RPG significa Role Playing Game, que em português seria melhor traduzido como Jogo de Interpretação de Papéis. É uma espécie de teatro sem roteiro. Cada um dos jogadores recebe o perfil psicológico de um personagem e o interpreta num cenário determinado. O controle do jogo é do narrador, que pode tornar as cenas (situações) mais violentas ou mais amenas. No Brasil, o RPG chegou na década de 90, através de livros americanos trazidos por turistas. A primeira publicação em português foi o livro "Gurbs", em 1992. Três anos mais tarde começaram a circular nas bancas revistas sobre o tema.
Duas décadas depois de chegar ao país, o RPG conquista cada vez mais adeptos, mas ainda deixa muitas dúvidas e confusões no público geral. A polêmica sobre o jogo de interpretação aumentou no Brasil depois da morte da estudante universitária Aline Silveira, supostamente assassinada durante uma sessão do jogo na cidade de Ouro Preto (MG), no mês de outubro de 2001. Segundo o inquérito policial o jogo "Vampiro" teria ligação com a morte de Aline.
A definição, a polêmica e os benefícios do RPG foram tema de encontro realizado na Biblioteca Pública de Londrina no dia 09 de maio. A coordenação da palestra foi de Juliano Barbosa Alves e contou com a participação de Cassiano Canheti, Wagner Schimidt e um público de perto de 25 pessoas. O nascimento do RPG nos EUA e a proliferação pelo mundo deram o pontapé inicial no encontro, que acabou se concentrando na polêmica do jogo, nas formas de controle (censura) e no uso do jogo na educação.
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O RPG, para seus defensores, pode ser usado como recurso pedagógico. De acordo com Juliano Barbosa, professor de RPG, o jogo melhora o raciocínio e aumenta o conhecimento dos jogadores. "Os participantes passam a se interessar mais pela pesquisa de novos cenários e aprendem mais sobre outros lugares do mundo", analisa. Já para jogador e estudioso do assunto, Wagner Schimidt, os meios de raciocínio usados na mesa do jogo também podem ajudar a resolver problemas da vida real.
Os palestrantes concordaram que a censura não resolveria o problema do RPG no Brasil. A maioria dos livros já trazem uma recomendação etária e alertam os jogadores. "Este é um jogo de imaginação, esforço, criatividade e responsabilidade. Quando o jogo acaba deixe de lado o livro e os dados, e volte para casa", diz uma nota interna da obra "Vampiro", que foi inspirada no filme entitulado "Entrevista com o Vampiro" no Brasil.
Seguindo o mestre
O RPG é um jogo porque traz o desafio, mesmo que seja o desafio apenas de contar uma boa história. Nos jogos mais antigos os conflitos e desafios eram externos. Os jogadores interpretavam personagens do bem e do mal que entravam em conflitos. "Já no 'Vampiro' o desafio é interno. O jogador se torna o monstro. Você era um humano e se tornou um vampiro. Ganhou a vida eterna, mas tem que matar para viver. A luta é baseada na moral e na ética", analisa Wagner Schimidt. Ele também acredita que o objetivo final do RPG é o entretenimento. Não há vencedores e nem perdedores. A diversão está na interação entre o narrador e os jogadores.
O RPG se torna mais violento dependendo da narração do "Mestre". Para Juliano Barbosa, o segredo está na forma como isso é passado. "Temáticas de terror podem ser usadas com crianças, só depende da narração do mestre. 'Dungeons e Dragons', por exemplo, é um livro de combate, mas não traz sangue. A violência é tratada de maneira mais leve. Muitos jogos fazem uma diferenciação clara do bem e do mal. O problema é que as crianças muitas vezes preferem personagens do mal. A saída é colocar limites nos personagens e deixar claro que as maldades cometidas vão ser punidas", defende.
RPG e educação
Vai ser realizado em São Paulo, nos dias 24, 25 e 26 de maio, o I Simpósio de RPG e Educação do Brasil. O encontro tem o objetivo de responder a três perguntas: O que é RPG? Por que usar RPG como ferramenta pedagógica? e Como usar esta ferramenta?. As discussões sobre o tema estão apenas começando, e ainda devem demorar muito para chegar ao conhecimento da sociedade em geral.