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Selic abaixo de 15% ao ano é improvável em 2004

04 mai 2004 às 11:00
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Há tempos a janela de oportunidade não era tão grande para a redução dos juros nominais no Brasil quanto a que se instaurou em 2003. Essa possibilidade era vista desde o início do ano, com os indicadores de inflação mostrando queda e o cenário internacional amplamente favorável graças aos baixos juros nos EUA e o conseqüente fluxo de capitais para países emergentes. A chance não foi aproveitada em 2003 e os juros demoraram a cair. Mesmo após o resultado desastroso do ano passado (o PIB apresentou queda de 0,2%), as autoridades monetárias não mudaram sua postura e continuaram se mostrando reticentes à redução da taxa Selic. Se por um lado a política do Copom não mudou, o cenário internacional mudou consideravelmente de 2003 para 2004, com a perspectiva de elevação dos juros nos EUA e, conseqüentemente, do fim da trajetória de queda da Selic.
Assumindo que o Copom continue reduzindo 0,25 ponto percentual a cada reunião, a taxa Selic atingiria 15% a. a. em agosto, a partir de quando se intensificam as apostas de elevação de juros nos EUA. Além disso, os 15% a.a. se tornaram um patamar psicológico de juros. Ultrapassá-lo requer, portanto, um ambiente estável e favorável interna e externamente. Esse não é o cenário de 2004.
Enquanto a janela de oportunidade se fecha, o Banco Central continua imóvel em sua perseguição do centro da meta da inflação, que estabeleceu como objetivo primordial da política econômica, em detrimento da renda e do emprego. O sistema de metas de inflação no Brasil, um país emergente e dependente de capital externo, combinado com tarifas indexadas de setores semi-monopolistas ou monopolistas, requer uma taxa de juro mais alta. Com o elevado grau de repasse das oscilações do câmbio para o IPCA (tanto pelo câmbio em si quanto pelos preços administrados), os juros precisam ficar elevados para compensar a alta dos preços sobre os quais a política monetária não tem efeito com a queda dos preços livres da economia, o que é feito com contenção da atividade.
À medida que cresce a possibilidade de ganhos em outros mercados, os investidores passam a melhor analisar suas posições. Aqueles que apostaram no Brasil irão enxergar um setor público amplamente endividado, um cenário político de pouca coesão e resultados duvidosos, reformas inacabadas e ineficazes, bem como um ajuste externo pautado em fatores conjunturalmente favoráveis: preços de commodities elevadíssimos e atividade interna ainda fraca.
Nesse caso, a uma pequena desvalorização do Real pode seguir uma inversão do fluxo e, quando a saída de capitais se instaurar, os juros não poderão cair para poder amenizar o movimento e seus efeitos sobre o câmbio e a inflação. Dependendo da magnitude desse movimento, ele pode até requerer elevação da Selic.
Em resumo, o Brasil está perdendo a chance de testar novos pisos para a taxa de juros. Até o final do ano essa janela tende a se fechar cada vez mais. O alerta fica para a intensidade do movimento de alta da Selic caso ele se faça necessário. A dose e o período de aplicação da política monetária serão preponderantes para determinar se ela irá apertar estritamente o necessário ou se irá seguir estrangulando o crescimento econômico.
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