Com a lua cheia no Zerão, o grande bode Aker parecia mais animado do que nunca para celebrar com o grande público, ao som de tambores e luz de fogos de artifício, uma das festas mais significativas da Europa: o ritual de Akelarre. Trata-se da celebração da entrada do verão, ainda hoje realizada no dia de São João no Hemisfério Norte.
O ritual acontece dentro da caverna de Zugarramurdi, região basca, localizada no extremo norte da Espanha na fronteira sudoeste da França, cortada pela cadeia montanhosa dos Pirineus. No Brasil, o bode Aker com seus olhos de faróis encontrou mais espaço e deu trabalho para o público.
Foi o maior corre-corre no Zerão. Os espanhóis conseguiram divertir e ao mesmo tempo provocar sensações atávicas, provavelmente escondidas na memória coletiva e que pelo jeito ainda dormem no imaginário popular. O fato é que a mistura bombástica de fogo, tambores e totem gigante acordou o público brasileiro bem depressa.
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A população cercou os atores e não arredou o pé de perto do bode Aker admirando a fera de três metros de altura e seguiu sem medo e empolgado a figura do bode que soltava fogo pelas ''ventas'' até que uma grande bomba explodisse sinalizando o fim do espetáculo.
Nem mesmo as fogueiras da Inquisição conseguiram silenciar Akelarre, o ritual conseguiu atravessar o oceano em pleno século 21 para celebrar a fertilidade com os pés na terra roxa de Londrina.
Os seis atores deram cobertura para o bode metálico numa performance lúdica que inicialmente deixou o público confuso, mas rapidamente entendeu os desejos de Aker e abriu alas para ressuscitar a festa popular originalmente realizada por mulheres no século 16.
Antes que as fogueiras da religião queimassem ''as bruxas'', eram elas, as mulheres, quem sacrificavam cabritos, com a desculpa de celebrar a fertilidade, para em seguida assar e distribuir o alimento num banquete oferecido a pobres famintos. Coisas do poder generoso do arquétipo feminino e que não podia mesmo ser tolerado pela Inquisição.