismo português Fernando Pessoa, um dos nomes mais importantes da literatura mundial, escreveu em seu poema O guardador de rebanhos os seguintes versos:

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"Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais."

Quem já andou à chuva sabe muito bem como ocorre esse incômodo: se chove, mas não há vento, pode até ser divertido; se, porém, passa a ventar, dá-se a sensação de que a chuva aumenta, e o incômodo se instaura; se o vento cresce, então, a sensação é de que a chuva aumenta mais ainda, e o desconforto se transforma em sofrimento. Os pingos chegam a doer quando batem no rosto.
Alguns cidadãos passam-nos a impressão de que isso ocorre com eles quando têm de pensar: chega a doer. Não é, no entanto, uma dor física; não é uma dor real, causada pelas terminações nervosas sensíveis a estímulos externos. É uma dor metafórica, em que há um embaraço de ideias, que leva o indivíduo a automaticamente não prosseguir em seu intento de raciocinar. É-lhe tão difícil pôr em ordem os pensamentos que se lhe apresentam, que opta pelo recurso mais simples: desistir de entender sua própria inteligência.


ENTENDER A PRÓPRIA INTELIGÊNCIA

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Terra sem cultivo não produz; tampouco a mente.


Entender a própria inteligência significa ter capacidade de transformar as ‘coisas’ que passam pela mente em ideias concretas e objetivas; significa traduzir o turbilhão de impulsos nervosos que ocorrem nos neurônios, chamados de pensamento, em conhecimento, em informação. É passar a ter consciência de que o que ocorre na mente não é mero acaso, mas, sim, o propósito maior do ser humano: produzir reflexões acerca da vida para se atingir o objetivo da humanidade, que é realizar plenamente a natureza humana, o conjunto das características físicas, psicológicas e afetivas do ser humano.
Só o ser humano consegue exercer a atividade de pensar. Quase todas as outras características do ser humano, os outros animais as têm. O que nos diferencia dos demais seres sencientes é a produção de ideias; é a nossa inteligência. Precisamos, então, ser merecedores dessa dádiva e praticar a ação de pensar, de refletir sobre nossa existência, de, enfim, produzir ideias concretas e objetivas.

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"TEMOS DE CHEGAR A SER HUMANOS".


Graham Greene diz que "nascemos humanos, mas isso não basta; temos que chegar a sê-los", e isso se consegue se o ato de pensar for praticado sistematicamente. É preciso aprender a pensar de maneira proveitosa. É preciso treinar a mente para praticar essa ação sem que isso represente um sofrimento ou um trabalho penoso, como o é para a maioria. Para chegar a ser humano de fato, temos de exercer a nossa condição de seres pensantes.
O problema disso tudo é que, à exceção dos filósofos, que exercem o pensamento diuturnamente, o mais comum é refletir analiticamente apenas quando se está à frente de um problema de difícil solução. No dia a dia, naqueles momentos em que se não está diante de um ponto do qual se parte para formar um raciocínio, naqueles longos instantes diante do computador ou da televisão ou naquela hora em que se está sossegado, parece ser desnecessário meditar sobre qualquer coisa, quem dirá sobre profundidades reflexivas.


MELHORES, MAIS TENAZES E MENOS INDOLENTES

Platão, no diálogo Ménone, apresenta o seguinte raciocínio de Sócrates: "Procurar conhecer o que nos é desconhecido nos torna melhores, mais tenazes e menos indolentes". Se aprendêssemos isso quando crianças, talvez fôssemos melhores pessoas. Não é isso, porém, que constatamos em muitas pessoas. Inúmeros são os que vivem um infindável fugir ao conhecimento, uma constante apatia em sua vida.
Pensar incomoda; pensar dói. É mais fácil entregar-se ao marasmo. É mais tranquilo ser indiferente às reflexões do que passar a exercer a condição humana de realizar pensamentos bem articulados. Assim que alguns pensam e agem, mas não é assim que tem de ser.
Pensar é entender a natureza do ser humano; pensar é viver melhor, é se desenvolver. Pensar é, enfim, conhecer-se e reconhecer-se como gente e como ser sensível e compassivo.


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