Depois de dar adeus aos preconceitos, às proibições, à repressão sexual, hoje, tanto os homens, quanto as mulheres iniciam sua vida sexual muito cedo e passam a ter uma vida sexual ativa. Porém, esta intensa atividade pode vir acompanhada de alguns problemas de saúde, que merecem atenção e tratamento adequado.
Entre estas questões encontra-se o HPV (papilomavírus humano), nome genérico de um grupo de vírus que engloba diferentes tipos e, por ser transmitido sexualmente, pode provocar o surgimento de lesões genitais de alto risco, porque são precursoras de tumores malignos, especialmente do câncer do colo do útero e do pênis, entre outros sinais de baixo risco (não relacionadas ao aparecimento de câncer).
Por ser um vírus que atinge um grande percentual de mulheres, apesar de afetar também os homens, entrevistamos a ginecologista Dra. Rosa Maria Neme, graduada em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, com residência médica e doutorado em Medicina na área de Ginecologia pela Universidade de São Paulo e Diretora do Centro de Endometriose São Paulo. Nesta conversa a médica fala sobre o que é o HPV, seus sintomas, porque ele atinge mais mulheres do que homens e os tratamentos para combater este terrível inimigo da saúde íntima.
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O que é o HPV e por que é tão perigoso? Meninas também podem desenvolver o câncer no colo uterino devido ao HPV?
É a sigla em inglês para papiloma vírus humano. É um vírus transmitido através do contato da pele e, no caso da região genital, transmitido através de relações sexuais e podem causar lesões no pênis, vagina, colo do útero e vulva. Meninas que apresentam o HPV de alto risco podem desenvolver o câncer de colo uterino, apesar de ser raro nesta faixa etária.
As mulheres são mais vulneráveis ao HPV? Em caso positivo, por que?
Em geral, as mulheres apresentam-se mais vulneráveis à infecção pelo HPV por apresentarem variações tanto do ciclo hormonal quanto da imunidade ao longo do mês, diferentemente dos homens. Com isso, apresentam mais chance de contrair a infecção.
O que ocorre quando um indivíduo é infectado pelo HPV? Os sintomas sempre aparecem? Quais são?
Nem sempre os sintomas aparecem naquele momento. O vírus pode ficar incubado e aparecer muitos anos depois. Os sintomas dependem do tipo de HPV que infecta a mulher. As manifestações mais comuns na região genital são as verrugas genitais ou condilomas acuminados, conhecidas como "crista de galo". Já outras pacientes com lesões subclínicas podem não apresentar sintomas, podendo ter apenas manifestações discretas como corrimentos de repetição, por exemplo. No caso dos tipos de alto risco, o HPV pode causar, a longo prazo, o câncer de colo de útero ou antes disso, lesões precursoras do câncer.
Como o HPV pode provocar o câncer de colo de útero?
O HPV provoca alterações estruturais no material genético da célula do colo do útero e da vulva e com isso causa uma alteração genética chamada atipia que transforma a célula normal em uma célula com potencial de malignidade.
Quanto tempo os sintomas demoram para aparecer?
Dependerá de pessoa para pessoa e da imunidade (defesa do corpo) da mesma.
Em mulheres grávidas, quais os riscos da infecção por HPV?
O risco na mulher grávida, pode ser maior, já que a imunidade da mulher nessa fase da vida é menor. Com isso o risco de contrair a infecção é maior e se a mulher já tiver o vírus, a chance do aparecimento de lesões é maior também.
Como é feito o diagnóstico? Quais são os exames solicitados? E se a menina for virgem e estiver com suspeita de HPV?
As verrugas genitais podem ser encontradas no ânus, no pênis, na vulva ou vagina e podem ser visibilizadas através de exame urológico (peniscopia), ginecológico (colposcopia e vulvoscopia). Já o diagnóstico de suspeita pode ser feito através do exame citológico (exame preventivo de Papanicolaou). O diagnóstico definitivo é realizado através de exames laboratoriais de diagnóstico molecular, como o teste de captura híbrida e o PCR e biópsia da região suspeita. Se a menina for virgem, o HPV externo (de vulva) pode ser diagnosticado sem dificuldades.
Como é feito o tratamento? Quanto tempo dura?
Na maioria das vezes, a infecção é assintomática. Nos casos das verrugas, os tratamentos são realizados através de uso de ácidos no local da verruga, uso de laser ou ainda a retirada cirúrgica apenas. Em alguns casos de HPV em colo de útero, pode ser realizada apenas a cauterização do local. A duração do tratamento depende da extensão do processo e da recidiva da doença.
Como prevenir o contágio?
O uso de preservativos em todas as relações sexuais durante todo o tempo. Nem sempre o homem ou a mulher apresentam lesões visíveis a olho nu. Por isso não se pode bobear.
Poderia falar um pouco sobre a vacina contra o HPV? Como ela funciona? Por que ela gerou tanta polêmica? Ela já pode ser tomada no Brasil? Quem pode tomar?
A vacina foi criada com o objetivo de prevenir a infecção por HPV e, assim, reduzir o número de pacientes que venham a desenvolver câncer de colo de útero. Foram desenvolvidas duas vacinas contra os tipos mais presentes no câncer de colo do útero (HPV-16 e HPV-18). O impacto real da vacinação contra o câncer de colo de útero só poderá ser observado após décadas. Há duas vacinas comercializadas no Brasil. Uma delas é quadrivalente, ou seja, previne contra os tipos 16 e 18, presentes em 70% dos casos de câncer de colo do útero e contra os tipos 6 e 11, presentes em 90% dos casos de verrugas.
A vacina funciona estimulando a produção de anticorpos específicos para cada tipo de HPV. A proteção contra a infecção vai depender da quantidade de anticorpos produzidos pelo indivíduo vacinado, a presença destes anticorpos no local da infecção e a sua persistência durante um longo período de tempo. A vacina pode ser tomada no Brasil e é administrada em 3 doses, com 1, 2 e 6 meses.
Qual o tempo de proteção após a vacinação?
Os estudos atuais estimam o tempo de infecção em 8 anos e meio.
A partir de qual idade, se pode tomar a vacina?
Preconiza-se a aplicação da vacina à partir dos 9 anos de idade, mas infelizmente ela ainda não está disponível na rede pública de saúde.
*A Rosa Maria Neme dirige o Centro de Endometriose São Paulo, ela integra as equipes médicas dos hospitais Israelita Albert Einstein, Samaritano, São Luiz e Sírio Libanês. O Centro de Endometriose São Paulo conta com serviços voltados à assistência global da saúde da mulher e valorização da beleza feminina. Rosa Maria Neme possui diversos trabalhos publicados sobre a endometriose e larga experiência no tratamento desta doença.