Cochilar no trabalho, perder o fio da meada durante uma conversa e repetir atos automáticos, sem consciência do que se está fazendo, podem ser sintomas de um distúrbio cada vez mais presente nos consultórios de neurologistas: a síndrome do sono insuficiente de origem comportamental, que atinge cerca de 20% da população.
O quadro, cujo principal sintoma é a sonolência excessiva durante o dia, tem a ver com a ansiedade, a depressão e o ritmo da vida moderna, aponta o neurologista Luís Sidônio Teixeira da Silva, de Londrina. Mais do que uma situação normal, é um problema que pode e deve ser tratado.
Além de causar a perda da produtividade, a sonolência excessiva durante o dia também coloca em risco a vida daqueles que dirigem, cuidam de crianças ou operam máquinas. O quadro foi um dos principais temas debatidos durante o 24º Congresso Brasileiro de Neurologia, que aconteceu no Rio, no mês passado.
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Um agropecuarista de 84 anos procurou o neurologista londrinense há cerca de oito anos. Ele tem dificuldade de dormir durante a noite e excesso de sono durante o dia. O paciente conta que já fazia alguns anos que roncava e sua mulher se assustava quando ele engasgava dormindo. ''Fico ouvindo zumbidos e acordo várias vezes, não consigo descansar direito e depois passo o dia todo com sono'', explicou. Segundo o médico, o paciente agora consegue dormir melhor.
De acordo com o médico, o paciente sofre com a apneia do sono, doença que está diretamente relacionada com a Síndrome do Sono Insuficiente e se caracteriza pela obstrução das vias respiratórias durante o sono. Além da apneia, outras doenças influenciam na qualidade do sono, como mal de Parkinson e epilepsia.
O neurologista alerta que Insuficiência do Sono é um problema crônico. ''Cerca de 90% das pessoas vão ter ou tiveram em algum momento de sua vida dificuldade para dormir'', relatou.
Ele complementa que os principais sintomas são dor de cabeça, dor nas costas, tontura, depressão, ansiedade e insônia. E pode desencadear problemas de memória, dificuldades de concentração e alterações de humor. Nas mulheres, é comum ocorrer depressão. Os homens se tornam mais agressivos e eufóricos. O médico esclarece que a síndrome é algo muito amplo e o tratamento é realizado por meio de medicamentos
Embriaguez
Em todo o mundo, entre 32% e 40% das pessoas relatam, em um ano, terem enfrentado dificuldade para dormir durante algum período. ''É possível enfrentar o problema melhorando a qualidade de vida. Tomando cuidados com a alimentação e praticando exercícios'', afirma o neurologista suíço Claudio Bassetti, presidente da Sociedade Europeia do Sono.
''O indivíduo tem de dormir o tempo que for preciso para se manter desperto e atento no dia seguinte. Na maioria dos casos, esse tempo varia de sete a dez horas por noite'', explica Bassetti.
Estudos apontam que o estado de uma pessoa que passou a noite sem dormir é comparável à embriaguez. Já há leis que punem as pessoas que expõem outras a risco por privação do sono. É o caso do estado de Nova Jersey, nos Estados Unidos, que pune com até dez anos de prisão o motorista que provoca o acidente depois de estar insone.
A lei, conhecida como Maggie's Law, foi aprovada após a morte da estudante Maggie McDonnell, de 20 anos, atropelada por um homem que havia trabalhado 30 horas consecutivas.