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Um camaleão sob o tempo

31 dez 1969 às 21:33
- Divulgação/ Ary Brandi
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"Sou um homem, sou um bicho, sou uma mulher/ Sou a mesa e as cadeiras deste cabaré". Iniciando o canto em tom grave, a figura esfuziante de Ney Matogrosso ao interpretar "Mal Necessário" (Mauro Kwitko) sugere o que muita gente vem esperando. Não apenas as mesas e as cadeiras, mas o espaço do Cabaré do FILO deste ano, muito provavelmente, será preenchido - entre outros nomes - por Ney Matogrosso com a turnê de "Inclassificáveis". A informação é de Luiz Bertipaglia, diretor artístico do festival que este ano completa quatro bem vividas décadas de existência. Segundo ele, assim que finalizada a programação, os dias 18 e 19 de junho serão reservados para o artista de 66 anos que teve o CD de estúdio lançado no mês passado pela EMI com repertório de sua turnê incorporada também em DVD.
Com sonoridade pop rock – assim como já flertado por Ney na década de 70 com Secos & Molhados; em 80 com Cazuza e RPM (aqui, como diretor de cena), e em 2004 com a elogiada parceria do artista com Pedro Luís & a Parede – Inclassificáveis revela uma banda essencialmente jovem, composta por Carlinhos Noronha (Baixo), Júnior Meirelles (Guitarra e Violão), Sérgio Machado (Bateria), DJ Tubarão (Percussão e Pick Up), Felipe Roseno (Percussão) e Emílio Carrera (Piano, Teclado e Direção Musical).
Em entrevista à revista Rolling Stone deste mês, o "camaleão" da música brasileira enfatiza que o rock´n´roll tem muito a ver com o seu universo: "Sou da geração hippie, que cresceu dentro do contexto do rock. Adorava aqueles cantores enlouquecidos dos anos 60, os Rolling Stones, o Led Zeppelin, o Who. E eu fui para uma banda que não era de rock, mas que era considerada rock. Entendia perfeitamente a estética, entendia o que via. E gostava mais dos Stones que dos Beatles".
Falando em estética, "Inclassificáveis" desvela um Ney extravagante e bastante erótico em cena. A começar pelo figurino desenhado por Ocimar Versolato, inspirado nas cerimônias incas no lago Titicaca, em que imperadores espalhavam ouro em pó no corpo. Provocante, durante o show, o artista vai se despindo do macacão dourado (coberto por 45 mil micropaetês) e alguns enfeites de cabeça até mostrar somente o macacão indígena, cor da pele. Como apontado na revista Bravo deste mês, Ney começa a vestir o apertadíssimo figurino 40 minutos antes de entrar em cena.

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O CD começa a rodar com "O Tempo Não Pára", parceria de Cazuza com Arnaldo Brandão, na qual se apropria visceralmente ao cantar "A tua piscina está cheia de ratos/ tuas idéias não correspondem aos fatos/ O tempo não pára". Na seqüência, o dono do contratenor mais conhecido na música brasileira inicia cantando em tom grave "Mal necessário", de Mauro Kwitko, para logo entoar em seu timbre natural "Sou o certo, sou o errado, sou o que divide/ O que não tem duas partes/ Na verdade existe". Iara Rennó e Alice Ruiz aparecem na reflexiva "Leve": "Viver ou morrer é o de menos/ A vida interira pode ser qualquer momento/ Ser feliz ou não, questão de talento". Mais adiante, o romantismo de "Um pouco de Calor", assinada por Dan Nakagawa, implora: "O meu carro que não quer mais andar/ Esta noite que não quer terminar/ Onde está você meu amor?". Em "Mente Mente", de Robson Borba, Ney acompanha o ritmo envolvente cantando: "Me deixe alto, alto, alto/ Daí, eu te prometo, prometo sim/ te deixar mole, mole, mole". O rock anos 80 retorna na clássica "Por que a gente é assim", de Cazuza / Ezequiel Neves / Frejat: "Você tem exatamente três mil horas pra parar de me beijar/ Meu bem, você tem tudo pra me conquistar". A belíssima "Existem Coisas na Vida", composta por Alzira Espíndola e Itamar Assumpção desliza delicados arranjos que fazem pano à genialidade da letra "Existem coisas na vida/ Das quais até Deus duvida/ Têm beijos de boas vindas/ têm beijos de despedida". "Ode aos Ratos", de Chico Buarque e Edu Lobo sugere pegadas da parceria que Ney fez com Pedro Luiz e& a Parede. Arnaldo Antunes é responsável por "Inclassificáveis", música que deu nome ao espetáculo e aos registros sonoros e visuais. Já, Marcelo Camelo aparece em "Veja Bem Meu Bem", já gravada por Maria Rita em seu primeiro disco. Nesta versão, Ney interpreta em suaves arranjos de rumba, tomando para si cada frase que entoa. "Divino Maravilhoso" é um verdadeiro hino atemporal quando diz "É preciso estar atento e forte/ Não temos tempo de temer a morte/ Atenção".
Androginia, homossexualidade abordada, drogas, sexo e, claro, muito rock´n´roll. Tudo isso foi Ney Matogrosso. Ou é. Ou ainda será. "Uma mistura de Carmen Miranda, David Bowie e um Jack Nicholson mais novo. Eles me acham exótico lá", disse Ney à Rolling Stone se referindo às críticas no exterior. Aliás, será que é mesmo preciso algum rótulo quando se ouve, canta, pensa ou fala de Ney Matogrosso?


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