O mundo celebra neste sábado (8) o Dia Mundial dos Cuidados Paliativos. Assim, a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), em parceria com a Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP), realizará a conscientização da comunidade de profissionais envolvidos no envelhecimento populacional para a importância da paliação como linha de cuidado essencial, capaz de dar suporte a pessoas com doenças incuráveis, que ameaçam a vida e, sobretudo, atuar de maneira adequada no manejo da dor decorrente do quadro do paciente.
A presidente da Comissão de Cuidados Paliativos da SBGG, a médica geriatra Laiane Moraes Dias, esclarece que a dor, principalmente a crônica, pode causar grande prejuízo na qualidade de vida do indivíduo idoso, resultando em limitações físicas e funcionais, impactando no bem estar pessoal, na vida social e no trabalho.
"Muitos pacientes em cuidados paliativos vão experienciar a dor em algum momento da evolução de suas doenças, ocorrendo de forma mais frequente e mais intensa nas fases avançadas", diz.
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Segundo Laiane, as consequências biopsicossociais da dor enfatizam a importância de um controle e tratamento adequados deste sintoma. Não é raro pacientes evoluírem com quadros depressivos, ansiosos, insônia e perda de apetite por causa de dor.
Neste sentido, muitas vezes é preciso haver a assistência por uma equipe interdisciplinar. A geriatra relata que é preciso compreender que nem sempre a dor poderá ser aliviada só com a medicação prescrita pelo médico. Muitas vezes o alívio deste sintoma é alcançado por meio de um conjunto de intervenções de profissionais de saúde, como fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, psicólogo, e até mesmo de consultor espiritual, pelo comprometimento multidimensional da dor.
Tem indicação para esta linha de cuidado paliativo todas as doenças crônico-degenerativas. Demência, síndrome de fragilidade, doença renal crônica, insuficiência cardíaca, doença pulmonar obstrutiva crônica, câncer e tantas outras. No caso do câncer, aproximadamente 80% dos pacientes apresentam dor, sendo que em alguns desses casos ela será decorrente do próprio tratamento oncológico. Estima-se que pelo menos 40% desses pacientes não têm sua dor controlada.
A geriatra reforça que é importante lembrar que muitos idosos portadores de outras doenças crônicas, como o Alzheimer, o acidente vascular encefálico (AVE) e doenças osteomusculares (como osteoartrose), apresentam dor subdiagnosticada e negligenciada, contribuindo para a piora da qualidade de vida desses idosos.
Fragilidades no acesso à Paliação
Segundo a Worldwide Hospice Palliative Care Alliance (WHPCA) – entidade formada pela aliança de 80 países, entre eles o Brasil, que encabeça o movimento mundial "Viver e Morrer com dor. Não Precisa ser Assim", com apoio da Organização Mundial da Saúde, mais de 18 milhões de pessoas morrem com dor no mundo.
Embora não haja dados recortados para o Brasil especificamente neste quesito, a SBGG relata que pessoas com doenças incuráveis não têm sintomas adequadamente tratados. Além disso, são subestimadas as necessidades sociais, psicológicas e espirituais dessas pessoas e de seus familiares.
No Brasil, existem fatores que limitam a ampliação da oferta de cuidados paliativos. De acordo com o médico geriatra e diretor da SBGG, Daniel Azevedo, um dos organizadores do evento no Rio de Janeiro, as pessoas ainda desconhecem o objetivo desse tipo de cuidado, reconhecendo-o como um sinônimo de ‘cuidados ao fim da vida’ quando na verdade esta modalidade terapêutica é bem mais abrangente e por vezes iniciada alguns anos antes da morte da pessoa.
"Ou até décadas, como no caso de uma demência de progressão lenta", pontua o geriatra."A essência dos cuidados paliativos consiste em permitir que a pessoa e seus familiares possam viver da melhor maneira possível o tempo que lhes resta. A intenção não é dar anos a vida, mas sim, vida aos anos", conclui o geriatra Daniel Azevedo.
Ainda há, segundo Azevedo, uma percepção infeliz de que os cuidados paliativos envolvam eutanásia, o que está completamente equivocado. Além disso, existe pouca divulgação das diretivas avançadas de vontade e resistência a registrá-las porque talvez as pessoas tenham medo de serem abandonadas pelos médicos ou de não receberem o melhor tratamento possível se deixarem registrado o seu testamento vital.
Outro ponto, destacado por Azevedo, cabe ao acesso a serviços de cuidados paliativos e a medicamentos para controle de dor e outros sintomas no ambiente domiciliar – que ainda é limitado em todos os níveis de assistência a saúde.
Para tentar mudar esse panorama, a presidente da Comissão de Cuidados Paliativos da SBG, Laiane Dias, defende ser urgente incluir a disciplina de "cuidados paliativos" no currículo de todas as profissões da área da saúde, com o intuito de preparar os profissionais desde a graduação para lidar com a finitude, incutindo a certeza de que existe sempre muito a se fazer, mesmo que o paciente seja portador de uma doença incurável