Dois temas importantes, com vários pontos em comum. Os problemas relacionados ao sono, com especial atenção para a apneia, a depressão e a ansiedade são altamente prevalentes em pacientes hipertensos. Essas condições mostram-se de difícil diagnóstico e exigem cuidado especial do médico. Esta foi a tônica da mesa redonda de debates durante o XVIII Congresso Brasileiro de Hipertensão.
Para o Dr. Márcio Gonçalves de Souza, assistente da Seção de Hipertensão Arterial e Nefrologia do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, o médico precisa reconhecer, identificar e saber tratar os distúrbios do sono. Ele mostra que 63% dos brasileiros reclamam do sono e que desse grupo, 40% é hipertenso.
A conjunção das duas doenças ocorre porque com a apneia, a faringe, ao relaxar durante o sono, torna estreita a passagem de ar, provocando as vibrações típicas do ronco, até se fechar completamente e interromper o fluxo respiratório temporariamente. Numa reação de defesa, o organismo libera adrenalina, que contrai os vasos, restringindo assim o espaço por onde o sangue circula. Por isso, ocorre uma rigidez das artérias e como o volume sanguíneo precisa correr por vias contraídas, há o aumento da pressão.
Leia mais:
Projeto de Londrina que oferece música como terapia para Alzheimer é selecionado em edital nacional
Unindo religião e ciência, casa católica passa a abrigar consultório psicológico gratuito na zona sul
'Secar' o corpo até o verão é possível, mas exige disciplina e acompanhamento
Ministério da Saúde inclui transtornos ligados ao trabalho na lista de notificação compulsória
Das pessoas com apneia, 70% possuem hipertensão resistente, 50% insuficiência cardíaca e 35% hipertensão arterial, o que mostra o risco de um episódio cardíaco durante o sono. Portanto, apesar da doença ainda ser subdiagnosticada, recomenda-se o tratamento.A terapia mais eficaz e com maior comprovação científica para a síndrome das apnéias obstrutivas do sono é o CPAP, aparelho colocado no nariz do paciente durante o sono, consiste basicamente em manter abertas as vias aéreas, tornando-as permeáveis.
"Os resultados com o CPAP são extremamente positivos, reduzindo bastante a apnéia, porém, a mesma redução não é observada em relação aos níveis pressóricos", comenta Dr. Márcio. "Ainda assim, recomendo o tratamento pelo benefício da redução do risco de complicações cardiovasculares", acrescenta.
Segundo o Dr. Geraldo Amaral, professor adjunto do Departamento de Saúde Mental e Medicina Legal FM/UFG, a depressão e ansiedade são temas aparentemente fáceis, mas é preciso cuidado para o diagnóstico correto. Ressalta que é fundamental a diferenciação entre estados de tristeza e humor deprimido, ou uma anedonia, que é a perda total por interesse e prazer nas suas tarefas rotineiras. Ao mesmo tempo em que a complexidade dos sintomas, as dores físicas podem auxiliar no subdiagnóstico.
A depressão, assim como a ansiedade, tem grande prevalência entre os hipertensos, variando de 20% a 44% dependendo da gravidade do quadro manifesto.
"Um dos grandes problemas é identificar corretamente e manter o tratamento das duas doenças simultaneamente, uma vez que a hipertensão precisa ter controle constante e a depressão apresenta alto grau de reincidência", argumenta Dr. Geraldo (com Advice Comunicação Corporativa).