O diretor carioca radicado em Curitiba Felipe Hirsch está cercado de coincidências. Amante confesso dos textos contemporâneos que brincam com o mágico universo da memória, ele quase ficou frustrado quando foi tentar comprar, em Londres, os direitos do primeiro texto teatral da inglesa Shelag Stephenson, "Memórias da Água" (Prêmio Olivier em 1997). Eles já tinham sido vendidos e, o mais intrigante é que, para produtores brasileiros.
Quando retornou ao Brasil, Hirsch soube que os direitos tinham sido adquiridos pela produtora carioca Teatro.Art, que o estava procurando para montar o texto. Rapidamente, o diretor embarcou para o Rio de Janeiro e já ensaia o espetáculo, que tem estréia marcada para o dia 24 de março no 10º Festival de Teatro de Curitiba.
A peça conta a história de três irmãs com personalidades antagônicas que se encontram no enterro da mãe. A partir da morte da projenitora, uma série de lembranças e memórias esquecidas voltam à tona num misto de ficção e realidade. "É um texto lindo, com uma veia cômica muito peculiar", conta a produtora Ecila Mutzenbecher, sócia da Teatro.Art. Ela viajava com o marido pela Inglaterra quando assistiu a primeira montagem da peça, no ano passado. Conta que já tinha visto o espetáculo "Por um Novo Incêndio Romântico" (que valeu a Hirsh a indicação para o Prêmio Shell na categoria de melhor autor) no Teatro Leblon e que tal trabalho a impressionou. Quando soube da coincidência, a parceria estava fechada.
Leia mais:
Aniversário de Londrina terá atrações culturais; confira a programação
Apresentação no aniversário de Londrina abre programação do Filo
Londrina é destacada como modelo de ecossistema referência no Brasil
Em Londrina, primeira edição do Fiil debate futuro da inovação
A Teatro.Art já se consolidou no mercado nacional produzindo peças com Andréa Beltrão e Marieta Severo, por exemplo. A mais recente, em cartaz em São Paulo, é o espetáculo protagonizado por Glória Menezes "Jornada de um Poema". A contar pela dedicação da produção e do elenco,"Memórias da Água" pretende sucesso semelhante aos espetáculos anteriores da produtora. Mesmo sem ter patrocínio fechado para a montagem, os ensaios começaram no último dia 5.
Além do curitibano Guilherme Weber - figura carimbada (e imprescindível) nas peças de Hirsch - e Eliane Giardini, ainda integram o elenco Andréia Beltrão e Ana Beatriz Mendonça. Dois atores ainda precisam ser escolhidos para fechar o elenco.
A peça da autora inglesa não é única pérola que figura entre os planos do diretor. Além de "Memórias da Água", Hirsch vai dirigir mais quatro espetáculos somente este ano. Apenas dois devem estrear em Curitiba. Nada contra a capital paranaense, ele adverte, mas uma forma de protesto silencioso contra a "política cultural medíocre da cidade". Hirsch se diz cansado da visão mesquinha que a classe teatral curitibana alimenta, mas ressalva: "Curitiba é a minha casa, é onde eu consigo descansar". Foi na capital, por exemplo que surgiu os primeiros vislumbres do bem sucedido " A Vida é Cheia de Som e Fúria", baseado na obra de Nick Hornby, a mais recente peça dirigida por ele.
Mas trabalho mesmo, só longe do território. Tanto que a agenda está lotada para os próximos meses no eixo Rio-São Paulo. No primeiro semestre, ele estréia no Rio, com a Sutil Companhia de Teatro, o espetáculo "Como eu Aprendi a Dirigir um Carro", de Paula Vogel (Prêmio Pulitzer de Teatro em 1998). A peça tem no elenco mais uma global, a pós-adolescente Leandra Leal. Essa é a primeira vez que Leandra vai trabalhar no teatro, mas Hirsch, que já a conhece, desmancha-se em elogios. "Ela é uma das melhores atrizes que já conheci. É brilhante", comenta.
Leandra Leal provavelmente não será a única a figurar entre as "melhores de Hirsch". No início do segundo semestre ele dirige figuras carimbadas no cenário nacional. Xuxa Lopes, Renata Sorrah e Toni Ramos integram o elenco de "Dinner with Friends (Jantar entre amigos), do americano Donald Margulies (Prêmio Pulitzer 1999). A peça tem estréia marcada para o Teatro do Quatro, no Rio, em outubro.