Nudez e pudor, hábitos de higiene, afrodisíacos, crendices, homossexualidade, prostituição, o surgimento da lingerie, a popularização do biquíni, remédios caseiros para aborto, bailes de carnaval e a revolução sexual. A partir de uma vasta pesquisa histórica sobre estes e outros temas, Mary del Priore traça a trajetória do sexo em nosso país em seu novo livro pela Editora Planeta, Histórias íntimas - Sexualidade e erotismo na história do Brasil (256 páginas, R$ 29,90).
Com uma narrativa leve e envolvente, a autora detalha as preferências, os hábitos e os costumes de cada época que resultaram em nossa sociedade contemporânea, vista por ela como ávida por sexo. "Se antes o sexo era proibido, hoje ele é obrigatório. Atualmente gozar tornou-se praticamente um dever das pessoas", acredita.
Mary questiona também o caráter do brasileiro, que em sua opinião apresenta uma dupla moral: "em casa somos racistas em segredo, mas na rua ou em grupo somos politicamente corretos. As agressões contra os homossexuais nas grandes cidades estão aí para comprovar".
Leia mais:
Projeto de Londrina que oferece música como terapia para Alzheimer é selecionado em edital nacional
Unindo religião e ciência, casa católica passa a abrigar consultório psicológico gratuito na zona sul
'Secar' o corpo até o verão é possível, mas exige disciplina e acompanhamento
Ministério da Saúde inclui transtornos ligados ao trabalho na lista de notificação compulsória
Curiosidades
Além de um livro rico em termos históricos, pesquisa rendeu diversos fatos e frases curiosas. Nos séculos XVII e XVIII, por exemplo, a mulher era vista pela Igreja como venenosa e traiçoeira, considerada uma das formas do mal sobre a terra, um "ninho de pecados". Por causa dos mistérios de sua fisiologia – fluxo menstrual, odores, líquido amniótico e outras secreções – seu corpo era apontado como impuro.
Mary destaca que o século XIX foi o do adultério e que o exemplo vinha de cima, ou seja, da família real, ilustrando casos de nobres personagens, como o insaciável D. Pedro I. Mas o adultério era "válido" apenas para os homens, já que às mulheres, submissas, cabia aguardar em casa seus maridos. Entre os "súditos", "fazia-se amor com a esposa quando se queria descendência; o resto do tempo era com a outra".
Finalmente, o século XX "descobriu" o corpo. Mary aponta que a multiplicação de ginásios e de professores de ginástica, o incentivo ao exercício, o trabalho nas ruas, a aceleração das cidades, tudo isso fez com que as mulheres abandonassem a simbólica couraça em que estavam até então, e que as protegia do desejo masculino, e passassem a se expor publicamente. O espartilho deu lugar à lingerie. Surgiram também os primeiros nus em teatros e os filmes e revistas eróticas, até que os anos 60 e 70 trouxeram o biquíni e a revolução sexual, enquanto os anos 90 e 2000 apresentaram as mulheres chefes de família.