Uma das coisas que se aprende quando o objetivo é qualidade de vida é ler rótulos de embalagens. Sim, sobretudo rótulo de comida, porque comer bem é fundamental para quem quer viver melhor.
Eu aprendi a ler rótulos quando a indicação da validade da comida passou a ser obrigatória no Brasil. E se me recordo disso, você deve perceber que não faz muito tempo assim. Surpreende constatar que há poucos anos ainda pudéssemos comprar coisas estragadas no supermercado.
Gradualmente, outros itens obrigatórios também foram acrescentados aos rótulos. Lembro que esta necessidade surgiu do descrédito do consumidor em relação aos itens artificiais que foram acrescentados aos alimentos. A ascensão dos rótulos surgiu da desconfiança de nossos pais de que comida boa era a comida feita em casa e de que os produtos industrializados e vendidos no supermercado eram pura enganação.
No entanto, a indústria alimentícia virou o jogo ao enriquecer alguns alimentos com vitaminas e ferro.Surgiram achocolatados, danoninhos, flocados, bolachas e amendocrens, que passaram a ser o supra-sumo da nutrição. Isto foi apenas o começo de uma transformação.
Pouco a pouco, nossa comida passava a ser cada vez mais refinada: milho, farinha, soja, arroz e açúcar. A indústria alimentícia retirou destes alimentos todo o seu valor nutricional, cheiro, sabor e cor; deu-lhes novos formatos, acrescentou-lhes aroma, corantes, estabilizantes, emulsificadores, vitaminas, sais, ferro e gordura vegetal hidrogenada; embalou-os em plásticos e papéis coloridos; e os revendeu remodelados nas prateleiras dos mercados. Estes alimentos se tornaram nutritivos e fortificados, como se o homem pudesse fortificar a Natureza depois de tê-la exaurido.
Quando tudo ao redor passou a ser artificial, algumas empresas inteligentes perceberam o mercado de produtos naturais. Por incrível que pareça, ainda há muitas pessoas que preferem comer pão integral com manteiga em vez de cream craker com margarina. Isso deu origem a embalagens onde se lê "natural", "original" e "integral".
Se no começo desta história o rótulo servia para nos prevenir dos ingredientes artificiais, agora ele nos mostra quais alimentos são, de fato, naturais. É como se não pudéssemos mais acreditar que houvesse algo natural, nem se o víssemos com nossos próprios olhos. Se pegarmos uma caixa com suco de laranja, talvez lá dentro não haja apenas o suco da laranja; se tomarmos um chocolate para comer, talvez estejamos comendo gordura vegetal em vez de massa de cacau.
A evolução dos rótulos nos ensina muito sobre a maneira como passamos a nos alimentar (mal). Hoje é praticamente impossível manter uma alimentação 100% natural, 100% integral. Bem, não precisamos de radicalismos, mas precisamos nos acostumar a ler rótulos pelo menos para identificar, entre as diversas opções, aquelas mais saudáveis e naturais.
Em breve, haverá pessoas que não vão querer comer alimentos transgênicos, seja a soja - que já é transgênica em boa parte do Sul do Brasil -, seja a banana, que cogitam ser modificada. A esse respeito, recomendo a leitura do artigo de Ventura Barbeiro sobre Transgênicos no Relatório Alfa. Quando isso virar realidade, talvez vejamos a nossa banana da terra com um rótulo na casca que diz: banana natural.
Com carinho,
Shri Nitya Satyanarayana