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O trabalho de nomear o inominável

Marcos Losnak - Especial para a Folha de Londrina
08 set 2001 às 13:50

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Dez anos é muito tempo. Nesse período os defuntos viram pó, um grande amor pode ser esquecido, uma muda vira árvore, as páginas dos livros ficam amareladas, os amigos mudam de cidade, os animais de estimação desaparecem entre outras coisas.

Dez anos não é muito tempo. Nesse período não se descobre a cura de uma doença, um bebê não se torna adulto, não se elucidam as grandes questões do espírito humano, um deserto não se transforma em floresta, não nasce uma nova espécie biológica no planeta entre outras coisas.

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Entre um ponto e outro a página ''Leitura'' completa neste mês dez anos de existência na ''Folha 2''. A primeira edição foi publicada em 1º de setembro de 1991, com o objetivo de comentar e oferecer sugestões de livros aos leitores. Uma época em que os textos eram datilografados em máquinas de escrever - um tempo em que tudo era preto-e-branco no jornal.

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Publicada semanalmente e de maneira ininterrupta, de 1991 a 2001, ''Leitura'' passou por todo tipo de situação. Foi impressa em quase todos os dias da semana, em todos os tamanhos, em diversas páginas do caderno, passou pelo crivo de vários editores e chefes de redação e, principalmente, de milhares de leitores.

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Difícil saber o verdadeiro motivo de sua longevidade, levando-se em conta que, em matéria de jornalismo, tudo tende a ser efêmero. Talvez pela persistência de alguém que ama os livros como quem ama seu animal de estimação e apega-se ao bicho. Ou teimosia de um sujeito que gosta dos livros como um operário gosta de seu time de futebol do coração. Ou, quem sabe, pela insistência de um sujeito que acredita que a literatura, muito além de diversão e entretenimento, pode oferecer informações que auxiliem o leitor no conhecimento da vida, seja no plano individual ou coletivo.


Nesses dez anos muita água correu - romance, poesia, conto, filosofia, história, memória, biografia, ensaio, etc. Um amplo leque de autores e obras da literatura universal e brasileira. Um leque que representa apenas uma pequena fração dos livros publicados no mercado nacional. Entre centenas de obras lançadas mensalmente, poucas chegam a ser comentadas. Nesse sentido, a página ''Leitura'' não conseguiu oferecer informações completas, pois seria algo praticamente impossível levando-se em conta o grande volume de editoras e publicações.

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Escolher esse ou aquele livro para apresentar ao leitor é tarefa complicada. Primeiro porque é muito difícil ter acesso a todos eles; segundo porque o tempo suficiente para lê-los simplesmente não existiria. E nem sempre pode-se escolher essa ou aquela obra. Em alguns casos é o próprio livro que se apresenta para a leitura, como se chegasse pelas mãos do acaso. É o caso de ser escolhido pelo livro.


Do mesmo modo, todo e qualquer livro contém centenas de informações, objetivas e subjetivas. Escolher aquelas que devem ser ressaltadas é uma questão delicada. A busca da essência da obra deve ser diretriz básica, mas nem sempre isso é possível também. Isso porque, em várias situações, na obra podem ocorrer múltiplas essências. Então, é necessário escolher uma capaz de ser apresentada em poucas palavras.

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Em uma década, aproximadamente 800 textos foram publicados. Neste processo, o sofrimento ocupou - e ainda ocupa - cadeira cativa. Uma dor nascida pela incapacidade de conseguir oferecer ao leitor do jornal, de maneira completa, o que ele pode encontrar no livro comentado. A obra sempre será maior que o comentário sobre ela. Essa é a alegria: nenhuma resenha supera o próprio livro. Ela é apenas uma experiência individual de leitura. Nesse sentido, a confiança do leitor para com a experiência da leitura daquele que escreve o comentário é fundamental. Uma confiança que merece todo respeito.


Nestes anos todos, a página ''Leitura'' vem utilizando um mesmo procedimento. O de atrelar a literatura à vida. Não como uma prática isolada da existência humana, seja ela metafísica ou cotidiana. Mas algo que deve ser encarado como extensão da vida. Seja ela da maneira que for, sem preconceitos.


Neste dez anos, uma série de reflexões surgiram na tela da mente. A imagem mais delineada delas é no sentido de que a experiência da leitura de um livro seja transportada para o texto jornalístico. Com informações que não limitem o número de leitores, mas que o amplie cada vez mais. Que a vitalidade dos sentimentos, das razões e das questões estéticas não sejam descoradas pelo tempo. Nem pelo cansaço do trabalho. Nem pelos erros.

Na maioria das vezes, a leitura é individual e solitária. O interessante é que quando lemos uma obra, ou um simples texto, dividimos com o autor algum tipo de sentimento, sensação ou raciocínio. É o velho mistério de estar só e, ao mesmo tempo, em companhia de algo inominável. Essa companhia pode ser descrita como uma espécie de calor que comporta até a frieza.


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