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Desenvolvimento

Crianças ociosas se tornam mais criativas, diz estudiosa

BBC Brasil
04 abr 2013 às 14:19

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- Divulgação
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Para Teresa Belton, pesquisadora da Universidade East Anglia, na Grã-Bretanha, a expectativa cultural de que as crianças estejam sempre ativas pode minar o desenvolvimento de sua imaginação.

Em seu estudo, Belton ouviu a escritora Meera Syal e o artista plástico Grayson Perry sobre como o tédio os ajudou a desenvolver sua criatividade na infância.

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Além de escritora e jornalista, Syal é uma famosa comediante na Grã-Bretanha. Perry é hoje um reconhecido artista que faz trabalhos em cerâmica, e suas criações já foram expostas até mesmo no Museu Britânico, em Londres.

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Syal disse que o tédio fez com que ela escrevesse, enquanto Perry afirmou que isso era um estado criativo para ele.

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A pesquisadora ainda entrevistou um grande número de outros escritores, artistas e cientistas, durante sua busca sobre os efeitos do tédio.


Ela estudou as memórias da infância de Syal, que cresceu numa pequena vila de mineiros, lugar sem muita coisa para fazer.

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Belton disse que "a ausência de coisas para fazer motivou (a escritora Syal) a gastar horas do dia a falar com outras pessoas e a tentar outras atividades que em outras circunstâncias ela jamais teria experimentado, como interagir com os mais velhos e vizinhos e aprender a fazer bolos".


"Tédio é frequentemente associado a solidão, e Syal gastou horas de sua infância observando pela janela o campo e as florestas, assistindo a mudança do clima e das estações."

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"Mas o mais importante foi que o tédio a fez escrever. Ela mantinha um diário desde pequena, que preenchia com observações, pequenas histórias, poemas e críticas. Ela atribui a esta fase seus primeiros passos como a escritora que se tornaria mais tarde", disse Belton.


Reflexão

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Syal, a comediante e escritora, disse que "a solidão imposta como uma página em branco foi um ótimo estímulo".


Já o artista plástico Grayson Perry afirma que o tédio também pode ser benéfico para adultos: "conforme fui envelhecendo, passei a apreciar a reflexão e o tédio. O ócio é um estado muito criativo."

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A neurocientista e especialista em deterioração da mente Suzan Greenfield, que também respondeu a questões para a pesquisa de Belton, relembrou a infância em uma família com muito pouco dinheiro e sem irmãos até os 13 anos de idade.


"Ela confortavelmente divertia a si mesma, inventando histórias, desenhando figuras para suas fantasias e indo até a biblioteca", disse Belton.

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Ainda de acordo com Belton, que também é especialista no impacto das emoções no comportamento e aprendizado, o tédio pode ser um "sentimento desconfortável". Para ela a sociedade "desenvolveu uma expectativa de ser constantemente ocupada e constantemente estimulada".


Mas ela advertiu que a criatividade "envolve ser capaz de desenvolver um estímulo interno".


"A natureza estimula um vácuo que tentamos preencher", disse ela. "Alguns jovens que não têm a capacidade interior ou a resposta para lidar com o tédio criativamente. Às vezes eles terminam vandalizando abrigos de pontos de ônibus ou saindo inadvertidamente para um passeio de carro."


Curto-circuito


Belton, que também já estudou o impacto da televisão e vídeos na escrita das crianças, afirma ainda que "quando os pequenos não têm nada para fazer, eles imediatamente ligam a TV, o computador, o celular ou algum tipo aparelho com tela. O tempo gasto com estas coisas aumentou.


"Mas crianças precisam ter um tempo para parar e pensar, imaginando que eles possuem seus próprios processos de pensamento e assimilação, por meio de experiências com brincadeiras ou apenas observando o mundo ao seu redor."


Este é o tipo de coisa que estimula a imaginação, ressalta a pesquisadora, enquanto a tela de alguns aparelhos "tende a criar um curto-circuito no processo de desenvolvimento da capacidade criativa".
Syal ainda reforça: "Você começa a escrever porque não há nada para provar, nada a perder e nenhuma outra coisa para fazer."

"É muito libertador ser criativo por nenhuma outra razão além do próprio passatempo."
Belton conclui: "Para o bem da criatividade talvez devamos diminuir nosso ritmo e ficar offline de tempos em tempos."


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