Muita coisa já foi escrita a respeito de como devemos estabelecer e seguir prioridades. A maior parte dos treinamentos em empresas enfoca este assunto. No entanto, seguir prioridades é uma das coisas mais difíceis de se fazer, porque, de repente, tudo vira prioritário, quando não urgente. Até que a gente se cansa e não faz nada. É por isso que quero falar de prioridade de um jeito diferente.
Em 1995, Sydney Pollack refilmou Sabrina, um clássico dos anos 50. Atualizado, o filme contou com Harrison Ford no papel de Linus Larrabee, o multimilionário que se casa com Sabrina Fairchild, e com Julia Ormond no papel da própria. Deixando de lado a clássica história de amor entre a menina pobre e o homem rico, o que gosto no filme é que ele fala sobre prioridades. As prioridades dela, as prioridades dele e de seu irmão mais novo, que é um bon vivant, e das prioridades do pai de Sabrina.
Sabrina queria ser independente, então foi estudar em Paris. Linus (Harrison Ford) queria mais dinheiro e poder, por isso só vivia para o trabalho. Seu irmão mais novo não sabia o que queria, e se arruinava em festas e com inúmeras namoradas diferentes. Já a prioridade do pai de Sabrina era... − bem, este é meu preferido. Deixe-me lhe contar dele com mais calma.
Podemos supor que enviar a filha para o exterior tenha sido a prioridade do pai de Sabrina, ainda mais sabendo que ele ganhava a vida como o motorista da família Larrabee. Podemos adivinhar o quanto ele não deve ter se sacrificado por ela. O surpreendente no filme é que ele não se matou de tanto trabalhar e nem se tornou uma pessoa angustiada por causa desta meta. Pelo contrário, o pai de Sabrina é o personagem mais sensato e sereno no filme.
Ele foi o único que viveu de acordo com sua prioridade e Sabrina revela que o admira principalmente por ele ter vivido como gosta, pelo fato dele ter escolhido ser choffeur para ter tempo de ler. Isso mesmo, a prioridade de seu pai, afinal, era o seu amor pela leitura. Entregando-se a um estilo de vida que lhe permitiu viver de acordo com sua prioridade, ele ainda conseguiu enviar a filha ao exterior e, surpreendentemente, amealhar uma pequena fortuna como poupança.
O que eu quero demonstrar com esta pequena fábula da Sabrina é que quando você pensar em suas prioridades, não pense apenas em coisas "distintas", "nobres" ou "humanitárias". As verdadeiras prioridades nossas são objetivos até mesmo prosaicos. O que caracteriza uma prioridade é o fator motivação. As prioridades que não nos motivam são, na verdade, ilusões e uma hora ou outra nós as abandonamos.
Como a Sabrina que abandonou Paris e quis se casar quando descobriu que sua prioridade era amar. Ou como Linus que largou os negócios quando percebeu que sua prioridade era, na verdade, ser feliz ao lado de uma esposa. Ou como seu irmão, que tomou os negócios para si quando viu que sua prioridade, de fato, era ser útil à família.
As prioridades verdadeiras trazem-nos realização pessoal e nos libertam da pressão para sermos isso ou aquilo. Quando nos entregamos a elas e as vivenciamos, todo o resto flui a contento. É assim na vida, é assim no trabalho. Ou não é? Se não é, responda-me esta pergunta: quando você finalmente sai de férias, todos aqueles assuntos "prioritários" que só você poderia resolver acabam por levar a empresa à falência ou tudo acaba se ajeitando de uma forma ou de outra?
Então, se você tem uma prioridade e sabe que vivenciá-la o tornará mais realizado, entregue-se a ela mesmo que ela seja diferente de todas as prioridades que os outros têm. A única coisa que se perde por abandonar uma prioridade ou por viver as prioridades dos outros é um final feliz. É assim no filme, é assim na vida.
Com carinho, Shri Nitya Satyanarayana