Como parte da programação da "Segunda Parada Cultural LGBTI+" foi realizado no último sábado (1º) o primeiro casamento civil coletivo LGBT de Londrina. O evento ocorreu sob a presença de um Juiz de paz e familiares de oito casais. Juntos há 10 anos, Thiago Albano Pereira Victorino e Ederson Aparecido Victorino Pereira aproveitaram a oportunidade para oficializarem a sua união. O casal se conheceu em 2008, na antiga boate Friends, de Londrina. "Foi paixão à primeira vista, que com o tempo virou amor de verdade", Ederson relembra.
Para eles, a maior dificuldade são as políticas conservadoras e o pensamento retrógrado que ainda existem no país. De acordo com Thiago, há uma bancada muito conservadora de políticos que travam os projetos que são propostos para a comunidade LGBT. "A gente espera que essa situação mude, principalmente para os novos casais LGBTs. Não queremos que eles passem pelas dificuldades que nós já passamos, como o desrespeito e a não aceitação. A gente só quer ser feliz e ter uma família como todo mundo tem".
Casamento homoafetivo no Brasil
Cinco anos após a regulamentação do casamento homoafetivo no Brasil, pelo menos mais de 15 mil uniões foram realizadas no país até 2017, de acordo com dados do CNJ (Conselho Nacional de Justiça). As leis civis para o casamentos de pessoas do mesmo sexo só mudaram depois do CNJ publicar a Resolução nº 175, na qual ficou estabelecido que esses casais teriam direito ao casamento civil, e que tabeliães e juízes ficariam proibidos de recusar a registrar qualquer união desse tipo.
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No entanto, até 2011, os casais da comunidade LGBT não possuíam nenhum direito ao casamento, já que pela lei a ideia de família abarcava apenas os relacionamentos entre homens e mulheres. Nesse mesmo ano, o STF (Supremo Tribunal Federal) reconheceu o regime de união estável de pessoas do mesmo sexo que queriam se casar. No entanto, muitos cartórios, dada a falta de uma regulamentação oficial, acabavam negando qualquer obrigatoriedade e se recusavam a reconhecer o regime como legítimo.
'As mães precisam sair do armário'
A ONG brasileira "Mães pela Diversidade" trabalha há dez anos para garantir pressão popular em assembleias legislativas, em órgãos internacionais de direitos humanos e também apoiar mães e pais de filhos e filhas LGBTs. Em Londrina, o grupo se formou em 2017, quando Sônia Camargo teve contato com a coordenação do Paraná. No começo, elas era em seis mães e se movimentavam de forma tímida. Hoje, o "Mães pela Diversidade" de Londrina conta com 17 mães e pais de jovens LGBTs. De acordo com Sônia, um dos objetivos do grupo é acolher e ajudar os pais que estão com dificuldades em aceitar e compreender os filhos.
O grupo marcou presença na "Segunda Parada Cultural LGTBI+" de Londrina, que ocorreu no último domingo (2) e teve como tema "Temos família e seremos família". Identificados com camisetas e faixas, os integrantes do movimento discursaram no trio elétrico e no palco do Zerão. Para Elis Bueno de Moraes, mãe de uma filha lésbica, a Parada deste ano foi muito marcante "Fizemos cartazes escritos 'abraços de mães grátis' e muitos jovens vieram chorando nos abraçar. Isso é a prova de que a família faz muita falta, de que dói não ter o apoio familiar".
Uma das principais pautas do movimento é a criminilização da homofobia. De acordo com dados do Grupo Gay da Bahia, em 2017 foram registrados 343 assassinatos de gays, travestis e lésbicas, o que significa que a cada 25 horas uma pessoa LGBT é morta. Esse é o maior índice desde que o grupo começou a fazer o levantamento, em 1979. A organização também aponta que o Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo.
De acordo com Mara Damas, mãe de uma filha lésbica, umas das suas maiores preocupações é a violência. "O medo da violência é o que faz a gente perder o sono à noite. Saber que a minha filha não pode andar pelas ruas de mãos dadas com a namorada é algo que machuca muito. Também me preocupa essa onda crescente de políticos que usam a bancada moralista não para fazer política, mas sim para imprimir o preconceito na sociedade".
Segundo Elis, o preconceito começa dentro de casa. "A gente precisa que as mães saiam do armário, que apoiem os seus filhos, para que eles não sofram violência. Nós precisamos espalhar amor e não tanta dor." Elis também reforça a importância do debate no ambiente, para que crianças LGBTs não sejam vítimas de bullying. Ela relembra o caso recente de um garoto dos Estados Unidos de nove anos que cometeu suicídio após se assumir gay na escola.
A melhor forma de acolher os filhos e filhas LGBTs é a compreensão, afirma Elis. "Mãe tem amor, por mais que ela não aceite, ela continua amando. Aumente o seu amor, diminua o preconceito. Ouça o teu filho e tente pensar como ele, porque eu acho que é a melhor forma de aceitar".
O "Mães pela Diversidade" pretende expandir as atividades, com reuniões, palestras e apoio psicológico para orientar melhor as famílias. De acordo com Sônia, em breve será lançado no Facebook um grupo fechado para mães e pais que queiram participar do movimemento e compartilhar as suas histórias. Quem tiver interesse em conhecer mais sobre o grupo basta entrar em contato pelos telefones (43) 99659-9629 ou (43) 998041326.
'Somos uma família como qualquer outra'
Também integrante do "Mães pela Diversidade", a família do transexual Giovanni Augusto Munhos, marcou presença na Parada. Isaura Maria Munhos, mãe de Giovanni, conheceu o grupo através das redes sociais. Para ela, participar do movimento é uma experiência maravilhosa e já aprendeu muita coisa nele.
Casado com Wulliane Dias Maia e pai de Anna Luiza Freghetto, Giovanni diz que ainda é muito difícil ser um homem transexual no Brasil. "Onde quer que você fale que é trans, as pessoas já acham que você é um ser de outro mundo. A gente lida com isso dia após dia e estamos na caminhada por um mundo mais feliz. A gente é uma família como qualquer outra. A casa tem regras, todo mundo tem horário para dormir, para acordar e para comer. A gente paga impostos, vive uma vida normal", ele ressalta.
Para a filha do casal, Anna Luiza, a maior dificuldade está na falta de informação das pessoas. "Às vezes, nos fazem perguntas de uma forma ofensiva. É bem constrangedor e difícil. Na escola, eu tento explicar ao máximo, porque tem gente que pensa que é anormal, que veio de outro mundo. Mas diretamente eu nuca sofri preconceito".
(* Sob a supervisão da repórter Fernanda Circhia)