Os integrantes do Programa UEL Solidária, campanha que foi criada logo no início da pandemia do novo coronavírus – março de 2020 – por professores da UEL (Universidade Estadual de Londrina), atualmente registram queda no número de arrecadações, num momento em que a procura por produtos da cesta básica só aumenta por parte de famílias carentes de Londrina.
O projeto se concentra em duas regiões da cidade: Jardim Itapoã e Conjunto Residencial Vista Bela, ambos na Zona Norte de Londrina. As famílias são selecionadas e indicadas pelos assistentes sociais das UBS (Unidades Básicas de Saúde) dos bairros. Segundo Ana Patrícia Pires Nalesso, chefe de departamento e professora do curso de Serviço Social, do Cesa (Centro de Estudos Sociais Aplicados) da UEL, a iniciativa começou muito bem no início da pandemia – quando os números de casos e infectados ainda eram irrisórios, mas as medidas de restrição de circulação já afetavam os bolsos dos informais.
No primeiro trimestre do projeto, de abril a julho de 2020, foram distribuídos cerca de 70 vales, 35 para cada região. "Em maio [de 2020], conseguimos agregar kits de higiene, com álcool em gel, água sanitária e outros produtos para prevenção do contágio”, ressalta. Naquele momento, os vales disponíveis eram de R$100,00 por família.
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Com o avançar da pandemia, as arrecadações foram caindo. Entre julho e agosto de 2020, o grupo distribuiu uma quantidade menor de vales: 20, no valor de R$60,00. "Como a demanda só aumentava, decidimos diminuir o valor dos vales para cobrir a todos”, explica. Em setembro, o valor do vale caiu mais um pouco: R$50,00. "No entanto, naquela época, ainda havia o auxílio emergencial de R$600,00, então essas famílias ainda tinham alguma reserva”, relembra Ana Patrícia.
A partir de novembro, a arrecadação caiu a níveis críticos. O mês de dezembro, devido às doações de Natal e ao espírito de solidariedade característico da época, teve um bom desempenho. Mas, de janeiro em diante, a situação só piorou. Em fevereiro somente 10 famílias foram atendidas e, em março, a expectativa do grupo é fechar, com sorte, em 20 núcleos familiares atendidos.
O programa recebia, em média, R$10.000,00 mensais no início. Desde o fim de 2020, esse valor gira em torno de R$500,00 a R$1000,00 mensais. "É uma redução brutal. Se muito, são 10% do que recebíamos. Antes, também conseguíamos contribuir com vale-gás, fraldas e outros produtos, além de ajudar estudantes da UEL que precisavam de doações. Hoje não conseguimos mais”. Os vales atualmente se mantêm em R$50,00.
Para impulsionar as doações, o Programa UEL Solidária lançou a "Campanha dos 30”, que consiste na doação de R$30,00 pela chave PIX do grupo: [email protected]. No entanto, são aceitas doações de qualquer valor. "Muitos podem pensar que R$10,00 não ajudam, mas podem fazer a diferença”.
Aumento – Com receitas em baixa, os professores envolvidos no projeto, todos integrantes do UEL Pela Democracia e da Alumni-UEL (Associação de Ex-alunos da UEL), viam com apreensão outro dado: a inclusão de mais e mais famílias no escopo das doações. "A procura começou a aumentar muito. No início, eram 70 e agora são 90 porque decidimos fechar nesse número”, comenta.
A maioria das famílias no cadastro é chefiada por mulheres. Muitas são empregadas domésticas, mas também há vendedores ambulantes, catadores de material reciclável e trabalhadores do setor da limpeza terceirizados. Parte significativa perdeu os empregos. "Encontramos casos de famílias sem renda alguma. Uma mulher visitada recentemente disse que fazia em média cinco faxinas por semana. Agora, faz apenas uma”, comenta Ana Patrícia.
Outro dado preocupante é que o alto número de mortes diárias impacta, também, economicamente essas famílias. "Existem casos de famílias que tiveram um membro idoso que recebia o BPC (Benefício de Prestação Continuada) e morreu. A família inteira perdeu o dinheiro”, comenta. Casos em que crianças têm de ser cuidadas por vizinhos, devido à internação das mães ou pais (às vezes dos dois), também são muito frequentes.