Ortopedistas brasileiros estão usando com sucesso uma técnica que utiliza o plasma sanguíneo rico em plaquetas do próprio paciente para acelerar a cicatrização de lesões em tendões e músculos - especialmente em atletas, amadores ou profissionais.
Chamada de PRP, a técnica que utiliza o plasma rico em plaquetas ainda não é usada de maneira rotineira nos hospitais e nos centros de ortopedia, mas deve se tornar um consenso até o final deste ano.
Isso porque a Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (Sbot) já reuniu mais de 300 artigos científicos internacionais sobre a técnica para a redação de um documento que a descreve.
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O plasma rico em plaquetas é feito usando o sangue do próprio paciente. O médico coleta entre 30 ml e 50 ml do líquido, que depois é filtrado e centrifugado para separar as plaquetas das outras células.
As plaquetas são ricas em proteínas chamadas fatores de crescimento - que aceleram a cicatrização do tecido por causa do aporte de sangue.
Como as lesões de tendão demoram muito para cicatrizar - porque no local há pouca vascularização -, os médicos acreditam que a aplicação do PRP diretamente na lesão aceleraria esse processo.
Pesquisa. No Brasil, até agora foram feitos poucos estudos sobre esse tema - por isso, em muitos casos, a técnica ainda é considerada experimental. Um estudo acaba de ser concluído pelo ortopedista Adriano Marques de Almeida, do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas.
Durante seis meses, Almeida analisou a evolução cirúrgica de 27 atletas amadores que estavam com lesões de ligamento do joelho - um problema muito comum em atletas que praticam rúgbi, futebol, basquete, handebol, etc.
Na cirurgia tradicional, o médico retira um pedaço de enxerto do tendão do joelho e reconstrói o ligamento com problemas. Por causa da falta de aporte de sangue, o local de onde foi retirado o enxerto leva de um a dois anos para cicatrizar - e nem sempre cicatriza como um todo.
Na técnica do PRP, o médico aplica o gel com o plasma rico em plaquetas do próprio paciente no local de onde foi retirado o enxerto. Assim, a ideia é que o local seja irrigado e cicatrize de maneira mais rápida.
Resultados. Dos 27 atletas avaliados, 12 receberam plasma rico em plaquetas e 15 eram o grupo controle. Ao fim do período, o médico percebeu que a cicatrização dos pacientes tratados com PRP estava 50% maior que nos casos controle.
Além disso, segundo Almeida, no pós-operatório, os pacientes tratados com PRP relataram 3,8 pontos na escala de dor, enquanto a dor dos pacientes do grupo controle ficou em torno de 5,1.
"Não há efeito colateral, porque usamos sangue do próprio paciente. A cicatrização mais rápida diminuiu o tempo de recuperação e reduziu a dor do paciente. É possível que esses pacientes estejam totalmente cicatrizados em um ano", avalia Almeida. Ele afirma que a ideia é ampliar o uso dessa técnica e torná-la rotineira no Hospital das Clínicas.
Menos cirurgia. O uso do plasma rico em plaquetas também pode ser aplicado em alguns tipos de lesões para evitar que o paciente se submeta a um procedimento cirúrgico.
O ortopedista Rogério Teixeira da Silva, diretor da Sbot, foi um dos primeiros a usar e avaliar o método no Brasil. Ele também acaba de concluir um estudo sobre o uso de PRP em 78 atletas amadores que são jogadores de tênis. Todos eles sofriam de tendinite do cotovelo e tinham indicação de cirurgia. Para participar da pesquisa, o atleta precisava estar com a lesão havia pelo menos seis meses e ter tentado, sem sucesso, ao menos dois tipos de tratamentos.
Segundo Silva, o uso do PRP evitou que 74% dos pacientes precisassem ser operados. O plasma foi aplicado com uma injeção diretamente no local da lesão e a cicatrização ocorreu num prazo entre quatro e seis semanas. O retorno ao esporte aconteceu entre oito e dez semanas.
"Os resultados serão excepcionais, mas, infelizmente, ainda há muita resistência no Brasil sobre o uso da técnica", diz Silva.
Um outro empecilho no uso rotineiro da PRP, avalia Silva, é o custo do procedimento, que ainda não é coberto pelo SUS nem por planos de saúde - o que gera uma batalha jurídica em torno da cobertura.
"A aplicação custa em torno de R$ 1,5 mil. Meu objetivo é colocar essa técnica no SUS, porque quando é bem aplicada, ela reduz os custos, evita cirurgias e ainda promove uma recuperação mais acelerada."