Muitas pessoas se perguntam, a todo o momento, o que leva um adulto a maltratar, violentar e torturar uma criança? São inúmeros os casos de pais e familiares que cometem estes maus tratos, babás que espancam bebês e conhecidos que violentam sexualmente meninas e meninos.
O último caso de maus tratos contra criança ganhou notoriedade na mídia nacional e chocou o país ao envolver a Procuradora de Justiça aposentada, Vera Lúcia Sant’ana, e uma criança de dois anos. Ela é acusada de agredir violentamente uma criança e foi denunciada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro pelo crime de tortura qualificada.
Segundo a médica e psicanalista Soraya Hissa de Carvalho, este caso é uma exceção entre os casos de maus tratos cometidos contra crianças dentro de casa porque não ficou encoberto. A maioria dos casos de violência infantil no ambiente doméstico não é denunciada. "Agressões graves chegam aos hospitais camufladas na forma de acidentes residenciais, quedas ou versões fantasiosas criadas pelos próprios pais para ocultar surras e maus tratos contra os filhos", alerta.
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A médica explica que violência é todo comportamento que causa dano a outro ser vivo, seja fisicamente, psicologicamente ou moralmente. Contra a criança a violência pode ser física; psicológica; sexual e a negligência – que consiste na omissão dos pais ou responsáveis quando deixam de prover as necessidades básicas para o desenvolvimento físico, emocional e social da criança e do adolescente.
O Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes (CECRIA), gestor do serviço Disque 100, que recebe informações sobre violência contra crianças e adolescentes em todo o Brasil, divulgou estatísticas sobre os casos no Brasil. Segundo as informações, em todo o país, entre janeiro e abril deste ano, o serviço atendeu 8.799 casos de violência contra crianças e adolescentes.
Desde 2003, quando começou a atuar, o Disque 100 encaminhou 123 mil denúncias. Violência física e psicológica contra menores corresponde a 34% do total de atendimentos – mesma proporção de denúncias de negligência. Os casos de violência sexual compõem os 32% de registros restantes.
É bom lembrar que estes números são de violências denunciadas à Central. Os números reais são bem maiores, mas muitas pessoas não denunciam os crimes, muitas vezes por medo de serem identificadas. Exatamente para chamar a atenção da população e que o dia 4 de junho é considerado o "Dia Mundial das Crianças Vítimas de Agressão".
Consequências que acompanham
A psicanalista alerta que as consequências da violência na infância acompanham o indivíduo por toda a sua vida se não houver um acompanhamento médico adequado. "As marcas deixadas no corpo podem até ser curadas rapidamente, mas as psicológicas podem deixar sequelas para toda a vida", afirma Soraya.
De acordo com médica, a maioria das crianças vítimas de algum tipo de violência preenche os critérios de diagnóstico de desordens mentais e estresse pós-traumáticos, apresentando reduzido envolvimento com o mundo externo, re-vivência do trauma, hiperatividade, hiper agressividade e distúrbios de sono. Nos quadros agudos, manifestam sentimentos de infelicidade e pânico, regressões a fases anteriores de desenvolvimento do ego, comportamento autodestrutivo e depressivo.
Alguns estudos afirmam que há a possibilidade de indivíduos vítimas de violência na infância se tornar um adulto propenso a cometer as mesmas crueldades sofridas por ele. "Não há desculpas e justificativas para quem agride uma criança. Estudos mostram que muitos que foram vitimas de violência quando crianças tendem a repetir o modelo aprendido e cometem, na fase adulta, crimes contra crianças", completa a psicanalista.