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A alquimia da escrita

Zeca Corrêa Leite - Folha do Paraná
30 abr 2001 às 12:04

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As 466 páginas de "Caminhos que Levam para o Norte" não só representam o romance de estréia do jornalista Eduardo Sganzerla, como também um trabalho que se estendeu por dez anos. Inaugurado o caminho da ficção, o autor pensa no próximo que virá, daqui a uns três anos, tendo como tema a identidade. Contudo, no momento todas as atenções estão voltadas ao romance, em sua fase de lançamento.

Calar-se sobre os planos futuros faz parte das prevenções do escritor. "Superstição", justifica quase com desdém, mas pelo sim pelo não, segue o mandamento do silêncio. Ele quer se segurar por todos os lados, porque agora que descerrou a fita da carreira de escritor, não tem mais volta.

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Sganzerla diz que o ato de escrever acompanhou-o por toda a vida. Somente nas redações dos jornais - atualmente dirige a "Gazeta Mercantil", na sucursal de Salvador - são 25 anos de vida. Por um bom tempo foi repórter da Folha de São Paulo, os últimos anos dedicou à assessoria política. Ingressou no jornal econômico e a esse trabalho soma-se no momento a literatura. Ela representa um contraponto, pois embora estanques, as duas atividades se interligam em alguns aspectos.

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"Para mim uma coisa foi estimulando a outra. Hoje acho que tenho que continuar escrevendo. Aliás, vou continuar escrevendo", determina o autor. Ele entende ser possível "fazer duas, três coisas ao mesmo tempo", especialmente por essa perspectiva da contribuição das várias atividades entre si". A redação final do livro foi praticamente simultânea ao jornalismo econômico.

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"Caminhos que Levam para o Norte", recém-lançado em Curitiba, se passa nos anos 60 e 70, com viagens ao passado e ao futuro, mas as profundas raízes das famílias envolvidas são determinantes em seus destinos. Há sempre um resquício da existência chamando para o traço que atravessa gerações. A história tem o dom de ser como uma sombra lembrando fatos do passado, alinhavando a passagem do tempo.


A exploração de matas nativas faz a riqueza dos Albuquerque, inicialmente em Santa Catarina, depois na Amazônia. Paralela a essa vida corre outra, a da família do capataz Antenor Moraes, que vive na serraria. Apesar da distância econômica e social que os separa, aos poucos fatos e situações vão se enredando nessa trama fazendo com que haja ligações a princípio improváveis. Coisas da vida.

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Como toda ficção guarda alguma proximidade com a biografia de quem escreve, Eduardo Sganzerla tentou se precaver. Catarinense de Joaçaba, 46 anos, diz ter criado "uma técnica para me afastar das coisas pessoais". Quando não havia como fugir a isso, a saída era "misturar com coisas impessoais", diluindo os fatos ao longo da narrativa.


Nas idas e vindas do livro, houve momentos em que a trajetória se tornava verdadeira armadilha. "Eu não sabia como sair", confessa. A esses apertos vinha o troco. "Em algumas situações eu me vinguei dos personagens", conta rindo. Nada grave, apenas uma "vendeta" entre criador e criaturas. "Os personagens ganham vida; é você quem dá vida a eles, e depois não pode mais tirá-la", conforma-se.

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A alquimia da escrita - desenhar os habitantes do livro, com a complexidade de seus caráteres - é fascinante. Sganzerla quedou-se a esse encanto e diz que a realização de escrever um romance está na capacidade de compreensão da realidade. "É uma satisfação inigualável a gente poder - depois de ter trabalho muitos anos como jornalista na acepção da palavra - estender esse universo e manter a chama viva, que era o objetivo dos tempos de juventude".


O processo de construção do romance se deu com a preocupação constante do jornalista em fugir aos modelos consagrados, "mas estar dentro de um estilo que a gente tem que manter vivo, que é o do romance clássico. A trama transcorre dentro desse estilo de começo, meio e fim, embora as histórias estejam embaralhadas. Essa é a sua estrutura física".

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O ponto final no livro foi dado no dia 19 de dezembro de 1999. Em 2000 o escritor trabalhou nas correções, pequenas mudanças, retocando as personagens, checando informações. Agora ele está nas livrarias, lançado pela editora Letradágua, de Joinville.


Volume confeccionado com capricho, a começar pela capa de Antônia Schwinden estampando a ilustração de Fernando Antônio Canalli. A apresentação feita por Domingos Pellegrini Jr. o compara a Érico Veríssimo. "Um grande romance, revelando um grande escritor", vaticina.

Sganzerla não esconde a satisfação com o tratamento dado à obra. Assim como anuncia um novo trabalho para o futuro, descarta poemas e contos de sua lavra. "Sou mais prolixo. Conto é uma coisa perfeita, como a poesia". Apesar da afirmação, ele se mostra satisfeito com o que escreveu. "Fiz o que julguei ser o melhor, mas se está bom ou não quem vai julgar é o leitor".


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