Embora tenham as mesmas causas, as micoses de unha e de pele diferem em importantes aspectos, como sintomas e tipo de tratamento. O Dr. Nilton Di Chiacchio, doutor em dermatologia pela USP (Universidade de São Paulo) e chefe da Clínica de Dermatologia do Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo, esclarece as diferenças entre os dois tipos de micose e dá dicas para a prevenção desta doença.
Qual é a causa das micoses?
Dr. Nilton Di Chiacchio – A onicomicose, ou micose de unha, e as micoses de pele são causadas por fungos dermatófitos e leveduras, sendo que os tipos de fungos são praticamente os mesmos nos dois casos.
Leia mais:
Projeto de Londrina que oferece música como terapia para Alzheimer é selecionado em edital nacional
Unindo religião e ciência, casa católica passa a abrigar consultório psicológico gratuito na zona sul
'Secar' o corpo até o verão é possível, mas exige disciplina e acompanhamento
Ministério da Saúde inclui transtornos ligados ao trabalho na lista de notificação compulsória
Quais são os sintomas em cada um dos tipos de micose?
Dr. Nilton Di Chiacchio - Na pele a micose provoca manchas e algumas vezes coceira e descamação, enquanto a onicomicose é assintomática e só é percebida por causar deformidades, prejudicando a aparência das unhas.
Qual o tratamento indicado a cada tipo de micose?
Dr. Nilton Di Chiacchio – As micoses de pele devem ser tratadas com cremes, pomadas ou loções e o tratamento dura de 15 a 30 dias. Como a epiderme se renova em apenas 28 dias, a eliminação do fungo é mais rápida.
Já o tratamento da micose de unha deve ser feito com o uso de esmalte terapêutico, associado ou não a medicamentos orais. O esmalte é o único tratamento tópico eficaz, pois o acesso ao local é mais difícil e os cremes ou pomadas não penetram nas camadas da unha. O tempo de tratamento da onicomicose também é diferente. Como crescimento da unha é mais lento, cerca de oito meses para unhas dos pés e quatro meses para mãos, quando o fungo atinge a matriz, o tratamento leva em média 11 meses para pés e seis para mãos.
O que facilita o surgimento de micoses nas unhas?
Dr. Nilton Di Chiacchio – Nas unhas das mãos as micoses costumam surgir quando há muito contato com água e sabão ou quando a unha passou por um procedimento de manicure muito agressivo, que provoca lesões, facilitando a entrada do fungo. Algumas situações que provocam traumas constantes, como a digitação, também facilitam o descolamento da unha e a entrada do fungo.
Nos pés, a incidência da onicomicose é maior em decorrência do uso de calçados fechados, que criam um ambiente úmido e quente. Batidas e pressão nos pés também podem descolar as unhas, principalmente em práticas esportivas.
A micose de unha pode ser transmitida de uma pessoa para outra?
Dr. Nilton Di Chiacchio – Sim. A transmissão ocorre pelo contato com o fungo, seja pelo uso de uma mesmo calçado, contato com objetos ou água contaminada. No entanto, algumas pessoas têm uma deficiência imunológica específica contra fungos e estão mais predispostas a manifestarem a doença.
Por que a incidência das micoses é maior no verão?
Dr. Nilton Di Chiacchio –O clima quente propicia um aumento da sudorese, além de estimular as pessoas a frequentarem lugares como piscinas e praias. A beirada da piscina é um local de grande contaminação por fungos, por causa da circulação de pessoas descalças e da umidade. Dentro da piscina a água costuma ser tratada, mas ao seu redor fica mais quente e parada.
O que as pessoas devem fazer ao perceberem alterações na aparência das unhas?
Dr. Nilton Di Chiacchio – O primeiro passo é procurar um dermatologista. Se o diagnóstico for de onicomicose, o especialista avaliará o grau de comprometimento da unha para a indicação do tratamento. Quando há o comprometimento de menos de 50% da unha, indica-se a monoterapia com o uso de tratamento tópico, ou seja, o esmalte terapêutico. A partir de 50% de comprometimento deve-se fazer a associação do esmalte com um medicamento sistêmico, via oral.
Como saber se a unha está livre da doença?
Dr. Nilton Di Chiacchio - A melhora clínica é percebida pela aparência da unha, quando ela está perfeita, mas para constatar a cura micológica é necessária a realização de exame laboratorial. Normalmente, quando a pessoa faz o tratamento corretamente, seguindo a orientação do especialista, não é necessário fazer nenhum exame, pois a eficácia é garantida.
O Dr. Nilton Di Chiacchio dá dicas para evitar a micose de unha:
* Manter as unhas sempre secas.
* Evitar traumas e lesões nas cutículas. Usar sapatos muito apertados ou muito largos pode prensar os dedos ou provocar movimentos, batendo a unha no calçado.
* Evitar o uso de sapatos fechados por períodos prolongados.
* Não usar o mesmo sapato em dias seguidos. Algumas pessoas usam muito o mesmo tênis, que é um calçado muito abafado e facilita a umidade nos pés. O ideal é deixar o calçado ao ar livre sempre que for usado e higienizá-lo corretamente.
* Fazer a higiene correta dos pés, secar bem e usar talcos antifúngicos. Uma dica é utilizar o secador de cabelo.
* Se uma pessoa tem micose, mesmo estando em tratamento, o sapato fica contaminado e o fungo tem condições de se proliferar, por isso é importante não usar o mesmo sapato sem fazer a higiene adequada.
* A micose de unha é rotina para esportistas (jogadores de basquete, futebol, tênis e outros esportes em que há muitas "freadas" com os pés) por causa dos traumas, que descolam a unha e abrem uma porta para os fungos. Por isso esportistas sempre tem um nível de incidência de onicomicose maior que o restante da população.
* Mulheres devem evitar o uso constante de sapatos de salto alto e bico fino, que comprimem os dedos e as unhas por causa do estreitamento no formato.
* Algumas pessoas ficam com meia o dia todo, mesmo quando estão sem sapato. É importante deixar o pé respirar (com informações The Jeffrey Group).