Conhecendo a história de Maé da Cuíca, 80 anos, fica a sensação de que o destino conspirou para que ele se tornasse um grande nome do samba. Engana-se quem acha que sua fama de exímio sambista se limita a Curitiba, ao Paraná. Ela se estende até o Rio de Janeiro, onde Maé tem uma estreita amizade com o mestre de bateria da Escola de Samba Salgueiro. Ele conta que se encontrava com ''Louro'' para discutir as mudanças que vêm ocorrendo na batida do samba, deixando para trás o batuque clássico, original, puro.
Quando veio com sua família, de Jacareí, Ismael Cordeiro tinha cinco anos. O pai, ferroviário, precisou pedir transferência para tratar o filho, que sofria de uma doença no fígado, em Curitiba. ''Cheguei aqui exatamente na Revolução de 1932. Estou velho pra caramba'', brinca ele, aos 80 anos. A família de ponta-grossenses se instalou na Vila Tassi, um bairro humilde, onde nasceu o samba de Curitiba. O pai, evangélico, não fazia gosto em ver o filho se interessar pela batucada 'dos criolos do lugar', como Maé mesmo lembra. Não foi suficiente para evitar que aflorasse no rapaz de 16 anos a paixão pelo samba.
Logo já fazia parte da roda samba e entre todos os instrumentos escolheu o tamborim. Foi um dos fundadores da primeira escola de samba da cidade, o Colorado, em 1946, que foi extinta há cerca de seis anos. Assitiu ao carnaval da cidade ganhar corpo e, por anos seguidos, desfilar na Marechal Deodoro. Maé e seus companheiros de bateria fizeram história com o samba afinado e de raiz que levavam para a avenida. ''Fui assistir o carnaval, nos últimos dois anos, e meu vontade de chorar. Quando começamos os desfiles aqui, em 1948, mesmo com poucas escolas era melhor do que está agora. Para mim é muito doído ver tudo isso acontecer ao carnaval de Curitiba'', lamentou ele, em entrevista a FOLHA, no seu apartamento, no Centro da cidade.
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