Segundo a Pesquisa de Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção de Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), divulgada em junho do ano passado, pelo Ministério da Saúde, a obesidade atinge cerca de 18,9% dos brasileiros e 54% estão com sobrepeso. Existem diversos fatores que podem levar ao aumento de peso, como o sedentarismo, genética, estresse e ansiedade. Muitas pessoas que apresentam problemas emocionais acabam descontando suas questões na comida.
"Como a gente lida com o alimento tem muito a ver como a gente lida com as coisas na nossa vida. Por exemplo, pessoas que têm dificuldades fortes com relacionamentos interpessoais e que possuem alguns traumas muitas vezes acabam compensando suas dificuldades com o processo prazeroso que o alimento proporciona e acaba gerando um ciclo vicioso negativo", esclarece a psicóloga Camila Acioly, professora da pós-graduação em Atuação psicológica em cirurgia bariátrica, da Faculdade IDE.
"A compulsão alimentar está associada a questões emocionais, as causas mais comuns são o sofrimento, o excesso, uma perda de uma pessoa querida, relação familiar desestruturada e dificuldade de se relacionar. Essas são dificuldades que todo mundo passa, só que alguns bebem, correm e outros comem para desopilar. A tendência é muito maior em descontar na comida, porque desde sempre a gente vincula a comida a coisas positivas na nossa história", exemplifica Camila.
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Por isso, quando uma pessoa que está acima do peso decide passar por uma cirurgia bariátrica é importante que um psicólogo seja solicitado para conhecer os seus hábitos alimentares, relação com a comida, estilo de vida e todos os traumas e vivencias que esse paciente já teve durante a sua vida. Então, profissional conseguirá traçar caminhos que ajude a pessoa a alcançar os seus objetivos com sucesso.
"O processo de pré-operatório é a etapa que chamamos de avaliação psicológica. Nela, o psicólogo procura sondar a motivação do paciente para as mudanças, a capacidade de lidar com situações de perda e diagnosticar alguma psicopatologia. Quando é encontrado um quadro de depressão e/ou compulsão alimentar, que são mais comuns, há necessidade de encaminhar ao psiquiatra", explica a psicóloga Eliane Ximenes, coordenadora e também professora da pós-graduação em Atuação psicológica em cirurgia bariátrica, da Faculdade IDE.
Após a intervenção cirúrgica, é muito importante que o paciente continue sendo assistido por um profissional para conseguir alcançar as suas metas pessoais e os resultados clínicos desejados. "Já no pós-operatório é preciso acompanhar essas mudanças com o paciente, fortalecê-lo no sentido de alcançar seus objetivos no tratamento e tratar as possíveis causas de recaída, caso existam", comenta Eliane.
Mas antes de tomar a decisão de passar pela bariátrica, é preciso estar ciente de todo o processo, pois existem algumas dificuldades que atingem algumas pessoas que estão caminhando para a cirurgia. "Ocorrem problemas quando, apesar das doenças associadas à obesidade, o paciente ainda não aceita bem ter que mudar suas rotinas, por isso, é preciso que ele esteja plenamente convencido de que essa é a terapêutica adequada para o seu caso e assumi-la como a sua forma de estar saudável. Enquanto ele não incorpora essa ideia, é melhor esperar. Outra dificuldade é a falta de apoio familiar, pois se a família não se envolve, é mais difícil mudar hábitos", esclarece Eliane.
Além do acompanhamento psicológico, essencial para casos em que o ganho de peso está associado a problemas psíquicos, é importante que se tenha uma equipe multidisciplinar acompanhando o paciente bariátrico. "A pessoa deve ter o cuidado de manter o acompanhamento multidisciplinar. Ele terá alta de alguns especialistas, porém deve permanecer em acompanhamento clínico pelo resto da vida para manter taxas de glicose, colesterol, triglicérides, vitaminas e sais minerais dentro dos níveis adequados", comenta Eliane.
Para a professora de pós-graduação em psicologia Camila Acioly, se a pessoa for acompanhada pela equipe multiprofissional formada por cirurgião, endócrino, psicólogo e nutricionista, a probabilidade de não alcançar suas metas é quase nula. "Se o paciente for acompanhado, vai conseguir seus objetivos, até porque são dois anos para poder finalizar o processo", finaliza.