O Peld (Pesquisa Ecológica de Longa Duração), programa permanente do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) que apoia pesquisas por tempo indeterminado, realiza nos dias 12 e 13 de agosto workshop de integração voltado aos pesquisadores e estudantes participantes, além de outros interessados.
O Programa é desenvolvido nos chamados "sítios”, ou seja, área de interesse para a biodiversidade. Na UEL (Universidade Estadual de Londrina), o sítio se chama Mata Atlântica do Norte do Paraná e atua em fragmentos de Mata Atlântica remanescentes ou em recuperação. É o único sítio no país que já nasceu com o objetivo de monitorar por longo prazo o processo de restauração.
Normalmente, ocorrem reuniões de trabalho, mas como desta vez será necessário realizar o encontro virtualmente, foi decidido promover um evento aberto, conforme explica o professor José Marcelo Torezan (Departamento de Biologia Animal e Vegetal/CCB - Centro de Ciências Biológicas), coordenador do projeto local. A programação ainda não está confirmada e as inscrições ainda não estão abertas, mas o professor adianta que haverá um convidado de outro sítio, para troca de experiências; que todos os subprojetos apresentarão seus resultados e perspectivas; que será via Meet, e que o evento será certificado pela Proex (Pró-reitoria de Extensão, Cultura e Sociedade).
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Para o coordenador do projeto, será a oportunidade de os estudantes de vários cursos conhecerem o Peld. Além disso, nunca houve um evento científico que reunisse todos os sítios, apenas uma reunião bienal em Brasília com os coordenadores.
Monitoramento do ecossistema - O projeto da UEL funciona efetivamente desde 2014 e já se renovou duas vezes – em 2016 e 2020. Conta no momento com nove docentes pesquisadores e estudantes de graduação (IC - Iniciação Científica) e pós-graduação (Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado). Marcelo explica que a equipe muda, com aposentadorias e chegada de novos professores. Ele conta, por exemplo, que estudiosos de mamíferos e de borboletas e mariposas entraram mais recentemente no projeto. Ainda assim, já havia muitos dados coletados sobre tais espécies. O projeto local monitora diversos aspectos do ecossistema florestal (subprojetos), como biomassa, carbono e microclima, além da fauna: aves, mamíferos e insetos, como abelhas, besouros, borboletas e mariposas.
Para o coordenador, o projeto teve muito boa avaliação em 2020. "É um dos melhores sítios do país. Tem uma equipe motivada e os resultados refletem diretamente no Programa de Pós-Graduação em Biologia”, afirma. Marcelo relata que o Programa se divide em pesquisas de ambiente aquático e terrestre. Neste, o apoio do Peld é muito importante nas pesquisas de Mestrado e Doutorado. Outro saldo positivo disso chega na forma de mais recursos financeiros. "Temos um fluxo de recursos forte e, melhor ainda, constante, o que é extremamente raro em projetos de pesquisa. O Peld é um oásis no universo da pesquisa no Brasil”, diz. Cria-se assim um círculo virtuoso.
Apesar de o ano de 2020 também ter sido de menor produção para o projeto, que não pôde realizar a maioria de suas atividades, em campo ou na UEL, algumas ações simplesmente não podiam deixar de ser executadas, como a manutenção dos equipamentos instalados nas matas. Tudo foi feito dentro de um rígido esquema de segurança sanitária. Apesar das dificuldades, o professor ressalta alguns resultados expressivos, embora não necessariamente positivos.
Ele cita, por exemplo, o estudo de aves. Tem-se constatado um fluxo migratório de aves que costumavam viver mais ao norte do país e que começaram a se instalar nas matas da região, muito provavelmente fugindo do calor. Por outro lado, aves locais foram extintas na região. Outro caso, preocupante do ponto de vista ambiental e de segurança, são as invasões cada vez mais frequentes de porcos ferais, ou "javaporcos”, híbridos de javalis (por si já uma espécie exótica) e porcos domesticados que fugiram para as matas e se tornaram selvagens. Marcelo conta que foram registrados ataques a animais e pessoas.
O professor destaca ainda o monitoramento das matas a fim de observar sua recuperação. Ele informa que as metodologias variam, mostrando números mais ou menos otimistas (ou realistas), e afirma que, no norte do Paraná, tem-se apenas 8% de cobertura de Mata Atlântica. Porém, há regiões no estado com apenas 2% da área original. Outro ponto é que, segundo o pesquisador, acreditava-se que as matas apresentavam nível estável de carbono (que ajuda a regular o aquecimento atmosférico), mas observações têm mostrado que está havendo perda de carbono por causa da morte de árvores de grande porte, mais sensíveis. Marcelo observa que a recuperação se dá mais eficientemente quando o reflorestamento é feito em áreas contíguas onde já há mata nativa.
Para o futuro, o coordenador do Peld local tem a perspectiva de ampliar o escopo, incluindo a presença e impacto humanos, e assim com foco interdisciplinar, agregando pesquisadores de outras áreas, como Geografia, Agronomia e Sociologia.
Peld - O Peld (Programa de Pesquisa Ecológica de Longa Duração) teve início em 1999, por iniciativa do governo federal. Ele incentiva a geração e transferência de conhecimento qualificado sobre a biodiversidade e os ecossistemas que a abrigam, com vistas ao desenvolvimento ambientalmente sustentável. Atualmente, a rede Peld conta com 34 sítios de pesquisa distribuídos em diversos ecossistemas – Programas Peld. O Programa conta com apoio financeiro da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), de 13 Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa e do Fundo Newton (British Council).