A laqueadura só é recomendada sem restrições para mulheres com problemas de saúde, tais como diabetes descompensada, histórico de eclampsia e pressão alta.
É preciso muito diálogo entre o casal e o profissional de saúde para que a decisão de fazer uma laqueadura seja consciente e autônoma. A cirurgia é um procedimento que apresenta apenas 50% de chances de sucesso em sua reversão. Em alguns casos, se realizada com cuidados microcirúrgicos, a laqueadura pode chegar a uma taxa de reversão com 70-80% de incidência de gravidez. Mas são poucos os centros de saúde que contam com tecnologia e profissionais capacitados para realizar a reversão deste procedimento, o que dificulta o acesso a este tipo de tratamento. "Antes de pensar em fazer a laqueadura é preciso buscar outros meios contraceptivos, como a pílula, o DIU ou os anticoncepcionais injetáveis", aconselha o ginecologista Aléssio Calil Mathias, diretor da Clínica Genesis.
A experiência clínica ensinou ao médico que a paciente que busca a reversão da laqueadura, na época da cirurgia, tinha pouca idade e pouca experiência de vida. "Geralmente, elas não imaginam que poderiam se casar novamente e que desejariam ter filhos com o novo parceiro. Outras não contavam que o crescimento dos filhos fosse tão rápido e logo o lar estaria vazio. E há também as mães cujos filhos faleceram. E além das razões particulares, há também imposição do marido, dificuldades financeiras e outros problemas de saúde, que podem levar a mulher a optar pela laqueadura", diz Mathias.
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O Brasil tem um dos maiores índices de laqueaduras do mundo, com 40% das mulheres em idade reprodutiva -de dez a 49 anos- esterilizadas, ao lado da Índia e China, segundo a Organização Mundial da Saúde, (OMS). Nos Estados Unidos, esse índice é de 20% e na França, de 6 %. "É preciso explicar à mulher que, tecnicamente, a laqueadura é um método definitivo de contracepção, realizado pela obstrução da tuba, que liga os ovários ao útero. Só é recomendada sem restrições para mulheres com problemas de saúde, tais como diabetes descompensada, histórico de eclampsia e pressão alta. Métodos definitivos devem ser usados como último recurso, quando a gravidez implica em risco de vida", informa o ginecologista Aléssio Calil Mathias.
É possível reverter?
A reversão da laqueadura, a salpingoplastia, é um procedimento complexo e poucos serviços do SUS o oferecem. Pode ser realizada por anastomose tubária microcirúrgica, via laparotomia ou via laparoscopia. "Quanto mais jovem a mulher esterilizada procurar pela reversão, maior é a probabilidade de que ela venha a engravidar no futuro. Quanto menor o tempo de esterilidade, maior é a chance dela engravidar novamente", explica o ginecologista.
O grau de reversibilidade varia de acordo com a lesão que a técnica cirúrgica causou. Assim, laqueaduras feitas com anel plástico ou clipes de titânio são mais fáceis de reverter. Para as pacientes que foram submetidas à salpingectomia (retirada das trompas), a reversão é impossível.
Uma nova gravidez
"Após a reversão tubária, em média, as mulheres demoram de seis meses a um ano para conseguir engravidar, se a recanalização for bem sucedida", informa Aléssio Calil Mathias. Mas o sucesso da cirurgia, observa o médico, relaciona-se com vários outros fatores, tais como:
- o comprimento e a vitalidade dos segmentos de trompas a serem unidos;
- a habilidade do microcirurgião;
- a idade da mulher no momento da cirurgia para reversão;
- o método utilizado para laqueadura tubária;
- a quantidade de tecido de cicatrização na região da cirurgia;
- a qualidade do espermograma do parceiro;
- a presença de outros fatores de infertilidade.
Quando as trompas reconstituídas não recuperam sua função reprodutiva é possível recorrer ainda à fertilização in vitro ou à transferência de embriões. "A reversão da laqueadura tubária deve ser considerada como uma opção adequada na busca de novas gestações para mulheres mais jovens (<35 anos), sem qualquer outro fator de infertilidade além da laqueadura. As pacientes com mau prognóstico ou com idade mais avançada devem ser encaminhadas aos programas de fertilização in vitro. Tal posição é compartilhada por grandes centros de reprodução humana mundiais, onde ambos os procedimentos são igualmente oferecidos", defende o ginecologista (MW Consultoria de Comunicação-Saúde).