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Loucura e interatividade

Ana Paula Nascimento
18 set 2003 às 17:28

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Discutir a abordagem da "loucura" na sociedade do século 19 e buscar um diálogo com o tempo atual é a proposta do espetáculo "Hysteria", que será apresentado segunda e terça-feira, na Casa de Cultura. O trabalho é baseado em uma pesquisa sobre mulheres brasileiras internadas em asilos psiquiátricos sob o diagnóstico de "histéricas" na virada do século 19 para o século 20.

A peça conta a história de cinco delas, que são consideradas "loucas", por exemplo, por desejarem se engajar politicamente ou terem relações sexuais com homens negros. A idéia é mostrar o quanto esses conflitos e contradições têm referência direta com reflexos de uma sociedade em transição na qual os valores hurgueses buscavam adequar a mulher a um novo pacto social.

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Com uma abordagem bastante inovadora, a peça propõe a interatividade com o público. Desde o início, homens e mulheres são separados. Os primeiros ocupam uma arquibancada e são "espectadores" da ação que se passa na sala do "asilo" onde as mulheres da platéia são acomodadas e com as quais as atrizes interagem.

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"Por ser interativa, a cada apresentação há uma resposta diferente do público que é realmente convidado a vivenciar essa experiência. Não acontece nada chocante, mas uma conversa entre amigos, em que você tem a opção de responder ou não", contou o diretor Luiz Fernando Marques, que com a peça estréia na área de direção.

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Ele e mais cinco atrizes fazem parte do Grupo XIX, formado em 2000 durante curso realizado na Escola de Arte Dramática (EAD), da USP. "A peça não tem a pretensão de ser feminista, mas permite que a mulher do século 21 dialogue com as suas precursoras de cem anos atrás", acrescentou Marques.


O espaço cênico também não é convencional. Normalmente, as apresentações a acontecem em casarões do século 19; em Londrina, será em um galpão que faz parte da Casa de Cultura. Sem iluminação artificial e trilha sonora, valoriza-se a luz natural do ambiente de encenação. O texto é resultado de um processo colaborativo, em que todos participaram na sua construção.

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"Buscamos realmente criar um clima em que as pessoas possam imaginar que estão em um ambiente de reclusão, de hospital, em que o único recurso é a luz natural", disse Marques. Devido a esse detalhe, a peça também é apresentada em horários diferenciados para o aproveitamento da luz. As apresentações acontecem às 16 horas, na segunda-feira, e às 12 e 16 horas, na terça-feira.


A peça que estreou em novembro de 2001, recebeu no ano seguinte o prêmio Grupo Revelação pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), foi destaque no Fringe Œ mostra de teatro paralela ao Festival de Teatro de Curitiba - e recebeu indicação do Prêmio Shell, na Categoria Especial, pela pesquisa e criação da peça. Em abril deste ano, "Hysteria" foi integrada ao projeto "Formação de Público", do governo de São Paulo, em que o espetáculo é assistido por alunos de cursos de alfabetização de adultos, além ser aberto ao público em geral, gratuitamente, nos finais de semana. Em julho, a peça também foi apresentada em um festival de teatro na França.


As apresentações fazem parte do Projeto Imagens do Inconsciente e Barbierê Produções, que de 11 a 28 de setembro, na Casa de Cultura, está promovendo uma série de eventos relacionados a expressão artística dentro da temática da loucura. Exposição, espetáculos, workshop e mesa-redonda fazem parte da programação.


Serviço:
Hysteria

Data: 22 e 23 de setembro (segunda e terça-feira)
Horário: 16h (segunda-feira) e 12h e 16h (terça-feira)
Local: Casa de Cultura
Endereço: Rua Mato Grosso, 537
Tempo de duração: aproximadamente uma hora
Ingresso: R$ 3 (estão sendo disponibilizados 60 ingressos para homens e 60 para mulheres)
Ponto de Venda: Casa de Cultura (das 14h às 19h)
Faixa Etária: recomendado para maiores de 16 anos
Mais informações: (43) 3322-0913


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