A cardiopatia reumática crônica, doença sem cura, que acomete cerca de 15 milhões de pessoas em todo o mundo, tem novas diretrizes internacionais para o diagnóstico, definidas pela Federação Mundial de Cardiologia. A principal ferramenta defendida é o doppler ecocardiograma, exame já oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que combina a imagem bidimensional do coração com a análise de fluxo sanguíneo do órgão.
Segundo a Federação, ele tem maior precisão diagnóstica do que a ausculta cardíaca, com o uso do estetoscópio.
Vinte e um pesquisadores de todo o mundo participaram da elaboração do documento com os novos critérios, publicados este ano na revista Nature Reviews Cardiology. A representante da América do Sul foi a cardiologista pediátrica Cleonice Mota, professora da Faculdade de Medicina da UFMG. Ela explica que a doença, caracterizada pela lesão das válvulas do coração, tem alguns sinais característicos na fase aguda, como o "sopro" cardíaco, lesões na pele, nas articulações e movimentos bruscos involuntários apresentados pelos doentes.
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O problema é que esses sintomas se confundem com outras doenças, o que pode levar ao chamado "diagnóstico abusivo". Com a intenção de impedir novos surtos, o médico indica a aplicação de injeções de antibióticos a cada três semanas, muitas vezes em pacientes que não precisariam ser submetidos ao tratamento. Por outro lado, existe o subdiagnóstico, já que algumas lesões cardíacas são "silenciosas". "Hoje, para cada paciente que conseguimos identificar a fase aguda da doença, existe um que fica sem identificação. Os novos critérios de diagnóstico são importantes especialmente para os casos não evidentes", avalia Cleonice Mota.
Prevenção
O diagnóstico precoce e a prevenção podem reduzir o número de casos graves e de mortes.
A cardiopatia reumática, que acomete crianças e indivíduos adultos, é a fase crônica de um problema que se manifesta ainda na infância, a febre reumática aguda. A causa é uma infecção na garganta, provocada pela bactéria estreptococo, que, se não for tratada adequadamente, pode evoluir para a lesão das válvulas do coração, especialmente em indivíduos com predisposição familiar.
A doença não tem cura: a pessoa acometida precisa de cuidados especiais ao longo de toda a vida,terá a produtividade afetada e, depois de algumas décadas, pode precisar ser submetida a uma cirurgia para trocar as válvulas cardíacas. Segundo Cleonice Mota, 35% das cirurgias cardíacas realizadas no Brasil são decorrentes de lesões provocadas pela febre reumática. Entre as cirurgias para a troca da válvula cardíaca, o percentual chega a 90%.
Prevalência
Estima-se que a prevalência de cardiopatia reumática crônica em escolares no Brasil varie de 1 a 7 casos por 1 mil. Nos países desenvolvidos, a prevalência da doença varia entre 0,1 e 0,4 casos/1.000 escolares. No Brasil, um dos poucos estudos foi realizado em 1992 pelo Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG, com 536 crianças e adolescentes da Escola Estadual Pedro II. O percentual de alunos com "sopro cardíaco não inocente" foi de 2,1%.