O projeto paranaense que organiza o atendimento a pacientes com condições crônicas, como diabetes e hipertensão, está sendo expandido para mais nove regiões do Estado. A implantação do Modelo de Atenção às Condições Crônicas já trouxe resultados positivos para as regionais de saúde de Maringá e Toledo, que utilizam o modelo desde 2014.
"As condições crônicas são um dos maiores desafios do sistema público de saúde. Desenvolver uma metodologia que provoque mudanças efetivas nesses pacientes e que, ao mesmo tempo, seja ágil e resolutivo é o nosso foco. A experiência já demonstra bons efeitos, o necessário agora é expandir ainda mais", enfatiza o superintendente de atenção à saúde, Juliano Gevaerd.
Com o programa, os centros de especialidade deixam de oferecer consultas convencionais e passam a ofertar um atendimento multiprofissional. No local, o paciente, que chega por meio de encaminhamento dos serviços de atenção primária (unidades de saúde), passa por uma série de atendimentos e exames no mesmo dia.
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São médicos, enfermeiros, nutricionistas, assistentes sociais, fisioterapeutas, psicólogos e farmacêuticos que realizam o atendimento integrado para construir um plano de cuidado desenvolvido exclusivamente para aquela pessoa. Todas essas orientações deverão ser aplicadas pela equipe da unidade de saúde em um trabalho conjunto.
Estratificação
O Modelo de Atenção às Condições Crônicas também propõe a aplicação da estratificação de risco, que classifica os doentes crônicos em baixo, médio e alto risco. "Apenas as classificações de alto risco devem ser encaminhadas aos ambulatórios de especialidades de cada região. As outras classificações devem permanecer recebendo atendimento na atenção primária", explica a coordenadora do Núcleo de Apoio à Descentralização, Marise Dalcuche.
De acordo com o consultor de saúde pública, Eugênio Vilaça Mendes, que auxilia o Estado desde 2011, a sobrecarga em serviços de média complexidade, como consultas, exames e tratamentos especializados, não será resolvida apenas com o aumento da oferta – é necessária a concepção dessa nova forma de organização em rede.
"Em 2015 no Paraná, uma média de 35% dos pacientes de unidades de saúde foi encaminhada a serviços especializados. Não é muito comparado ao Brasil, que referencia mais de 50%, mas ainda é muito. Com a aplicação do Modelo na regional de Toledo, por exemplo, esse número caiu para 5% - demonstrando 95% de resolutividade na atenção primária", explica Mendes.
Com a apresentação desses números, o consultor mostra que não faltam consultas especializadas. "Se o Modelo for efetivamente expandido por todo o Estado, nossa expectativa é de não precisar mais das 5,2 milhões de consultas oferecidas em 2015, por exemplo, mas apenas de 750 mil – baseado na experiência da região de Toledo", detalha.
Para Mendes, com pacientes de condições crônicas de baixa complexidade atendidos integralmente na unidade de saúde, as filas nos centros de especialidades deixam de existir e os locais ficam sempre prontos para receber o paciente de alto risco, que não tem como esperar um longo período por um exame ou consulta.
Experiência
Os resultados também são evidentes na Regional de Saúde de Maringá – são quase 60% de controle de diabéticos e hiperglicêmicos. A média brasileira, mesmo no setor privado, é de 25%. O Consórcio Público Intermunicipal de Saúde do Setentrião Paranaense (CISAMUSEP) começou com o projeto-piloto em outubro de 2014.
Na primeira etapa, a rede assistencial foi estruturada com a articulação de duas unidades de saúde e um centro de especialidades. Pacientes de Maringá e Munhoz de Mello, na região norte do Estado, foram beneficiados. Em seguida, outras unidades de saúde foram incorporadas ao projeto, estendendo a mudança de conceito para as equipes de 21 unidades de atenção primária na região.
"Essas 21 unidades não têm mais filas para agendamento no Centro de Especialidades. Assim que estratificados como alto risco, esses pacientes são diretamente encaminhados para consulta especializada. A vaga já está ali, esperando por ele e ocupada por quem realmente precisa", comenta a gerente dos serviços de enfermagem do CISAMUSEP, Sylmara Paixão.
Implantação
A partir de agora, o Modelo também começa a ser aplicado pelos consórcios da 3ª Regional de Saúde (RS) - Ponta Grossa, 4ª RS - Irati, 5ª RS - Guarapuava, 11ª RS - Campo Mourão, 13ª RS - Cianorte, 14ª RS - Paranavaí, 17ª RS - Londrina, 19ª RS - Jacarezinho e 22ª RS - Ivaiporã.
A implantação do Modelo de Atenção às Condições Crônicas é uma das estratégias do ComSUS, programa estadual de apoio aos Consórcios Intermunicipais de Saúde, responsáveis pela administração dos centros de especialidades. Além de capacitação permanente, o Estado oferece ainda R$ 2 milhões para o custeio mensal dos serviços.