Impressões de leitura

Budapeste - Chico Buarque

07 jul 2004 às 11:00

O livro é ruim. Apenas. Não muito ruim, péssimo ou nojento. Apenas ruim. Pra falar bem dele, diria que é o melhor livro do grande compositor e músico Chico Buarque (o que não quer dizer muito, a se levar em conta seus romances anteriores). Diria mais: o livro tem uma boa fluência de leitura. E o fato de ser relativamente curto (menos de 200 páginas) ajuda (caso você ache muito ruim, dá pra ler até o final).

Não acho porém que você deva deixar de ler esse sucesso de vendas do cantor e compositor Chico Buarque. Leia.


Mas até gostar do livro você terá que passar por alguns deus ex machina.


    Recurso literário sujo. Usar de um elemento externo ao ambiente da história para solucioná-la. Por exemplo: cria-se uma tensão entre os personagens A e B. O cidadão A não tem como solucioná-la. Nem o B. O leitor não tem menor idéia como aquilo se resolve. Tão pouco o autor. A não ser apresentar um elemento C com a solução do caso no bolso da jaqueta. Muito comum em histórias de detetive, onde o culpado pelo assassinato é um parente distante, de quem o leitor em absoluto sabia existência.


Quanto a enredo temos: um escritor-fantasma que se apaixona pela língua húngara e pela cidade de Budapeste. Viaja pra lá, passa uns 3 meses, volta pra sua esposa e filho, vai pra budapeste de novo, fica um tempo na Hungria, é deportado para o Brasil, se encontra sem saída alguma mas recebe um telefonema salvador e volta coberto de glórias para Budapeste.


Clichê? Alguém aí disse clichê?


O narrador é feito em primeira pessoa pela voz de José Costa, o escritor-fantasma. A profissão de José só se justifica por um detalhe do final, quando um escritor-fantasma é usado para escrever seu livro, que se chama Budapeste.


A família do personagem é apresentada de forma caricata, e tem pouco valor na trama. O filho é a criança com dificuldade de desenvolvimento e a esposa a típica workaholic. Quando está em Budapeste, não há qualquer relavância das passagens do livro ocorridas no Brasil. E no Brasil não há nada que o leve a Budapeste.


Tenho a impressão de que o autor tinha duas idéias para seu terceiro livro: a vida de um escritor-fantasma cujo único livro assinado não foi escrito por ele; e a história de um brasileiro que se apaixona pela língua húngara.


Entre as duas opções o cantor e compositor Chico Buarque escolheu a pior via. Juntar as duas. Você consegue ver o que pode ligar esses dois temas? Eu tenho algumas idéias vagas. E o cantor e compositor Chico Buarque também.


Mas ainda assim escreveu um livro inteiro. E não conseguiu provar que as duas podem ser companheiras de texto.


Aqui já não sei se cabe crítica, pois se trata do que o cantor e compositor não fez (além de um bom livro).


Usar um tema de uma língua desconhecida renderia várias brincadeiras de estilo, muita (MUITA) meta-linguagem, aproximações idiomáticas, palavras húngaro-brasileiras, recriações, citações. Nenhum deles é utilizado no romance além de um pouco de meta-linguagem.


Mas esses recursos são opção de autor. Não creio que se possa apedrejar o cantor e compositor (nem mesmo a Geni) por sua opção por não utlizá-los.

Pode-se sim reclamar de sua utilização de clichês, personagens mal realizados, elementos narrativos mediocremente usados e história meia-boca.


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