Um novo relatório divulgado na segunda-feira (3) pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) aponta uma série de informações científicas sobre o estado atual dos oceanos, envolvendo aspectos físicos, químicos, ecológicos e socioeconômicos. O documento traz um avançado processo de aquecimento das águas, além de acidificação e queda das taxas de oxigênio (O₂) em ambiente marinho.
Um dos alertas em destaque é a elevação das temperaturas. O monitoramento tem revelado que ocorre não somente nas águas superficiais. Ainda que apenas 25% do fundo do oceano seja mapeado atualmente, já se sabe que o aquecimento em zonas mais profundas vem se passando em um ritmo sem precedentes.
O ano de 2023 teve recordes em temperaturas oceânicas. A publicação ainda aponta que o aquecimento está se tornando mais acelerado. "As principais e bem conhecidas consequências incluem a subida do nível do mar, alterações nas correntes oceânicas e mudanças dramáticas nos ecossistemas marinhos", pontua o relatório.
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Conforme dados divulgados no ano passado pela Nasa, agência espacial dos Estados Unidos, nos últimos 30 anos, o nível dos oceanos apresentou uma elevação média de nove centímetros. O recente relatório divulgado pela Unesco frisa que não há dúvidas de que o processo irá se acelerar e está relacionado com o aquecimento global do planeta, resultado do excesso de emissão de gás carbônico e de outros gases de efeito estufa provocada pelo homem.
O documento diz que o derretimento das massas de gelo na Groenlândia e na Antártica Ocidental contribui para a elevação dos mares.
O Relatório sobre o Estado do Oceano (StOR, na sigla em inglês) lembra que, com o aquecimento global, episódios de extremos climáticos tendem a se tornar cada vez mais frequentes. Há menção aos danos causados por tsunamis, geralmente provocados por terremotos, que podem ser mais catastróficos diante da subida do nível do mar. Além disso, os tsunamis de fontes não sísmicas, poderão se tornar cada vez mais um desafio a ser enfrentado.
A publicação teve a primeira edição divulgada em 2022 com a intenção de fornecer informações que possam servir de subsídios para decisões políticas e administrativas, bem como estimular novas investigações. Sua elaboração também integra os esforços da Unesco para chamar atenção para os compromissos da Agenda 2030, estabelecidos na Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável ocorrida em 2015. Através dela, foram fixados os 17 ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável). O 14º envolve a conservação e utilização sustentável dos oceanos, mares e recursos marinhos.
A nova edição conta com a participação de 98 autores de 25 países. Os pesquisadores chamam atenção para a importância do oceano no controle climático do planeta, uma vez que absorvem grandes quantidades de gás carbônico. No entanto, esse processo tem consequências.
Com maior absorção de gás carbônico, ocorre uma acidificação dos oceanos, que exigem medidas de mitigação. Além disso, os pesquisadores observam que a disponibilidade de oxigênio vem caindo no ambiente marinho em decorrência da poluição, o que afeta as espécies e a biodiversidade.
"O oceano contém 40 vezes mais carbono que a atmosfera. Os cenários climáticos futuros estão considerando o potencial das técnicas de remoção de dióxido de carbono marinho para aumentar este estoque. Foram propostas diversas técnicas, mas a implantação em grande escala não pode ser implementada sem uma maior compreensão sobre como estas novas abordagens irão interagir com o ciclo do carbono oceânico e os ecossistemas marinhos, e os seus riscos e benefícios".
Novas pesquisas
Apesar de reunir diversas informações e estimativas científicas a respeito do estado dos oceanos, a publicação destaca a necessidade de novas pesquisas que permitam aumentar o conhecimento sobre as mudanças em curso e prever as consequências. Além disso, o compartilhamento global de dados de forma equitativa e com livre acesso é considerado um desafio.
"Faltam dados adequados e agregados", frisa o prefácio assinado por Vidar Helgesen, secretário executivo da comissão ocenográfica intergovernamental da Unesco.
Ele alerta que a crise oceânica está se desenvolvendo mais rapidamente do que o conhecimento. "O fato é: não sabemos [o suficiente]. Quando o primeiro Relatório sobre o Estado do Oceano foi lançado, em 2022, aprendemos que a descrição quantitativa do oceano está drasticamente incompleta e, como resultado, o conhecimento atual é insuficiente para informar eficazmente soluções para as múltiplas crises oceânicas que a humanidade está agora enfrentando", acrescenta.