Depois de um dia de trabalho e de ocupações com os filhos, tudo o que os pais querem à noite é que eles durmam bem. Mas, e se a criança não consegue? Uma boa noite de sono, segundo especialistas, depende de fatores relacionados à rotina durante o dia. Dormir, ressalta a enfermeira pediátrica Irene de Lazari, de Londrina, é um aprendizado, que deve começar cedo.
É preciso ensinar os pequenos a dormir para que eles possam ter uma noite de descanso físico e psíquico. Irene explica que a primeira fase do sono, chamada de não-REM (sigla em inglês para ‘movimento rápido dos olhos’), traz o descanso físico, mas é na chamada fase REM, caracterizada pela presença de sonhos e maior atividade neuronal e quando o sono é mais profundo, que há o descanso psíquico e a liberação do hormônio de crescimento. ‘Quando a criança não atinge a fase REM pode haver distúrbio de crescimento e do desenvolvimento’, alerta.
A higiene do sono, que ensina a dormir corretamente, nada mais é que uma reorganização dos rituais da noite e a associação da cama com o prazer. O processo é mais comum entre bebês, que não têm um sono contínuo. Se até os seis anos a criança não aprende a dormir, poderá ter dificuldade para pegar no sono e poderá manter a rotina noturna de acordar a cada duas horas. Na adolescência, a falta de limites prejudica o rendimento escolar e provoca irritação e agressividade.
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O primeiro passo para o aprendizado, segundo o pediatra Gustavo Moreira, do Instituto do Sono de São Paulo, é estabelecer um horário para dormir. ‘Como os pais trabalham até tarde, a criança costuma esperar para dar boa noite. É preciso que fiquem atentos à quantidade de horas que a criança dorme.’ O horário estabelecido deve ser respeitado inclusive aos fins de semana. A enfermeira pediátrica explica que, para cada idade, há uma média de horas de sono (veja quadro).
A rotina para dormir, completa Irene, também deve, além do horário, incluir o local - a cama e o quarto da criança. Por isso, não é interessante que o bebê durma na cama dos pais para depois ser levado para a sua. ‘É comum isso acontecer com bebês prematuros, que, pela superproteção dos pais, ‘podem tudo’, dormem quando e onde querem. É preciso ficar atento porque isso acaba criando um hábito ruim’, avalia.
A higiene do sono também ajuda a corrigir distúrbios, como terrores noturnos, apneia e sonambulismo. Os resultados, segundo o neuropediatra Paulo Breinis, de São Paulo, surgem após dois meses de tratamento. ‘A mudança é demorada, pois mexe com toda a estrutura da família. Todos precisam se adaptar às mudanças’, afirma.
Para adolescentes como o hábito de comer ou estudar apoiado ao travesseiro. ‘É preciso que tenham vontade de dormir. Não deve estar associado a obrigações’, diz o biólogo do sono Marco Túlio de Mello, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Causas orgânicas e comportamentais
Algumas fases do desenvolvimento da criança são mais propícias para aparecerem problemas de sono. Quem explica é a enfermeira pediátrica Irene de Lazari, de Londrina.
Os distúrbios, segundo a enfermeira, podem ter causa orgânica ou comportamental. No recém-nascido, a causa orgânica é mais comum e pode ter origem em uma cólica noturna, por exemplo. ‘Mas, na maioria das vezes os problemas relacionados ao sono não tem causas orgânicas, e sim ambientais, pelo comportamento dos pais’, avalia.
Um dos períodos em que é comum, e normal, acontecer distúrbio do sono é em torno dos oito meses de idade. Nessa fase a criança que até então tinha um sono tranquilo pode começar a mudar seu comportamento. Isso acontece, explica Irene, pela própria mudança que a criança passa, com um intenso crescimento e pelo entendimento de que é ‘separado’ da mãe. É nessa fase que algumas crianças costumam até usar algum objeto - um cobertor ou um bicho de pelúcia - para ‘substituir’ a mãe.
Outra fase em que podem aparecer problemas é na pré-escolar, quando a criança tem prazer nas atividades familiares e não quer ir para a cama para não perder essa interação. ‘É a hora dos pais colocarem limites’, explica. No período escolar, com a interação social, a criança também pode passar por um período de euforia que pode atrapalhar o sono. Essa fase, explica Irene, deve ser encarada como de adaptação e os hábitos mantidos.
O número de horas de sono em cada idade da infância, explica a enfermeira, contempla os cochilos durante o dia. E nesses momentos também é interessante organizar o quarto, deixando-o em penumbra, para que a criança durma. ‘Mas é preciso cuidado para ela não inverter e dormir mais durante o dia que durante a noite’, alerta.
Dormir todos os dias no mesmo horário e no mesmo local, ressalta Irene, traz benefícios inclusive para os pais, que também precisam de uma boa noite de sono. ‘Um distúrbio do sono não deve ser desconsiderado. Se todas as mudanças foram feitas e a criança continua não dormindo é preciso procurar um médico’.
Dicas para a criança dormir melhor
● Estabeleça um horário para dormir, que deve ser respeitado também nos finais de semana;
● Crie uma rotina para todo o dia da criança, do momento em que acorda até quando vai dormir;
● Faça a criança exercer atividades ao ar livre pela manhã e à tarde. O contato com o sol é importante para diferenciar o dia da noite;
● À noite, diminua o ritmo, oferecendo atividades mais tranquilas;
● Retire do quarto tudo o que interfere no sono, como computadores e televisão. O quarto deve ser um ambiente escuro à noite;
● O ambiente ao redor do quarto deve ser silencioso;
● Equilibre o horário de dormir com a hora de acordar. As crianças e os adolescentes devem dormir em média 8 horas por noite;
●Os pais devem ter mais contato com a criança durante o dia, evitando a agitação de quando chegam do trabalho à noite;
●Os pais devem ter mais contato com a criança durante o dia, evitando a agitação de quando chegam do trabalho à noite;
● No caso dos adolescentes, é preciso impor limites com relação às atividades noturnas;
● Festas à noite durante a semana e em período escolar devem ser proibidas;
● A cama deve estar associada ao prazer. Usar o espaço para estudar ou comer associam o período noturno com a obrigação. Discussões antes de dormir também devem ser evitadas.
Fontes: pediatra Gustavo Moreira, de São Paulo/ neuropediatra Paulo Breinis, de São Paulo/ biólogo do sono Marco Túlio de Mello, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)/ enfermeira pediátrica Irene de Lazari, de Londrina.