Um ano após o governo estadual ter implantado a Rede de Saúde Bucal, o Paraná conseguiu uma série de avanços no setor. Os resultados já podem ser sentidos pela população e envolvem desde a ampliação da oferta de serviços, como o atendimento especializado a pessoas com deficiência; fortalecimento das equipes de saúde, por meio de programa de capacitação, e até a incorporação de novas tecnologias para melhorar o diagnóstico e tratamento de doenças, como o câncer bucal.
A rede também transformou o modelo de atenção adotado no Paraná. O objetivo é focar cada vez mais na assistência integral às demandas do paciente e não apenas em problemas pontuais. Isso só é possível graças à articulação dos diversos pontos de atenção existentes no Estado, como unidades de saúde, centros de especialidades e hospitais de referência, e reflete diretamente na resolução dos casos.
Atualmente, estima-se que 80% das demandas de saúde bucal possam ser atendidas exclusivamente na atenção primária, ou seja, nas unidades de saúde. O restante tem que ser encaminhado para os serviços de atenção secundária (centros de especialidades odontológicas) e para a atenção terciária (hospitais).
Leia mais:
Projeto de Londrina que oferece música como terapia para Alzheimer é selecionado em edital nacional
Unindo religião e ciência, casa católica passa a abrigar consultório psicológico gratuito na zona sul
'Secar' o corpo até o verão é possível, mas exige disciplina e acompanhamento
Ministério da Saúde inclui transtornos ligados ao trabalho na lista de notificação compulsória
De acordo com o secretário estadual da Saúde, Michele Caputo Neto, o lançamento da rede, em abril de 2014, foi a consolidação de um trabalho iniciado em 2011. "Durante três anos tivemos que estruturar toda a retaguarda de atendimento, investindo em municípios, consórcios intermunicipais de saúde e hospitais. Hoje, com tudo em ordem, podemos garantir que o paciente seja atendido mais perto de casa e em um serviço totalmente preparado", afirmou.
LINHA GUIA - Outra inovação introduzida em 2014 foi a elaboração de uma linha guia que padroniza as atividades dos profissionais e define claramente o fluxo de encaminhamento dos pacientes. O documento, disponibilizado às equipes de saúde bucal dos municípios, sistematiza o processo de trabalho e traz ainda uma ferramenta de estratificação de risco dos pacientes.
Levando em conta critérios odontológicos, biológicos, socioeconômicos e culturais, já na primeira consulta o paciente é estratificado como baixo risco, risco intermediário ou alto risco. Essa estratégia é pioneira no país e permite que profissional de saúde elabore um plano terapêutico adequado a cada caso.
Nos casos de baixo risco, o trabalho é voltado ao monitoramento e prevenção com no mínimo duas consultas por ano. Em risco intermediário, o acompanhamento é mais constante. O número mínimo de consultas varia de quatro a seis por ano. Já para os casos de alto risco, a atenção é ainda maior, e o indicado é que o paciente seja acompanhado quase que mensalmente.
Segundo o coordenador do Programa Estadual de Saúde Bucal, Léo Kriger, a linha guia esclarece as atribuições de cada ponto de atenção e destaca o papel da atenção primária no sucesso dos tratamentos. "Trata-se de um momento histórico para a odontologia pública paranaense. Pela primeira vez padronizamos as ações em todo o Estado e estamos caminhando para oferecer um cuidado integral ao paciente", disse.
PREVENÇÃO E DIAGNÓSTICO – Além disso, o incentivo às ações de promoção da saúde e prevenção de doenças é uma das marcas da Rede de Saúde Bucal. "Com uma atenção primária forte, é possível sensibilizar a população sobre a importância da manutenção de hábitos saudáveis. Também é mais fácil diagnosticar precocemente possíveis doenças, o que dá melhores condições de tratamento e cura do paciente", explicou.
Atualmente, o Estado investe R$ 300 mil por ano na prevenção do câncer de boca, por meio da destinação de três mil conjuntos de diagnósticos para as unidades de saúde. O teste rápido de rastreamento, implantado em 2013, é um método simples e eficaz que pode identificar lesões com indícios de câncer.
O Paraná também se destaca como um dos Estados com a maior cobertura de fluoretação das águas de abastecimento público. Dos 399 municípios, 383 (96%) têm este benefício.
Mais de 800 mil alunos de escolas públicas municipais e estaduais, com idade entre 6 e 15 anos, contam ainda com outra forma de prevenção da cárie, o bochecho com flúor. Implantada em 1982, no governo de José Richa, a iniciativa é uma referência nacional.
ATENÇÃO ESPECIAL – Nos últimos anos, o Estado também desenvolve diversas ações voltadas à saúde bucal de grupos específicos, como gestantes, bebês e pessoas com deficiência. Aliado à Rede Mãe Paranaense, a meta é oferecer pelo menos uma consulta de saúde bucal para todas as gestantes e crianças com até três anos de vida. "Até 2020 queremos que todas as crianças menores de 5 anos nascidas no Paraná estejam completamente livres da cárie", ressaltou o chefe do Departamento de Atenção às Condições Crônicas, Juliano Gevaerd.
Para pessoas com deficiência física e intelectual o avanço foi na ampliação dos serviços odontológicos sob anestesia geral. O Centro Hospitalar de Reabilitação, unidade do Governo do Estado em Curitiba, começou a oferecer tratamento odontológico para pacientes da capital, Região Metropolitana e Litoral, com a retaguarda de equipe multiprofissional, centro cirúrgico e anestesia geral.
São ofertados procedimentos clínicos, como extrações de dentes, restaurações e profilaxia dentária, mas que devem ser realizados em ambiente hospitalar por conta do perfil dos pacientes. Apesar do atendimento ser feito em centro cirúrgico, não é necessária a internação do paciente. A recuperação é rápida e a pessoa pode ser liberada no mesmo dia.
Para alcançar o público adulto, iniciativas como do município de Porto Vitória, na região Centro-Sul do Estado, devem ser destacadas. A equipe de odontologia ampliou o horário de atendimento e implantou um sistema de agendamento de consultas para facilitar o acesso da população ao serviço, que podem ser realizadas após as seis da tarde nos dias de semana ou até mesmo no sábado. Com isso, pessoas que antes não podiam comparecer a uma consulta por conta do horário de trabalho agora são beneficiadas.
CAPACITAÇÃO – Outros parceiros importantes na qualificação da Rede de Saúde Bucal são as Universidades Estaduais de Maringá, Londrina, Cascavel e Ponta Grossa. As instituições de ensino auxiliaram na formação e educação permanente de mais de 2,6 mil profissionais da área.
De 2013 para cá, cerca de 240 alunos participaram ou participam de três cursos ofertados através da Escola de Saúde Pública: Curso Auxiliar em Saúde Bucal, Curso Técnico em Saúde Bucal e Curso Técnico em Prótese Dentária. O Estado inclusive disponibiliza kits de equipamentos para que o trabalho seja desenvolvido da melhor forma nas unidades de saúde.
TELESSAÚDE - Para os próximos anos, o principal desafio é implantar a teleodontologia para melhorar o apoio diagnóstico das equipes de saúde bucal de todo o Estado. Câmeras intraorais já foram distribuídas nos municípios e facilitarão o acesso dos profissionais a uma segunda opinião sobre os casos atendidos. O apoio técnico ficará a cargo das Universidades Estaduais.