A decisão de Marco Polo Del Nero de deixar a reunião da Fifa pode ter uma consequência imediata para o futebol sul-americano: a perda de uma vaga para as Copas do Mundo de 2018 na Rússia e de 2022 no Catar. Juan Napout, presidente da Conmebol, indicou que "entende a ausência" de Del Nero. Mas admitiu que terá "um voto a menos" na decisão neste sábado.
Del Nero é um dos 25 membros do Comitê Executivo da Fifa e um dos três representantes da Conmebol no organismo que seria "o governo" da entidade. O presidente da Fifa, Joseph Blatter, convocou uma reunião extraordinária do Comitê para este sábado, quando vai decidir quantos lugares cada continente terá nas próximas Copas. Sem o voto de Del Nero, que não pode ser substituído pelas regras, a Conmebol fica enfraquecida.
Os sul-americanos tem quatro vagas garantidas para a Copa e uma quinta vaga passa por uma repescagem. Mas a pressão é para que essa meia vaga seja transferida a outro continente. A redução ainda ocorreria no momento de maior rivalidade entre as seleções sul-americanas, com o fortalecimento do futebol da Colômbia e do Chile. Antes de ser detido, em entrevista à reportagem, José Maria Marin indicou que o Brasil teria "sérios problemas" para se classificar para o Mundial de 2018.
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Napout admitiu que a perda da vaga é "uma chance real" e que vai lutar para manter uma repescagem. "Queremos jogar, seja com quem for", disse.
Os sul-americanos não esconderam hoje a decepção com Blatter diante de sua atitude de não sair ao apoio de dos cartolas Eugênio Figueredo e José Maria Marin, presos nesta semana.
A disputa pelas vagas passou a fazer parte da campanha eleitoral e Blatter colocou a reunião para sábado justamente para poder barganhar apoio para sua eleição.
"Ele está jogando com isso", declarou Michel Platini, presidente da Uefa. O francês insistiu que não vai aceitar ter menos de 14 lugares para as seleções europeias em 2018, incluindo a Rússia, e 13 no Catar. "Poderíamos pedir mais vagas. Mas não faremos", disse Platini.
A atitude de Blatter de sair em busca de votos usando o Mundial foi duramente criticada por seus adversários. "Minha preocupação é a de que essa decisão de vagas seja usada por razões políticas ao se fazer promessas que podem não ocorrer", alertou Ali bin Al Hussein, atual vice-presidente da Fifa e que concorre com Blatter nas eleições.
Mas a pressão sobre os sul-americanos não vem apenas da Uefa. Outros continentes insistem que, se de fato o evento é global, não seria equilibrado manter um sistema em que quase metade dos sul-americanos vão ao Mundial. Blatter, em buscas de votos para sua reeleição, declarou diante dos países da Concacaf (América do Norte e Central) que a região deveria passar de três vagas e meia para quatro. "Se a Copa ficar com 32 times, defendo que a Concacaf tenha quatro lugares", declarou o cartola.
Em 2014, a Concacaf mandou quatro seleções para o Brasil, mas apenas graças a uma vitória do México na repescagem contra a Nova Zelândia. Além disso, a Oceania, com onze seleções, deixou claro a Blatter que iria apoiá-lo na se conseguir pela primeira vez uma vaga automática no Mundial.
Os asiáticos também se queixam de estarem sub-representados. Com 47 membros, eles têm o mesmo número de vagas que os sul-americanos, com apenas dez seleções na região. Se o desempenho em campo foi decepcionante para os asiáticos em 2014, o bloco tem a economia que mais cresce no mundo e é considerado como a nova fronteira dos negócios do futebol.
Se por anos a Fifa contou com um peso grande de sul-americanos no controle da entidade, a realidade é que Blatter praticamente não precisa prestar contas à região. Havelange deixou de ser influente desde que perdeu o cargo de presidente de honra da Fifa por seus escândalos de corrupção. O argentino Julio Grondona, que era quem mandava nos cofres da entidade, morreu no ano passado. Já Ricardo Teixeira foi afastado.O ex-presidente da Conmebol, Eugenio Figueredo, foi preso esta semana, assim como José Maria Marin. Já Del Nero abandonou a reunião.