O Comitê de Política Monetária (COPOM) do Banco Central do Brasil decidirá nesta semana a nova taxa de juros básica (Selic) da economia. Boa parte das apostas dos analistas indica que o COPOM deve manter a Selic inalterada em 16,5% ao ano. Tais apostas se apóiam no discurso contido na Ata da última ocorrida em janeiro, que foi extremamente alarmista em relação a trajetória da inflação. O documento destaca que a elevação dos preços ocorrida no final de 2003, e em janeiro e fevereiro, que teve como fator propulsor os aumentos de preços dos alimentos, educação e transportes por eventos sazonais e por aumento de custo de matéria-prima, pode não ser pontual e sim um movimento permanente de elevação da inflação. Sabe-se que há espaço para redução dos juros, como também havia nos meses anteriores, porém, a atitude alarmista do COPOM na Ata de janeiro, mesmo que infundada, denota que o conservadorismo prevalecerá.
De fato do IPCA e seu Core permanecerem em patamar elevado, fato destacado várias vezes pelo COPOM na última Ata e, também, é uma forma dele (COPOM) não ter que "rasgar" a última Ata caso haja queda dos juros agora. Uma alternativa para que haja redução dos juros sem que a credibilidade do COPOM seja questionada, bem como para alinhar novamente as perspectivas do mercado (e também do governo) que foram contrariadas em janeiro com a manutenção da Selic, o COPOM pode manter os juros inalterados na reunião do próximo dia 18, porém, voltar a utilizar o viés com indicação de baixa. Com isso, o COPOM poderá aguardar o resultado do IPCA-15 de fevereiro, que será divulgado no dia seguinte a reunião, e se o resultado já indicar arrefecimento, como mostram as expectativas, ele pode exercer o viés de baixa através de uma reunião extraordinária após o Carnaval e reduzir os juros em ao menos 0,5 ponto percentual. Caso ocorra o contrário, ou seja, o resultado do IPCA-15 não saia em linha com as expectativas de redução da taxa, o COPOM pode simplesmente não exercer o viés de baixa sem que haja algum problema, como ocorreu em agosto de 2002 e, ainda, consegue manter o discurso de que ele quer reduzir a taxa de juros, mas fará somente em condições favoráveis. Com essa medida, o COPOM tanto alinha novamente as expectativas do mercado e do governo (esse último que quer a redução dos juros o mais rápido possível) como mantém sua credibilidade inquestionável.
No entanto, vale ressaltar que o que temos visto nas últmas reuniões são surpresas, fato que pode muito bem se repetir nessa reunião.
Créditos: Alexsandro Agostini Barbosa é economista da Global Invest.