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Ata do Copom: cenário piora, mas otimismo cresce

28 abr 2004 às 11:00

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A Ata da 95ª reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) revelou que as autoridades monetárias estão muito otimistas com a atual situação do cenário macroeconômico e que a recente adoção da política de redução dos juros irá continuar. Mas não se pode comemorar muito, pois as reduções dos juros ainda serão em "doses homeopáticas", ou seja, espera-se que ocorra um corte de apenas 0,25 ponto percentual na próxima reunião do comitê, que ocorrerá nos dias 18 e 19 de maio.
Reforçamos a idéia de que é necessário aproveitar o momento ainda favorável do cenário macroeconômico para praticar reduções mais acentuadas na taxa de juros, pois, certamente ficará mais difícil de se promover qualquer redução a partir do segundo semestre deste ano.As recentes altas dos IGPs (IGP-10 e 2ª prévia do IGP-M), por sua vez, fez com que alguns analistas mudassem suas apostas de redução dos juros de 0,25 p.p. para manutenção da taxa em 16%. Para nós há apenas um fator que pode interferir na decisão da queda dos juros em maio: a taxa de inflação (IPCA) superar em muito as expectativas do mercado. Caso ocorra o contrário, ou seja, a taxa de inflação ficar muito abaixo do esperado e, ainda, o núcleo se arrefecer de forma significativa, o Copom poderá inclusive reduzir os juros em 0,5 p.p. - que para nós é a decisão mais correta, visto que há espaço e necessidade para se praticar uma queda acentuada.
O tom positivo em relação ao comportamento da inflação e da recuperação da economia imprimido na Ata da reunião de março foi mantido agora também. Os diversos setores analisados pelas autoridades monetárias (atividade econômica, contas externas, inflação, etc.) apontam para uma situação de controle, conforme afirmou o Copom na Ata.
Para o Copom, "a inflação mostrou desaceleração em março, confirmando as expectativas delineadas para o período". Ele afirma ainda que "deve-se notar que alguma elevação pontual das medidas de núcleos e de dispersão da inflação ao consumidor é justificável como conseqüência dos aumentos recentes de preços no atacado, ainda que esses repasses permaneçam moderados, conforme esperado, e compatíveis com cenários benignos para a trajetória futura da inflação".
O cenário de inflação moderada descrito pelo Copom no parágrafo acima já era esperado pelo mercado e por nós desde o final de 2003. Na reunião de janeiro, por exemplo, havia no mercado consenso de que os juros continuariam caindo, ou seja, mesmo diante das expectativas de inflação mais elevadas que em dezembro os analistas sabiam que a alta era pontual e motivada por fatores sazonais e que iriam se dissipar já em março. No entanto, o Copom surpreendeu o mercado e manteve a taxa estável alegando os riscos da inflação se desviar do centro da meta deste ano.
Quanto às questões relacionadas à atividade econômica e contas externas, o Copom afirma que a economia está em curso de recuperação. Afirma, ainda, que a queda da produção industrial sofrida em fevereiro já era esperada - conforme notas da reunião de março - e que está em linha com a dinâmica usual de retomada cíclica do nível de atividade. As contas externas, por sua vez, continuam apresentando resultados positivos bastante expressivos. Com os excepcionais saldos comerciais, o saldo de transações correntes continua positivo e suscita redução da vulnerabilidade externa e conclui que "de forma geral, o cenário externo permanece bastante favorável".
Mesmo quando se trata da questão mais temida hoje pelo mercado mundial, que é a elevação da taxa de juros básica nos Estados Unidos, o Copom coloca a situação de forma muito amenizada. Na Ata, as autoridades monetárias afirmam que a antecipação da previsão do aumento da taxa de juros básica nos Estados Unidos "não deve acarretar correções muito acentuadas nos custos e na disponibilidade do financiamento externo para a economia brasileira ao longo de 2004, apesar da provável instabilidade que deverá ser observada no curto prazo".
Enfim, é surpreendente observar como o Copom está com uma visão tão otimista em relação ao comportamento da economia brasileira e mundial num momento em que a maioria dos analistas aponta para os riscos que rodeiam a estabilidade econômica do país. Inclusive, já estamos sentindo os efeitos da provável elevação da taxa de juros nos Estados Unidos: rebaixamento na recomendação do Brasil para quatro grandes bancos, elevação da taxa de câmbio, queda do valor de face dos títulos soberanos e da dívida externa (C Bond).

Créditos: Alexsandro Agostini Barbosa é economista da Global Invest

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