Para desfazer rumores sobre problemas e brigas com os irmãos produtores Marty e Harvey Weinstein, donos da Miramax, o diretor Martin Scorsese levou ano passado a Cannes um trailer esticado de ''Gangues de Nova York''. O condensado de quase trinta minutos deixou a crítica empolgada e sem fôlego, ansiosa pelo prato principal. Que está chegando hoje às telas brasileiras, em lançamento já avalizado por dois recentes Globos de Ouro (direção e canção original) e que deve receber novo impulso nas bilheterias a partir da próxima semana, quando Hollywood oficializa a lista de candidaturas ao Oscar que será entregue no final de março. Já se antecipa que o filme de Scorsese e o musical ''Chicago'' devem dividir boa parte das nominações.
Somente Woody Allen, embora trabalhando em registro visceralmente oposto, dispensou tanta atenção (e afeição, cada um a seu modo) à cidade de Nova York quanto Martin Scorsese. Apaixonado pela história da criação da cidade natal, o diretor de ''Touro Indomável'' ruminou por quase três décadas antes de desencadear nos estúdios romanos de Cinecittá, não livre de tropeços, sua epopéia sobre um dos episódios definitivos dos primórdios de NY, baseada no livro cult ''Gangs of New York'', de Herbert Ashbury.
O resultado, que agora ganha simultaneamente as salas do mundo, é nunca menos que esplêndido. E se é um filme que abriga certos desequilíbrios, isto corre por conta das quase três horas de exaltação destinadas a compor uma explosiva saga sobre a gênese da violência e o caldeirão multicultural que está na essência não apenas da cidade, mas dos Estados Unidos.
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Recriando e ficcionalizando os fatos, o roteiro assinado por Jay Coks, Steven Zaillian e Kenneth Lonnergan situa a história em 1946, no baixo Manhattan, mais precisamente no lugar conhecido como Five Points. Ali é o teatro de uma guerra sangrenta entre gangues de imigrantes irlandeses, os Dead Rabitts, e os de origem americana, os Native American. Billy the Butcher (Daniel Day-Lewis), líder dos nativos, mata seu rival, Priest Vallon (Liam Neeson), na presença do filho do irlandês, o garoto Amsterdã (Leonardo Di Caprio).
A partir deste momento, Bill toma o controle absoluto do submundo nova-iorquino. Dezesseis anos mais tarde, com a Guerra da Secessão como pano de fundo, chega a Five Points o jovem Amsterdã, disposto a vingar a morte do pai. A gangue dos nativos é garantida pela polícia e seu chefe corrupto, enquanto os imigrantes, na época irlandeses em grande maioria, se viram como podem para sobreviver. O plano de Amsterdã é posto em prática: com falsa identidade, ganha a confiança do pior inimigo e coloca-se sob sua proteção.
No elenco, carisma é o que não falta a um amplamente dominador Daniel Day-Lewis como o nefasto Billy the Butcher, um vilão humano e portanto incomum, alguém que acredita firmemente nos ideais pelos quais lutou durante toda sua vida. Di Caprio volta a dar sinais de inteligência e não compromete como o jovem em busca de sua identidade, levando a bom termo um Amsterdã menos nuançado. Embora com um papel sem grande peso, Cameron Diaz, como a hábil batedora de carteiras, volta a demonstrar que é capaz de bom rendimento, sempre e quando o argumento permite.