Por onde andará Haroldo Viegas? Do fotógrafo sabe-se pouco. Do homem, quase nada. Do seu trabalho, uma oportunidade inédita para apreciar surge agora, na exposição "Luz, Lucidez e Alucinação", que abre hoje no Restaurante Beto Batata, em Curitiba. As fotos - imagens de um Brasil interpretado de forma bastante singular - foram extraídas de um acervo de mais de 6 mil slides, deixado sob os cuidados do fotógrafo curitibano Gilson Camargo.
Viegas não vem para abertura da exposição, está em algum lugar entre Rio de Janeiro e a Bahia, provavelmente captando novas imagens. "Ele é meio nômade", justifica Camargo, que guarda a sete chaves o acervo de Viegas e assina a edição e curadoria da exposição. Quando recebeu o material, conta Camargo, existiam cerca de 30 mil cromos. A maioria foi destruída pelo autor. "Ele achava que algumas coisas não eram boas. Obras primas devem ter sido jogadas foras", arrisca o curador da mostra.
O perfil pragmático de Viegas se revela em seu trabalho. As imagens, a maioria feita em cromos, recebem interferências aparentemente simples, que concedem ao resultado final um aspecto de sonho e realidade que a também fotógrafa Mila Yung define bem: "São imagens de silêncio, onde o ruído é a interferência".
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Esse ruído, barulho feito na foto, leva o olhar de quem olha para longe. Viegas os realiza com cortes, de tesoura ou imagem, riscos e sobreposições. O resultado pode parecer tanto assustadoramente belo como aparentemente irreconhecível. Ele é capaz de transformar a bucólica paisagem de uma praia apenas enquadrando sob um ponto de vista pouco provável ou ainda arriscando traços nervosos de retroprojetores sobre a fina película do cromo.
Assim como suas imagens, Viegas também está envolto numa névoa pouco decifrável. Paulista de nascimento, morou no Rio de Janeiro a maior parte dos seus quase cinqüenta anos (ninguém soube informar ao certo sua idade, tão pouco seu paradeiro). Funcionário do Banco do Brasil, foi transferido para uma agência de Curitiba no final de década de 70, mas voltou ao Rio de Janeiro poucos anos depois, mais ou menos no mesmo período em que se aposentou.
Sua última incursão pela capital paranaense foi há dois anos, depois, contam os amigos, ele equipou um veículo com material fotográfico suficiente para alimentar as suas viagens. De tempos em tempos envia novas fotografias para o amigo Gilson Camargo, que tem a incumbência de abrigá-las e - agora - de mostrá-las.
Viegas nunca trabalhou comercialmente com fotografia e, pelo que consta, nunca teve vontade de fazê-lo. Essa é a primeira exposição que reúne parte do seu trabalho. São 31 imagens, ampliadas em tamanhos diferentes. As fotografias acompanham um livro de postais, fruto de um projeto desenvolvido há onze meses no restaurante Beto Batata.
Robert Amorim, mais conhecido como Beto Batata, conta que esse o projeto que surgiu no aniversário de um ano do bar, em 2000, com a exposição e o livro de postais "Armazéns", de Gilson Camargo. Depois disso, Mila Yung e outros fotógrafos do cenário curitibano também já tiveram suas fotos transformadas em postais. "A idéia é dar continuidade ao trabalho, numa cidade em que as coisas parecem não ter tradição de começo/meio e fim", comenta.
"Luz, Lucidez e Alucinação" é o penúltimo trabalho da série, mas Beto já adianta que novos livros podem surgir, dessa vez com a interferência de textos. Enquanto isso, as interferências inéditas e insólitas nas fotografias de Viegas podem ser apreciadas nas paredes do restaurante e também adquiridas, já que o livro de postais está à venda.
Serviço: Luz, Lucidez e Alucinação - Fotografias de Haroldo Viegas Abertura hoje (24 de abril), às 20h, no Beto Batata (Rua Prof. Brandão 678 - tel. (41) 262-0840)