Responsável pelo leilão que resultou na venda do Estádio Brinco de Ouro por R$ 105 milhões, a juíza Ana Claudia Torres Vianna passou a ser alvo de ataques e ofensas nas redes sociais por parte de torcedores do Guarani revoltados com a perda do maior patrimônio do clube.
Em resposta, a Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 15.ª Região (Amatra XV) e os juízes do Fórum Trabalhista de Campinas divulgaram nota defendendo a magistrada e ameaçando rastrear e processar os responsáveis pelas "manifestações de intolerância".
"O Judiciário Trabalhista não se intimidará com esse tipo de atitude, que está sendo devidamente monitorada pelas autoridades competentes, para identificação e responsabilização daqueles que praticaram e vem praticando esses atos repudiáveis", afirmam os magistrados, em nota. "Mais uma vez, os juízes subscritores reafirmam que não aceitarão quaisquer pressões oriundas de interesses particulares ou de grupos para condicionar suas decisões, que são sempre fundadas na legislação em vigor e na sua consciência."
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Estádio do único campeão Brasileiro do interior, o Brinco de Ouro foi arrematado em leilão realizado no Fórum Trabalhista de Campinas na última segunda-feira, pela Maxion Empreendimentos Imobiliários - empresa do grupo gaúcho Zaffari, que é dono de nove shopping centers (incluindo o Bourbon, em São Paulo) e 30 supermercados concentrados principalmente no Rio Grande do Sul.
O estádio - onde o Guarani conquistou o Campeonato Brasileiro de 1978 vencendo o Palmeiras por 1 a 0 e perdeu o de 1986 nos pênaltis para o São Paulo - foi leiloado porque o clube possui cerca de R$ 70 milhões em dívidas trabalhistas em fase de execução (quando não cabem mais recursos).
A dívida total, incluindo ações trabalhistas em curso e débitos tributários e fiscais, é de aproximadamente R$ 250 milhões. A diretoria afirmou que vai recorrer da decisão, pois entende que o terreno de 82 mil metros quadrados onde está o estádio vale quase R$ 400 milhões e pode salvar o clube, que homenageia em seu nome o maestro Antônio Carlos Gomes, autor da ópera "O Guarani".
"A Amatra XV declara seu repúdio às manifestações de intolerância e às ofensas que vêm sendo praticadas por um grupo de pessoas nas redes sociais e em comentários a notícias publicadas em sites de informações", diz a nota da associação, que tece elogios à juíza responsável pelo caso. "A magistrada é uma profissional séria e competente, comprometida com os propósitos da Justiça do Trabalho e está cumprindo rigorosamente seu mister institucional."
DEMOLIÇÃO - O grupo Zaffari se comprometeu a pagar 30% dos R$ 105 milhões à vista (R$ 31,5 milhões) e parcelar os R$ 73,5 milhões restantes em 12 vezes de R$ 6,125 milhões sem ter um projeto para o estádio, situado em um terreno de 82 mil metros quadrados em área nobre de Campinas.
A única certeza é que o estádio não será mantido. "Evidentemente que não adquirimos o estádio para não aproveitar o terreno", afirmou Dárcio Vieira Marques, advogado que representou a empresa no leilão de segunda-feira. "O clube vai ter de entender que não podemos comprar o terreno e deixar o estádio. Mas vamos sentar juntos e dialogar."
Oficialmente, o Zaffari se limita a dizer, por meio de sua assessoria de imprensa, que "maiores detalhamentos poderão ser dados após o registro da carta de arrematação" - depois que todos os recursos forem julgados e o terreno passar a ser da empresa, o que segundo a Justiça Trabalhista deve ocorrer em um ano. "Por ora, todas as atividades previstas para o local permanecem inalteradas, estando o Guarani Futebol Clube no pleno uso do complexo arrematado."
O Guarani afirmou que a primeira medida a ser tomada será ingressar com embargos à arrematação. A Prefeitura de Campinas também disse que vai recorrer, porque duas das cinco matrículas que fazem parte da área leiloada pertencem à administração municipal (juntas, elas representam um terço do terreno).
Além dos recursos judiciais e da ira da torcida do Guarani, o grupo gaúcho terá de lidar com outro problema: Campinas passa por uma revisão de seu plano diretor e da lei de uso e ocupação do solo do município, o que pode alterar o potencial construtivo da área.
O representante da empresa, no entanto, minimiza a questão. "Sabemos que vai levar algum tempo. Existem recursos e embargos. Mas queremos sentar na mesa com os administradores e ajudar na transição que o Guarani vai enfrentar", afirmou Marques. "Com o Executivo a gente se harmoniza. Vamos apresentar um projeto que a administração vai identificar como benéfico para a cidade. Estamos vindo para somar, para melhorar. Não estamos preocupados."