Mais do que contribuir para delimitar a quantidade de filhos que um casal pretende ter e o melhor momento para sua gestação, o planejamento familiar é essencial para a saúde do bebê e da mãe. Isso porque respeitar o intervalo apropriado entre uma gravidez e outra tem um impacto importante sobre o bem-estar de ambos.
Estudos mostram que gestações que ocorrem com intervalos menores que de um ano e meio entre um parto e um novo teste de gravidez positivo podem estar associados a vários efeitos negativos no bebê como baixo peso ao nascer, prematuridade, maior risco de paralisia cerebral, maior risco de autismo e maior chance de mortalidade no primeiro ano de vida. Para a mãe, não respeitar esse período pode também causar prejuízos como maior chance de dar a luz antes do momento adequado, de desenvolver anemia e de mortalidade por complicações na gravidez e no parto - especialmente entre as mais jovens -, além de maior risco de apresentar sangramento nos últimos três meses de gestação. O número de morte de crianças de até cinco anos, cujas mães esperam pelo menos dois para ter uma nova gestação, diminui em 13% se comparado a um intervalo menor. Quando elas esperam até três anos, o declínio é de 25%, segundo dados da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internaci onal (United States Agency for International Development).
"O planejamento familiar tem como principal objetivo reduzir as gestações não planejadas, que causam diversos impactos negativos, tanto para a mãe (maior risco de abandono escolar pelas adolescentes, de complicações na gravidez por não realizar adequadamente o pré-natal e de parto prematuro) quanto para o futuro bebê (maior risco de neglicencia por parte dos pais - e com isto menos acesso à saúde e à educação - e maior risco de violência doméstica). Além desses, há o impacto emocional para essa família que não planejou o filho", alerta a ginecologista Carolina Sales Vieira, professora da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP).
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O planejamento familiar apropriado resulta em um impacto positivo não só para a gestante, mas socialmente se extrapolado para as populações vulneráveis. Nesse grupo, estão incluídas mulheres com a adesão comprometida a métodos contraceptivos, como as dependentes químicas, as moradoras de áreas com difícil acesso a serviços de saúde e as adolescentes.
Seja nesses casos mais delicados ou nos que a gestante quer evitar uma gravidez em curto prazo, os métodos mais indicados são os contraceptivos de longa ação, como o injetável trimestral, o implante subcutâneo, com duração de até três anos, e o dispositivo intrauterino (DIU) com ou sem hormônio, que pode ser usado por até cinco ou dez anos. Os anticoncepcionais de longa ação têm índice de eficácia superior a 99% no uso do método e podem, inclusive, ser usados durante a lactação, sem afetar o bebê.
A contracepção de longa ação oferece proteção eficaz contra gravidez, não depende da disciplina e constância para administração da mulher e permite a interrupção do uso a qualquer momento caso haja o desejo de engravidar. Esses métodos também se mostram mais custo/efetivos do que outras formas de prevenção à gravidez no que diz respeito aos gastos diretos e indiretos relacionados à gestação não planejada. Por todos esses motivos, é fundamental que a contracepção seja bem orientada e disponível para a população.
"Por não depender da vontade da mulher para ter sua eficácia garantida, os contraceptivos de longa ação têm taxas de falha similar ou menores do que a da laqueadura tubária, o que garante baixissimo risco de uma gestação não planejada. Um exemplo da vantagem destes métodos: de 50% das gestações mundiais não planejadas, em 48% as mulheres estavam usando algum método contraceptivo, o que expoêm o uso inadequado do método. O DIU ou implante subcutâneo protege a mulher de uma gestação independente da motivação da mulher", completa Carolina.
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