As frases "Temos o novo Zico", "Surge o novo Ronaldinho" e "França encontra o novo Zidane" já foram repetidas diversas vezes sempre que surge um grande jogador. Foi nesse cenário de superexposição e badalação que Neilton e Victor Andrade surgiram na base do Santos. Desde cedo, a dupla teve a ingrata missão de ser o "novo Neymar" que, na época de surgimento de ambos, ainda estava no clube e nem sequer tinha completado 20 anos.
Içados ao time principal sob enorme expectativa, os atacantes eram o centro das atenções, não pelo que já tinham feito, mas pelo que Neymar apresentava. "De certa forma prejudicou, pois a cobrança era muito maior. Mas serviu de aprendizado e hoje, com humildade, já consigo mostrar que sou o Neilton", conta o atacante, que defende o Botafogo desde o meio de 2015.
Jogando pelo Vitória de Guimarães, de Portugal, Victor Andrade confirma que as comparações atrapalharam. "Por eu ser muito jovem, talvez, a proximidade com ele me fez pensar que eu já tinha chegado no futebol a um patamar que ainda não tinha atingido. Considero uma honra em algum momento a ser comparado com um jogador do nível dele, apesar de nunca ter me enxergado desta forma. O maior ganho disso tudo é que nos tornamos muito amigos e mantemos contato constante até hoje, disse.
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"Todo dia eu bato nele para ele ter humildade, falo essa palavra para ele. Mas ainda vai demorar muito para ele ser um jogador. Ele faz coisas boas, mas faz coisas de jogador iniciante como ele é". A frase dura é de Muricy Ramalho, então técnico do Santos, ao falar de Victor Andrade após um clássico com o Corinthians em 2012.
Quase dois anos após deixar o Santos rumo à Europa, o jogador reconhece a importância de seu antigo treinador. "Ele foi quem me subiu ao profissional. Entendo a preocupação dele, mas creio também que, em alguns momentos, ele acabou me prejudicando um pouco com algumas declarações. Mas não guardo mágoa. Prefiro lembrar que a tive a oportunidade de trabalhar com o grande profissional que ele é."
Sabendo que as comparações serão inevitáveis com todos os jovens que surgirem no Santos, Neilton deixa um conselho. "Não se deixem levar com essas comparações, procurem trabalhar bastante para mostrar a todos suas qualidades e, aos poucos, conquistarem seus espaços por merecimento próprio."
OLIMPÍADA - Neilton demorou um pouco para encontrar seu futebol após deixar o Santos. Por problemas contratuais, foram 10 meses de espera de sua última partida oficial pela equipe paulista até a estreia pelo Cruzeiro. Campeão brasileiro em 2014, o habilidoso atacante não teve muito espaço na equipe então dirigida por Marcelo Oliveira, mas destaca o aprendizado, mesmo sendo um suplente. "Foi muito importante! Aquele time era fera demais e pude aprender bastante com cada um". Sua passagem por Minas Gerais teve modestos 12 jogos e apenas um gol.
Emprestado ao Botafogo no meio de 2015 para ganhar experiência, Neilton enfim pôde ter o protagonismo que dele era esperado quando se destacou na Copa São Paulo de 2013. Pela equipe carioca foram 18 jogos, seis gols marcados e o título da Série B de 2015. "Sempre busco fazer o melhor para que as coisas aconteçam o quanto antes, porém, no meu caso, fiquei surpreso com a identificação que foi criada. Eu particularmente me identifiquei bastante com o clube e principalmente com a torcida. Sou muito grato a eles e dentro de campo espero retribuir."
O sucesso no Rio de Janeiro, palco dos Jogos Olímpicos de 2016, faz Neilton sonhar com a oportunidade de disputar a competição. "Além de ser um objetivo é um grande sonho no qual estou trabalhando bastante para realizar. Porém, a prioridade sempre será fazer um bom papel aqui no Botafogo e se for para representar o Brasil nas Olimpíadas, com certeza será por consequências do trabalho."
Victor Andrade fez diferente de Neilton quando seu contrato com o Santos acabou, em 2014, e decidiu tentar a sorte na Europa. Na chegada ao Benfica, foi bastante orientado pela legião de brasileiros do clube, como Julio César, Luisão e Jonas, e teve de esperar quase um ano para ser convocado da equipe B para defender o time principal em uma partida oficial.
"O futebol aqui é muito diferente e no começo você sente um pouco a cultura tática. Mas você tem se adaptar ao estilo de jogo dos portugueses e dos estrangeiros. É outro mundo, outra cabeça. Você tem que amadurecer rápido. Sinto que eu amadureci, me adaptei bem e consegui jogar até a Liga dos Campeões", conta.
Estar perto dos familiares foi importante para a adaptação ao novo estilo de vida, explica o jogador de 20 anos. "A minha família veio comigo desde o início e está sempre por perto, o que me deixa muito feliz". Mesmo feliz com a vida em Portugal, Victor Andrade não esconde o que mais sente falta do Brasil: "O verão".
Ainda em desenvolvimento, o atacante foi emprestado no início de janeiro ao Vitória de Guimarães para jogar com mais regularidade. Visto como uma das grandes revelações do futebol atual no velho continente, o brasileiro teve seu nome especulado para reforçar o Manchester City na última janela de transferências, mas ele diz que este é um objetivo para "daqui três ou quatro anos".
O foco de Victor Andrade está na Olimpíada, onde poderia reencontrar Neilton e Neymar. "A Olimpíada é o sonho de todo jogador, como qualquer competição pela seleção. Mas ficaria muito feliz se isso acontecesse agora. Se não for, poderia ser na próxima".